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ARGENTINA
Presidente já se lançou em embates contra outras instituições de pouca credibilidade, como as Forças Armadas
Sistema carcerário é o novo alvo de Kirchner
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O governo do presidente argentino, Néstor Kirchner, retomou
mais uma vez a estratégia de "limpeza geral" nas instituições públicas que gozam de pouca credibilidade entre a população. Anteontem à noite, o ministro da Justiça,
Gustavo Béliz, destituiu 69 oficiais
que conduziam a cúpula do Sistema Penitenciário Federal.
Os afastados são policiais e diretores de presídios acusados de envolvimento com corrupção, desrespeito aos direitos humanos e ligação com o crime organizado.
Foi a maior "purga" realizada
desde 2000, quando o então presidente Fernando de la Rúa (1999-2001) afastou 112 guardas carcerários acusados de facilitar fugas.
A medida, segundo Béliz, é apenas o primeiro passo de uma profunda reforma que o governo pretende fazer no sistema carcerário.
"As prisões devem ser locais para a reinserção social, e isso não
tem acontecido", disse o secretário de Assuntos Penitenciários,
Pablo Lanusse. Os detalhes da reforma serão anunciados nos próximos dias, mas a prioridade será
reduzir os casos de violência e tortura contra presos, além de ampliar as oportunidades de reintegração social por meio da oferta
de cursos profissionalizantes.
A Procuradoria Penitenciária
Nacional recebe, todos os anos,
milhares de denúncias de violência policial dentro dos presídios.
A unidade líder em reclamações é
a de Ezeiza, a maior do país e que
concentra 42% de toda a população carcerária do Sistema Penitenciário Federal.
Os expurgos institucionais desta semana no sistema penitenciário não foram os primeiros do governo Kirchner. Com apenas uma
semana de mandato, ele renovou
o comando das Forças Armadas,
modificou a cúpula da Polícia Federal, iniciou uma ofensiva contra a Suprema Corte de Justiça e
anulou um decreto que impedia a
extradição de militares envolvidos com a ditadura militar. Todas
essas instituições gozam de pouca
credibilidade e popularidade.
Mas a atitude do novo presidente,
apesar de aplaudida por boa parte
das pessoas, tem sido alvo de críticas não só dos setores de direita
ou ligados aos militares.
O presidente da Suprema Corte,
Carlos Fayt, disse que o Supremo
"também tem a obrigação de governar" e que os ministros "não
aceitarão pressões". O comentário foi feito em resposta à ofensiva
de Kirchner para que a Corte declare inconstitucionais duas leis
de anistia assinadas durante o governo do ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989) que beneficiam militares envolvidos com a
última ditadura (1976-1983).
A Igreja também pediu calma
ao presidente. Em encontro com
Kirchner, o líder da Conferência
dos Bispos, Eduardo Mirás, disse
que o governo deve ter calma ao
tratar de temas delicados como a
extradição dos militares. "É preciso evitar cair no extremo da impunidade ou na vingança", afirmou Mirás após o seu primeiro
encontro com Kirchner desde a
posse, em 25 de maio.
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