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11/9 - CINCO ANOS DEPOIS
Bush admite existência de prisões secretas
Presidente anuncia transferência de suspeitos em poder da CIA para Guantánamo e pede criação de tribunais militares especiais
Para americano, detenções clandestinas denunciadas no ano passado são "cruciais"; Pentágono divulga novo manual
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON .
George W. Bush admitiu ontem a existência no exterior de
prisões secretas da CIA, a agência de inteligência norte-americana. Chegou mesmo a chamar de "crucial" a manutenção
do artifício, amplamente criticado pela comunidade internacional e por entidades de direitos civis. É a primeira vez que o
presidente norte-americano
reconhece tais prisões desde
que o jornal "The Washington
Post" revelou sua existência,
em novembro passado.
Em discurso na tarde de ontem na Casa Branca, Bush
anunciou ainda a transferência
de 14 suspeitos de pertencerem
à organização terrorista Al
Qaeda da custódia da CIA para
a prisão da base militar de
Guantánamo, em Cuba. Entre
eles, Khalid Sheikh Mohammed, que seria o autor intelectual do 11 de Setembro. Disse
também que enviaria ao Congresso proposta de legislação
para a criação de tribunais militares "especiais", nos quais os
suspeitos serão julgados.
Horas antes, o Pentágono divulgara seu novo manual de
conduta militar. Intitulado
"Human Intelligence Collector
Operations" ("operações do coletor de inteligência humana"),
proíbe que seus interrogadores
usem contra os prisioneiros,
entre outras táticas, surras, humilhações sexuais, ameaças
com cachorros, falsas execuções, afogamentos e nudez forçada. Permite, porém, que escondam ou mintam sobre sua
verdadeira identidade.
Recentemente, a Suprema
Corte do país decidiu que também os suspeitos de terem praticado atos de terrorismo detidos pelos EUA devem ser tratados segundo a Convenção de
Genebra sobre prisioneiros de
guerra. A posição do Pentágono
era a de que os artigos da convenção internacional seriam
respeitados como "política"
-mas não como "lei", pois os
"combatentes inimigos" não
estariam sob o comando de um
governo, mas de uma organização terrorista.
A proposta enviada pelo presidente ontem propõe a criação
de "comissões militares" que
julgarão tais suspeitos por crimes de guerra, mas mantém o
status destes como "detidos de
alto valor", rejeitando de novo
o conceito de "prisioneiros de
guerra". "Bush quer mudar as
regras do jogo para que ninguém de sua administração fique vulnerável a processos no
caso provável de o Congresso
trocar de comando", disse à Folha Juan Cole, professor de história da Universidade de Michigan e dono do blog liberal
Informed Comment.
De qualquer maneira, é pouco provável que este Congresso
aprove qualquer lei sobre o assunto até novembro, quando
será parcialmente renovado e
pode cair no controle da oposição. Tanto o discurso quanto as
medidas anunciadas ontem, no
entanto, fazem parte de nova
estratégia da Casa Branca. A tática, mais agressiva, é retomar o
mando do tema "guerra ao terror", que domina tanto o quinto
aniversário do ataque terrorista do 11 de Setembro quanto a
campanha de republicanos e
democratas para as eleições do
final do ano.
"Homens perigosos"
"Esses são homens perigosos
com conhecimento sem paralelo sobre as redes de terror e
seus planos de ataques", disse
Bush sobre os detidos. "A segurança de nosso país e as vidas de
nossos cidadãos dependem de
nossa habilidade de conhecer o
que estes terroristas sabem."
Ao defender a existência das
prisões clandestinas da CIA,
Bush disse que a agência continuaria a deter e interrogar prisioneiros, embora ninguém esteja atualmente sob custódia
do departamento, segundo o
presidente. Sobre as técnicas
de interrogatório, alvo maior
das críticas, ele as definiu como
"duras, seguras e necessárias".
O presidente referiu-se especificamente ao caso de Abu Zubaydah, ex-ajudante de Osama
bin Laden, cujo interrogatório
teria levado à prisão de Khalid
Sheikh Mohammed, que teria
levado à prisão de outros suspeitos de terrorismo. É a primeira vez que o presidente cita
casos específicos na defesa de
sua política, assim como entra
em detalhes sobre técnicas.
Durante seu discurso, de 36
minutos, o segundo da semana
sobre a guerra ao terror, o presidente foi interrompido quatro vezes por aplausos da platéia, que contava com parentes
de vítimas do 11 de Setembro. O
Departamento da Defesa foi citado duas vezes; seu titular, nenhuma. Ontem, democratas
iniciavam manobras para pedir
a cabeça de Donald Rumsfeld.
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