São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2011

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Eleição para líder do FMI é "viciada", afirma brasileiro

Representante do país no Fundo, Nogueira Batista diz que a concentração de voto deve favorecer francesa

Economista vê falta de diversidade em todos os níveis da instituição, em prejuízo de países emergentes como Brasil

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo do FMI para o Brasil e mais oito países da América Latina e Caribe, sabe que a favorita para liderar o Fundo é mesmo a ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, em uma eleição ainda em curso que considera "viciada".
Para ele, o problema com essa escolha vai muito além da frustração de emergentes que não conseguiram sacudir as convenções que garantem o posto mais alto da instituição a europeus.
"O cargo número um, o de diretor-gerente, é apenas a ponta de um iceberg", disse, em entrevista à Folha.
"A falta de diversidade [está] em todos os níveis do Fundo. Os países em desenvolvimento estão sub-representados na administração, nas chefias de departamento, nas posições de comando no corpo técnico."
Batista, que falou em caráter privado e não em nome do FMI, nega a visão de analistas de que a culpa pela preferência por Lagarde é da descoordenação dos emergentes, que não se uniriam em torno de candidato próprio.
Para ele, a questão é a concentração de poder.
"A União Europeia tem pouco menos de um terço dos votos; os EUA, 17%. Os dois somados têm quase metade. É essa concentração das quotas que permite sustentar a convenção."
O diretor-gerente é eleito pela diretoria-executiva por maioria simples dos votos ponderados. Batista diz que a eleição até agora não demonstrou nenhuma mudança em relação ao passado.
"Os europeus, muito pressionados pela sua crise, estão se agarrando a seus privilégios. A verdadeira mudança de representatividade virá com a redistribuição das quotas e do poder de voto."
"O primeiro passo", diz, "é acelerar a implementação da reforma de 2010 [quando houve redivisão nos votos]".
"O segundo, rever a fórmula de cálculo de quotas, que precisa refletir melhor o peso econômico relativo dos países membros. O terceiro é fazer a reforma seguinte até janeiro de 2014 e assegurar uma transferência de poder de votos expressiva para países em desenvolvimento."

SEM RETROCESSO
Batista diz que Lagarde ainda precisa explicitar melhor suas propostas.
O diretor-executivo afirmou que a proposta brasileira de que o candidato apenas termine o mandato do ex-diretor Dominique Strauss-Kahn, preso em Nova York acusado de tentativa de estupro, não decolou.
"Estamos discutindo essa ideia, mas por enquanto prevalece a opinião de que o próximo diretor-gerente tenha mandato de cinco anos."
"Não queremos que haja retrocesso", afirma, citando "diversidade de pensamento econômico, defesa de politicas anticíclicas, abertura para administração dos fluxos de capital, inclusive controles de capital".


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