São Paulo, segunda-feira, 07 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Artigo

Possível abertura econômica é incógnita

JEAN-MICHEL CAROIT
E ERIC LESER
DO "LE MONDE", EM SANTO DOMINGO

Dirigentes de empresas européias, canadenses e latino-americanas que atuam em Cuba estão se perguntando, da mesma forma que os potenciais investidores do lado oposto do estreito da Flórida, se a transição já começou. Será turbulenta, acarretando o risco de causar a fuga de turistas e capitais estrangeiros? Ou tudo será conduzido de maneira suave, em direção a uma variante caribenha do "modelo chinês"?
A estabilidade da economia cubana está estreitamente vinculada às escolhas políticas de Fidel Castro, do Partido Comunista de Cuba e à atitude do Exército, comandado por Raul Castro, que controla dois terços da economia do país.
No momento o governo afirma que nada mudará. Mas a situação atual está de tal maneira ligada à vontade de um homem que é difícil fazer previsões. Duas questões afetam diretamente a economia da ilha: como evoluirão as relações com os EUA e o que acontecerá à conexão estratégica entre Cuba e a Venezuela de Hugo Chávez.
O embargo que os EUA mantêm desde 1962 contra Cuba só pode ser suspenso por votação do Congresso, e é pouco provável que isso aconteça caso Raul Castro venha a suceder seu irmão em caráter duradouro, ainda menos em um ano eleitoral no qual os exilados cubanos têm importância crucial para a eleição no Estado da Flórida -governado por Jeb Bush, irmão do presidente.
Ainda que continue oficialmente em vigor, o embargo não impediu os EUA de subirem ao terceiro posto entre os exportadores à ilha, em 2005. As vendas de produtos alimentares e farmacêuticos autorizadas "por razões humanitárias" depois do furacão Michelle, de 2001, explicam o paradoxo. Em cinco anos, os EUA venderam mais de US$ 1,2 bilhão em produtos agrícolas, pagos em dinheiro, em detrimento especialmente de exportadores franceses.
As companhias petroleiras dos EUA não ocultam seu interesse em prospectar as águas cubanas, depois da descoberta de um campo explorável a noroeste da ilha. Há cinco anos, a relação com a Venezuela vem renovando o fôlego da revolução. Em troca de cerca de 100 mil barris de petróleo venezuelano ao dia, Cuba forneceu cerca de 20 mil médicos, enfermeiros e técnicos de esportes.
Castro cancelou parte das medidas de abertura econômica adotadas depois do colapso do bloco soviético, consideradas males transitórios que agravam as disparidades sociais. A "racionalização" da economia foi acompanhada por uma desdolarização e pela redução no número de empresas com capital estrangeiro.
De acordo com um recente estudo do Centro de Estudos sobre a Economia Cubana, o número de empresas mistas caiu de 403, em 2002, a 258, no final de 2005. No quarto lugar entre os investidores estrangeiros, bem atrás de Espanha, Canadá e Itália, a França está presente especialmente no turismo (Accor, Nouvelles Frontières, Fram-Voyages), na construção de hotéis (Bouygues), na telecomunicação (Alcatel), na energia e nos transportes.
Raul Castro herdou um forte crescimento, graças aos acordos com a Venezuela e, em menor medida, com a China e o Canadá. De acordo com as autoridades cubanas, a economia cresceu 11,8% em 2005, puxada pelo avanço no turismo e nas exportações de níquel e serviços médicos.
"Qualquer que seja a evolução da situação política, acreditamos que as autoridades cubanas continuarão apoiando o setor turístico em razão dos importantes benefícios que ele confere ao governo e à população", diz um executivo do grupo espanhol Barcelo, que mesmo assim teme eventuais "tensões políticas e sociais".
Na Flórida, as ambições para a Cuba pós-Castro são grandes. Autoridades portuárias sonham com uma Cuba aberta. Para Richard Wainio, diretor do porto de Tampa, "se Cuba abrir seus portos, a primeira leva de navios levará assistência humanitária. Mas depois irão mais e mais barcos carregados de tudo que é preciso para reconstruir o país".


Tradução de Paulo Migliacci

Texto Anterior: Cuba busca tranqüilizar sobre saúde de Fidel
Próximo Texto: Argentina: Novela faz aparecer netos da ditadura
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.