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Artigo
Possível abertura econômica é incógnita
JEAN-MICHEL CAROIT
E ERIC LESER
DO "LE MONDE", EM SANTO DOMINGO
Dirigentes de empresas européias, canadenses e latino-americanas que atuam em Cuba estão se perguntando, da
mesma forma que os potenciais
investidores do lado oposto do
estreito da Flórida, se a transição já começou. Será turbulenta, acarretando o risco de causar a fuga de turistas e capitais
estrangeiros? Ou tudo será
conduzido de maneira suave,
em direção a uma variante caribenha do "modelo chinês"?
A estabilidade da economia
cubana está estreitamente vinculada às escolhas políticas de
Fidel Castro, do Partido Comunista de Cuba e à atitude do
Exército, comandado por Raul
Castro, que controla dois terços
da economia do país.
No momento o governo afirma que nada mudará. Mas a situação atual está de tal maneira
ligada à vontade de um homem
que é difícil fazer previsões.
Duas questões afetam diretamente a economia da ilha: como evoluirão as relações com
os EUA e o que acontecerá à conexão estratégica entre Cuba e
a Venezuela de Hugo Chávez.
O embargo que os EUA mantêm desde 1962 contra Cuba só
pode ser suspenso por votação
do Congresso, e é pouco provável que isso aconteça caso Raul
Castro venha a suceder seu irmão em caráter duradouro,
ainda menos em um ano eleitoral no qual os exilados cubanos
têm importância crucial para a
eleição no Estado da Flórida
-governado por Jeb Bush, irmão do presidente.
Ainda que continue oficialmente em vigor, o embargo não
impediu os EUA de subirem ao
terceiro posto entre os exportadores à ilha, em 2005. As vendas de produtos alimentares e
farmacêuticos autorizadas "por
razões humanitárias" depois do
furacão Michelle, de 2001, explicam o paradoxo. Em cinco
anos, os EUA venderam mais
de US$ 1,2 bilhão em produtos
agrícolas, pagos em dinheiro,
em detrimento especialmente
de exportadores franceses.
As companhias petroleiras
dos EUA não ocultam seu interesse em prospectar as águas
cubanas, depois da descoberta
de um campo explorável a noroeste da ilha. Há cinco anos, a
relação com a Venezuela vem
renovando o fôlego da revolução. Em troca de cerca de 100
mil barris de petróleo venezuelano ao dia, Cuba forneceu cerca de 20 mil médicos, enfermeiros e técnicos de esportes.
Castro cancelou parte das
medidas de abertura econômica adotadas depois do colapso
do bloco soviético, consideradas males transitórios que
agravam as disparidades sociais. A "racionalização" da economia foi acompanhada por
uma desdolarização e pela redução no número de empresas
com capital estrangeiro.
De acordo com um recente
estudo do Centro de Estudos
sobre a Economia Cubana, o
número de empresas mistas
caiu de 403, em 2002, a 258, no
final de 2005. No quarto lugar
entre os investidores estrangeiros, bem atrás de Espanha, Canadá e Itália, a França está presente especialmente no turismo (Accor, Nouvelles Frontières, Fram-Voyages), na construção de hotéis (Bouygues), na
telecomunicação (Alcatel), na
energia e nos transportes.
Raul Castro herdou um forte
crescimento, graças aos acordos com a Venezuela e, em menor medida, com a China e o
Canadá. De acordo com as autoridades cubanas, a economia
cresceu 11,8% em 2005, puxada
pelo avanço no turismo e nas
exportações de níquel e serviços médicos.
"Qualquer que seja a evolução da situação política, acreditamos que as autoridades cubanas continuarão apoiando o setor turístico em razão dos importantes benefícios que ele
confere ao governo e à população", diz um executivo do grupo espanhol Barcelo, que mesmo assim teme eventuais "tensões políticas e sociais".
Na Flórida, as ambições para
a Cuba pós-Castro são grandes.
Autoridades portuárias sonham com uma Cuba aberta.
Para Richard Wainio, diretor
do porto de Tampa, "se Cuba
abrir seus portos, a primeira leva de navios levará assistência
humanitária. Mas depois irão
mais e mais barcos carregados
de tudo que é preciso para reconstruir o país".
Tradução de Paulo Migliacci
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