São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2011

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Reino Unido investiga grampos de jornal

Governo pede inquérito contra 'News of the World' após revelação de que violou caixa postal de vítimas de crimes

Tabloide, com a maior circulação do país, é de propriedade do magnata Murdoch; grampos vêm de 2005

Olivia Harris/Reuters
Mulher fala ao celular diante de prédio do jornal "News of the World", em Londres

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, teve de ceder à pressão da oposição e da opinião pública e anunciou que será aberto inquérito para investigar um escândalo de escutas telefônicas que envolve políticos, celebridades e um dos maiores magnatas do mundo das comunicações.
O caso começou em 2005, mas esquentou nesta semana com a divulgação de que repórteres do jornal "News of the World" não apenas acessavam as caixas postais dos telefones de celebridades, mas também as de vítimas de crimes e de familiares dos mortos no atentado terrorista de julho de 2005.
Fica cada vez mais claro que repórteres usavam as escutas ilegais como instrumento de trabalho em busca de informações exclusivas.
Um dos casos é o da menina Milly Dowler, que foi sequestrada em março de 2002, quando tinha 13 anos. Seu corpo só foi encontrado seis meses depois.
No período, um investigador contratado pelo "News of the World" acessou a caixa postal do telefone da estudante. Para deixar espaço para novas mensagens, ele apagou algumas, o que fez a família e a polícia pensarem que ainda estava viva.
O "NoftW" é o tabloide de maior circulação no Reino Unido. Vende 2,7 milhões de exemplares aos domingos.
Traz quase todas as semanas informações exclusivas sobre casos policiais ou infidelidades de celebridades.
É um dos títulos da News Corporation, empresa do australiano Rupert Murdoch, que também é dono do "The Times" e, nos EUA, do "Wall Street Journal" e da TV Fox.
Para Cameron, o caso é no mínimo incômodo.
Isso porque o editor do jornal na época áurea dos grampos, Andy Coulson, virou seu secretário de comunicação logo após ele ganhar a eleição para primeiro-ministro, em maio do ano passado.
Coulson deixou o cargo em janeiro, quando se avolumavam as denúncias que ele tinha autorizado as escutas.
A oposição diz que foi Coulson quem apresentou Murdoch a Cameron, o que teria feito os jornais do australiano apoiarem o então candidato.

PERDA DE ANÚNCIOS
A divulgação das novas escutas desencadeou uma campanha contra o "NoftW" na internet.
O movimento surtiu efeito, e grandes empresas, como a Ford e a Mitsubishi, cancelaram a publicação de anúncios no tabloide.
Também houve repercussão nos mercados, e as ações da News Corporation chegaram a cair 5% ao longo do dia em Nova York.
O temor não está na queda das receitas com publicidade do "NoftW", mas num negócio muito maior.
É que Murdoch negocia a compra dos 69% que ainda não tem da BSkyB, maior provedora de TV por assinatura do Reino Unido.
A compra precisa de aprovação do governo britânico, porque há o risco de monopólio na distribuição de informação no país. Com o escândalo, crescem as pressões por um veto.
Murdoch falou ontem pela primeira vez sobre o caso.
Disse que as escutas são "deploráveis e inaceitáveis" e que sua companhia está ajudando a polícia nas investigações.
A News Corporation tem negócios na Europa, nos EUA, na Ásia, na Austrália e na América Latina.
As receitas anuais do grupo alcançam US$ 33 bilhões (cerca de R$ 52 bilhões).


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