São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2008

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Bogotá acusa mediador suíço de laços com as Farc

Antes, governo disse que usou mediação para iludir Farc

DA REDAÇÃO

O ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, acusou o mediador suíço Jean Pierre Gontard -que negociava com as Farc com a anuência de Bogotá dias antes do resgate- de ter sido portador de US$ 500 mil que seriam da guerrilha apreendidos na Costa Rica, em março último.
"O único que digo é que esse senhor Gontard vai ter que explicar porque aparece nas mensagens de Raúl Reyes", disse Santos em entrevista publicada ontem pelo jornal colombiano "El Tiempo", pró-governo.
O ministro faz referência aos e-mails e textos supostamente encontrados nos computadores de Reyes, número dois das Farc, morto em março.
A Embaixada da Suíça divulgou nota ontem na qual cita a acusação de Santos e diz que o país já entregou a Bogotá, "no marco dos contatos diplomáticos", "seu ponto de vista sobre esses assuntos". O texto alude ao trabalho de Gontard para a resolução de um seqüestro de funcionários de uma multinacional pelas Farc, em 2000, que pode ter envolvido dinheiro.
A nota também explica que Gontard é um conselheiro externo do governo, mas não um diplomata suíço. E que seu trabalho como mediador de França, Suíça e Espanha -os países amigos autorizados a tentar um acordo com as Farc-, requer "certa independência". "Nem suas ações nem suas declarações comprometem necessariamente o governo."

Acusação e operação
A acusação a Gontard aparece dois dias após o ministro da Defesa ter dito que vazou informações à imprensa sobre a reunião dos emissários francês e suíço com a cúpula das Farc a fim de ajudar no enredo para supostamente enganar os guerrilheiros-carcereiros.
"Essa informação [a mediação], verídica, devíamos vazá-la [...] Se César [carcereiro dos reféns] ouvisse que esses senhores estavam com [Alfonso] Cano [novo líder das Farc], reafirmava um pouco a novela", disse Santos na sexta-feira.
Reportagem de ontem do jornal "El Tiempo" também cita que uma das tarefas de um infiltrado na guerrilha era convencer os carcereiros dos seqüestrados, semanas antes da ação, de que havia um contato com "uma organização humanitária de um dos países amigos europeus".
Em entrevista ao francês "Le Monde", Gontard diz que se encontrou com um emissário de Cano. Disse ainda que o deslocamento dos reféns "sugere que as Farc queriam encontrar uma solução humanitária".
O mediador francês, Noël Saéz, disse ontem que a reunião com um homem da guerrilha aconteceu a pedido de Cano no sábado, dia 28. Afirmou que os rebeldes haviam pedido "alguns dias" para responder. Por motivos de segurança, os emissários deixaram a área, a 400 km do local do resgate.
Na nota de ontem, a embaixada suíça não fez referência ao uso dos mediadores para enganar as Farc, citado por Santos. Diz que a mediação só ocorreu ao mesmo tempo da ação de resgate, que congratula, por "por pura coincidência".
As Farc ainda não deram sua versão sobre a operação. Mas a agência de notícias Anncol, ligada à guerrilha, questionou o papel dos países amigos, perguntando se a negociação era "de verdade ou um blefe".
O ministro Santos voltou a negar que os guerrilheiros presos na operação foram comprados ou que tenham negociado com a guerrilha.


Com agências internacionais


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