São Paulo, segunda-feira, 07 de agosto de 2006

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Guerra no Oriente Médio

Líbano rejeita o texto negociado na ONU

Embaixador libanês não aceita presença israelense no sul de seu país e quer que projeto de resolução seja modificado

Texto franco-americano só prevê trégua; cessar-fogo viria em segunda resolução; Bush quer pressa, e Síria teme que guerra não acabe

DA REDAÇÃO

O governo do Líbano rejeitou ontem o projeto de resolução redigido no sábado pelos Estados Unidos e pela França, porque o texto a ser submetido ao Conselho de Segurança da ONU não obriga Israel a se retirar do território libanês.
O diplomata libanês Nouhad Mahmoud encaminhou aos 15 integrantes do conselho emenda ao projeto que obrigaria os soldados israelenses a se retirarem para detrás das linhas da fronteira antes que as hostilidades sejam encerradas.
No sábado, Washington e Paris acreditavam que o texto poderia ser votado já no início da semana. O governo libanês também o contesta porque ele não obriga Israel a respeitar um cesar-fogo. Diz que o Exército israelense pode ainda se defender das ameaças dos radicais xiitas do Hizbollah.
O presidente do Parlamento libanês, Nabih Berri, ele próprio um xiita, disse que "todos os libaneses rejeitam qualquer resolução que não inclua os sete pontos" definidos pelo governo de seu país. Entre esses pontos está a necessidade de os próprios libaneses decidirem o que fazer com o Hizbollah, cenário rejeitado por Israel e, por extensão, por Washington.
O governo do Líbano -apesar de seu poder institucional relativo, na medida em que a milícia radical xiita tem mais poder de fogo que o Exército regular- disse que o texto proposto ao Conselho de Segurança é "inaplicável".
Em Israel, diz a agência Reuters, um representante do governo fez sobre o projeto de resolução uma avaliação favorável, apesar de o primeiro-ministro, Ehud Olmert, ter recomendado ontem a seu gabinete que não comentasse o texto antes de sua redação definitiva.
Em Paris, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Philippe Douste-Blazy, disse esperar que o apoio ao texto seja unânime e se dê o mais rapidamente possível. Ele afirmou estar ciente das objeções libanesas. "Estamos examinando essas objeções", disse ele.
Pelo cronograma a que EUA e França chegaram, essa seria uma primeira resolução, que interromperia as hostilidades iniciadas em 12 de julho. Uma segunda resolução a ser votada em duas semanas instituiria um cessar-fogo e definiria o mandato da força internacional de paz que irá ocupar o sul do Líbano, para impedir que o Hizbollah mantenha suas bases para ações contra Israel.
Um dos assessores da Casa Branca disse que Washington deseja a aprovação da segunda resolução "em apenas alguns dias", para apressar a chegada dos capacetes azuis.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, disse esperar uma rápida votação da primeira resolução. Ela admitiu, no entanto, que tal roteiro só funcionaria depois que a poeira da violência baixasse.
A seu ver, o Conselho de Segurança deve criar condições para que as forças regulares libanesas assumam o controle militar de todo o país, neutralizando o poder do Hizbollah.
Em Beirute, onde se encontrava ontem, o ministro sírio das Relações Exteriores, Walid Moallem, disse que a resolução esboçada por americanos e franceses são "uma receita para o prosseguimento da guerra".
Ele voltou a alertar Israel para que não ataque seu país. A Síria apóia o Hizbollah e permite que seu território seja usado para o trânsito de armas que o grupo xiita recebe do Irã.
Em outra frente diplomática, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversou ontem por telefone com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e disse ser urgente "uma imediata cessação das hostilidades". O porta-voz do Kremlin disse que os dois governantes concordaram em que a resolução do Conselho de Segurança deve "dar ao Oriente Médio condições para a retomada do processo de paz".
"Todos nós estamos querendo que a resolução seja aprovada o mais rapidamente possível", disse em Londres o porta-voz do premiê britânico.
Ele também conversou ao telefone com o presidente George W. Bush, que está de férias no Texas, e deveria também ligar ontem à noite ao presidente francês, Jacques Chirac. Nessa maratona de consultas, diplomatas britânicos disseram nada ter a declarar sobre as objeções libanesas ao texto.
Ainda em Moscou, o vice-ministro das Relações Exteriores, Andrei Denisov, recebeu o embaixador iraniano, Gholamreza Ansari, cujo país está também diretamente envolvido. O embaixador entregou ao representante o Kremlin uma mensagem de seu governo, cujo teor não foi revelado. O papel iraniano no conflito é capital.


Com agências internacionais


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