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Arca de Noé moderna aproxima ditaduras
Zimbábue vai mandar à Coreia do Norte carregamento com 12 animais
Negócio deve render no mínimo US$ 23 mil ao governo Mugabe; venda é criticada por ONGs ecológicas zimbabuanas
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A HARARE
Dois bebês elefantes, duas
girafas, duas zebras, dois
macacos, duas hienas, dois
chacais.
A lista de compras do ditador norte-coreano Kim Jong-il para o zoológico de Pyongyang foi apresentada a seu
colega ditador Robert Mugabe, do Zimbábue, no início
do ano. Negócio fechado, começaram os protestos.
"A Arca de Noé de Mugabe", como vem sendo chamada, renderá US$ 23 mil para o Zimbábue, segundo a informação oficial do governo.
Ou pelo menos o dobro disso,
de acordo com ONGs.
Mas o verdadeiro custo, segundo ambientalistas, é para
o frágil ecossistema do Zimbábue, já ameaçado pelo
crescimento desordenado de
fazendas.
"Não faz sentido tirar esses
animais de seu habitat, onde
poderiam ser vistos por turistas, e jogá-los num país de
clima frio como a Coreia do
Norte", diz Johny Rodrigues,
diretor da ONG local Zimbabwe Conservation Task Force.
Bobagem, diz o governo. A
exportação de animais selvagens para zoológicos ocorre
em diversos países africanos,
e o Zimbábue tem contratos
semelhantes com países como Espanha e Japão.
"Não é uma doação, é um
negócio que fazemos sempre
para arrecadar recursos para
a preservação ambiental no
país. A diferença é que nesse
caso a venda está sendo politizada", afirma Vitalis Chadenga, diretor-geral da Autoridade Zimbabuana de Parques e Vida Selvagem, estatal responsável pelo negócio.
ALIANÇA
Há motivos para a "politização". Zimbábue e Coreia
do Norte, além de integrarem
o clube das ditaduras, têm relações bastante próximas. A
começar por um memorial
em Harare em homenagem
aos heróis zimbabuanos,
projetado pelos norte-coreanos. De arquitetura tipicamente stalinista, com gigantescas estátuas douradas de
trabalhadores olhando para
o infinito, abrigará um dia o
mausoléu de Mugabe, 86.
Há aspectos mais sinistros
da parceria. Nos anos 80, o
Exército norte-coreano treinou a Quinta Brigada do
Exército zimbabuano, responsável pelo massacre de
20 mil pessoas no sul do país.
Segundo o governo do
Zimbábue, os norte-coreanos
deram garantias de que os
animais serão bem tratados.
Uma equipe viajou à capital,
Pyongyang, para checar as
instalações do zoológico.
Por enquanto, a arca de
Mugabe segue "estacionada". Até o fim do mês, os animais, já capturados, ficarão
em quarentena numa reserva
no oeste do país. Depois disso, no entanto, devem partir
-não de barco, como na Bíblia, mas de avião.
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