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OPINIÃO
Reação europeia às agências é justa, mas impotente e tardia
Irritação agora demonstrada deveria ter vindo muito antes, quando crise evidenciou avaliações enganosas
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
A reação europeia às recentes decisões das agências de avaliação de risco pode ser muito justa, inteiramente adequada, mas vem tarde demais e é impotente.
Ajuda-memória: ontem o ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schäuble, disse que queria "quebrar o oligopólio das agências de classificação de risco e limitar a sua influência" (três delas controlam 90% do mercado).
Perfeito. É mesmo o que se tem que fazer. Mas não custa lembrar que, logo que estourou a crise de 2008, sua chefe, a chanceler Angela Merkel, defendeu idêntica posição.
Três anos depois, o que acontece? "Os governos estão tentando governar, mas as agências de risco ainda mandam", como escreveram para o "Financial Times" dois ex-premiês, o italiano Giuliano Amato e o belga Guy Verhofstadt. Detalhe: ambos são moderados, pró-mercado, longe de qualquer corrente radical. Só não são cegos.
Deveria ter vindo muito antes a irritação agora demonstrada pelo presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, com o que considera "inadequação de comportamento" ao rebaixar a nota de Grécia e Portugal: foi igualmente inadequado o comportamento das agências quando deram, na véspera da crise, a melhor nota possível a empresas ou instituições financeiras que depois só não quebraram porque os governos correram a socorrê-las.
Tal comportamento deveria ter levado já naquele momento a quebrar a espinha e o poder de quem demonstrou não ter a mínima condição de fazer avaliações adequadas. Agora é tarde. Passado o auge da crise, as agências voltaram a ser "senhores do Universo". Aos governos, resta apenas o direito de espernear como fizeram ontem.
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