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São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2003

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RELIGIÃO

Inédita no mundo, indicação no mês passado de Jeffrey John, assumidamente homossexual, dividiu a Igreja Anglicana

Reverendo gay desiste de assumir bispado

DA REDAÇÃO

O reverendo anglicano Jeffrey John, 50, primeiro religioso assumidamente homossexual a ser indicado para um bispado no mundo, anunciou ontem que desistiu de assumir o cargo. No mês passado, a escolha de John como bispo de Reading, cidade na região de Londres, provocou a revolta de membros conservadores da Igreja Anglicana.
Com o objetivo de encerrar a crise, John disse que tomou a decisão após discussões com o líder espiritual da igreja, o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams.
"Ficou claro para mim que, tendo em vista o prejuízo que a minha consagração poderia causar à união da Igreja, inclusive para a comunhão anglicana, devo procurar o consentimento da Coroa para retirar a aceitação da minha indicação", disse John, em carta ao bispo de Oxford, Richard Harries, cuja diocese inclui Reading.
Depois da recusa de John, o arcebispo Williams, líder dos cerca de 70 milhões de anglicanos espalhados pelo mundo, procurou explicar e reparar os problemas causados pela indicação do reverendo gay.
"A indicação de John trouxe à luz um grande grau de insatisfação de pessoas que de forma nenhuma podem ser descritas como extremistas", disse o arcebispo.
"Tanta insatisfação significa que há um problema óbvio na consagração de um bispo cujo ministério não seria prontamente aceito por uma proporção significativa dos cristãos na Inglaterra e em outros lugares", disse ele, que tradicionalmente apóia a nomeação de religiosos homossexuais.

Polêmica
O líder da Igreja na Nigéria, a maior congregação anglicana do mundo, havia ameaçado romper e se tornar uma dissidência por causa da polêmica em torno do homossexualismo. A nomeação do reverendo John também foi duramente criticada por um arcebispo australiano.
Antes da desistência, John havia dito que ele assumiria o posto e continuaria a manter um relacionamento com seu parceiro. Ele afirma que é celibatário, embora mantenha um relacionamento estável há 27 anos.
"É um dia triste para a Igreja da Inglaterra e para a comunidade anglicana", disse Richard Thomas, porta-voz do bispo de Oxford, em entrevista à radio BBC.
"Está claro que a pressão vinda do exterior e da comunhão anglicana como um todo tornou impossível que John continuasse", afirmou o porta-voz.
O arcebispo Williams, que publicamente apoiou homossexuais antes de assumir o posto máximo da Igreja Anglicana, disse que não viu nada de errado na indicação.

Nomeações anteriores
O jornal britânico "Sunday Times" publicou ontem reportagem em que o ex-arcebispo de Canterbury George Carey aparece afirmando que havia nomeado dois bispos gays nos anos 90, depois que eles lhe garantiram que eram celibatários.
Ontem, no entanto, o ex-líder anglicano negou a informação e disse que não teria aprovado a nomeação de um bispo homossexual praticante.
"Eu nunca ordenei propositalmente um homossexual praticante. Sou um tradicionalista e acredito que o sexo deva se restringir a casamentos heterossexuais monogâmicos", disse Carey, que liderou os anglicanos entre os anos de 1991 e 2002.
O documento "Temas da Sexualidade Humana", divulgado pela Igreja Anglicana em 1991, permite relacionamentos gays entre os seguidores, mas exige que sacerdotes homossexuais sejam celibatários.


Com agências internacionais


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