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São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

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RELIGIÃO

Anglicanos de diversas partes do mundo ameaçam romper com a igreja após a confirmação de Robinson nos EUA

Nomeação de bispo gay irrita conservadores

DA REDAÇÃO

Anglicanos de várias partes do mundo reagiram ontem duramente à confirmação de Gene Robinson, gay assumido, como bispo da denominação. A decisão de anteontem, por 62 votos a 45, do conselho de bispos da Igreja Episcopal dos EUA (nome da Igreja Anglicana no país) ameaça causar a cisão do anglicanismo dentro e fora dos EUA.
Ontem, durante a convenção anual dos episcopais em Minneapolis, os conservadores protestaram abandonando o encontro e conclamando os líderes do anglicanismo mundial a intervir na "emergência pastoral".
Alguns delegados entregaram as credenciais e viajaram de volta a suas cidades. Outros se recusaram a participar de sessões de votação. Um grupo chegou a se ajoelhar e rezar enquanto líderes criticavam a confirmação do primeiro bispo anglicano homossexual.
O número de manifestantes, no entanto, não ficou muito claro. Segundo o delegado Donald Armstrong, que entregou sua credencial, cerca de 100 de um total de mais de 800 delegados haviam feito o mesmo, mas o número de pessoas deixando a sessão principal de ontem foi bem menor.
Robinson, 56, que participa da convenção anual acompanhado de seu parceiro -com quem vive há 13 anos-, disse ontem que espera que outras igrejas também passem a aceitar clérigos homossexuais.
"Suponho que dentro de pouco tempo outras igrejas venham a receber abertamente homossexuais e lésbicas no seio de sua hierarquia", disse Robinson.

No mundo
A nomeação de Robinson sofre oposição principalmente de líderes conservadores na Ásia e na África, mas tem maior aceitação nos países ocidentais (leia sobre o Brasil nesta página).
Nos Estados Unidos existem aproximadamente 2,3 milhões de anglicanos; em todo o mundo, há cerca de 77 milhões de fiéis. Ontem, líderes na Austrália, na Ásia e na África criticaram a decisão da igreja americana e ameaçaram deixar a comunidade anglicana.
Na Austrália, o arcebispo Peter Jensen disse que Robinson não seria bem recebido em sua diocese e pediu que os oponentes nos Estados Unidos combatessem a decisão deixando de contribuir para os cofres da igreja.
A Igreja da Nigéria, que reúne 17,5 milhões de fiéis, divulgou uma nota afirmando que a confirmação de Robinson "trouxe muita tristeza e desapontamento".
A igreja nigeriana afirma que os episcopais americanos "viraram as costas para os claros ensinamentos da Bíblia sobre a sexualidade humana".
O arcebispo de Cantuária (Reino Unido), Rowan Williams, líder mundial dos anglicanos, já começou ontem a tentar evitar defecções. Ele disse que a nomeação de Robinson terá um "impacto significante", mas que é muito cedo para fazer previsões.
"É minha esperança que a igreja, nos EUA e no restante da comunidade anglicana, tenha a oportunidade de avaliar esse acontecimento antes de tomar decisões importantes e definitivas como resposta", disse Williams, em nota distribuída após a confirmação de Robinson.
Os moderados anglicanos argumentam que não há risco de o anglicanismo sofrer um cisão.
Eles costumam lembrar que houve o mesmo tipo de reação nos anos 70, quando houve a ordenação das primeiras mulheres, mas a ameaça de rompimento nunca se concretizou.


Com agências internacionais


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