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Guerra no Oriente Médio
Líbano rejeita o texto negociado na ONU
Embaixador libanês não aceita presença israelense no sul de seu país e quer que projeto de resolução seja modificado
Texto franco-americano só prevê trégua; cessar-fogo viria em segunda resolução;
Bush quer pressa, e Síria teme que guerra não acabe
DA REDAÇÃO
O governo do Líbano rejeitou
ontem o projeto de resolução
redigido no sábado pelos Estados Unidos e pela França, porque o texto a ser submetido ao
Conselho de Segurança da
ONU não obriga Israel a se retirar do território libanês.
O diplomata libanês Nouhad
Mahmoud encaminhou aos 15
integrantes do conselho emenda ao projeto que obrigaria os
soldados israelenses a se retirarem para detrás das linhas da
fronteira antes que as hostilidades sejam encerradas.
No sábado, Washington e Paris acreditavam que o texto poderia ser votado já no início da
semana. O governo libanês
também o contesta porque ele
não obriga Israel a respeitar um
cesar-fogo. Diz que o Exército
israelense pode ainda se defender das ameaças dos radicais
xiitas do Hizbollah.
O presidente do Parlamento
libanês, Nabih Berri, ele próprio um xiita, disse que "todos
os libaneses rejeitam qualquer
resolução que não inclua os sete pontos" definidos pelo governo de seu país. Entre esses
pontos está a necessidade de os
próprios libaneses decidirem o
que fazer com o Hizbollah, cenário rejeitado por Israel e, por
extensão, por Washington.
O governo do Líbano -apesar de seu poder institucional
relativo, na medida em que a
milícia radical xiita tem mais
poder de fogo que o Exército
regular- disse que o texto proposto ao Conselho de Segurança é "inaplicável".
Em Israel, diz a agência Reuters, um representante do governo fez sobre o projeto de resolução uma avaliação favorável, apesar de o primeiro-ministro, Ehud Olmert, ter recomendado ontem a seu gabinete
que não comentasse o texto antes de sua redação definitiva.
Em Paris, o ministro francês
dos Negócios Estrangeiros,
Philippe Douste-Blazy, disse
esperar que o apoio ao texto seja unânime e se dê o mais rapidamente possível. Ele afirmou
estar ciente das objeções libanesas. "Estamos examinando
essas objeções", disse ele.
Pelo cronograma a que EUA
e França chegaram, essa seria
uma primeira resolução, que
interromperia as hostilidades
iniciadas em 12 de julho. Uma
segunda resolução a ser votada
em duas semanas instituiria
um cessar-fogo e definiria o
mandato da força internacional
de paz que irá ocupar o sul do
Líbano, para impedir que o
Hizbollah mantenha suas bases
para ações contra Israel.
Um dos assessores da Casa
Branca disse que Washington
deseja a aprovação da segunda
resolução "em apenas alguns
dias", para apressar a chegada
dos capacetes azuis.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, disse
esperar uma rápida votação da
primeira resolução. Ela admitiu, no entanto, que tal roteiro
só funcionaria depois que a
poeira da violência baixasse.
A seu ver, o Conselho de Segurança deve criar condições
para que as forças regulares libanesas assumam o controle
militar de todo o país, neutralizando o poder do Hizbollah.
Em Beirute, onde se encontrava ontem, o ministro sírio
das Relações Exteriores, Walid
Moallem, disse que a resolução
esboçada por americanos e
franceses são "uma receita para
o prosseguimento da guerra".
Ele voltou a alertar Israel para que não ataque seu país. A Síria apóia o Hizbollah e permite
que seu território seja usado
para o trânsito de armas que o
grupo xiita recebe do Irã.
Em outra frente diplomática,
o presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversou ontem
por telefone com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair,
e disse ser urgente "uma imediata cessação das hostilidades". O porta-voz do Kremlin
disse que os dois governantes
concordaram em que a resolução do Conselho de Segurança
deve "dar ao Oriente Médio
condições para a retomada do
processo de paz".
"Todos nós estamos querendo que a resolução seja aprovada o mais rapidamente possível", disse em Londres o porta-voz do premiê britânico.
Ele também conversou ao telefone com o presidente George W. Bush, que está de férias
no Texas, e deveria também ligar ontem à noite ao presidente
francês, Jacques Chirac. Nessa
maratona de consultas, diplomatas britânicos disseram nada ter a declarar sobre as objeções libanesas ao texto.
Ainda em Moscou, o vice-ministro das Relações Exteriores,
Andrei Denisov, recebeu o embaixador iraniano, Gholamreza
Ansari, cujo país está também
diretamente envolvido. O embaixador entregou ao representante o Kremlin uma mensagem de seu governo, cujo teor
não foi revelado. O papel iraniano no conflito é capital.
Com agências internacionais
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