São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NOS EUA / 24 HORAS

Eleição alavanca canais de notícia

Jim Mahoney-28.ago.08/AssociatedPress
Democratas lotam estádio em Denver para acompanhar discurso de Barack Obama; pela TV, mais de 38 milhões de pessoas assistiram à fala, a maioria por canais pagos

Campeãs de audiência, emissoras fechadas apostam em posição política clara para garantir nichos do mercado

Guinada ao centro fez CNN recuperar liderança que era de conservadora Fox News; MSNBC sai pela esquerda e vê audiência aumentar 88%

SÉRGIO DÁVILA DE WASHINGTON

Um fato novo nas eleições presidenciais norte-americanas, o sucesso das emissoras fechadas noticiosas -que pela primeira vez bateram as redes abertas na transmissão das convenções partidárias-, vem obrigando essas empresas a se posicionarem ou reposicionarem ideologicamente. Mais do que convicção política, o motivo é fatia de mercado.
A liderança empurrou a CNN de volta ao centro, abrindo espaço para que a MSNBC investisse no público de esquerda, chamado nos EUA de "liberal", e consolidou a Fox News em seu nicho "conservador" -ou de direita. A estratégia dá certo: as três cresceram entre 85% e 88% em audiência entre a eleição de 2004 e a atual.
O rearranjo é embalado por sucessivos recordes quebrados durante as convenções dos dois partidos majoritários, que terminaram na quinta. Esses recordes, por sua vez, são fruto da atenção que essa eleição desperta no público norte-americano, pelo caráter inédito dos dois principais concorrentes e, agora, também pela escolha inusitada da vice republicana.
O discurso em que o democrata Barack Obama aceitou a indicação de sua agremiação, transmitido na quinta-feira retrasada, e o do republicano John McCain, há três dias, levaram mais gente à frente das TVs do que a abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim.
Foram mais de 38 milhões de pessoas, entre TV aberta e paga, o maior público para esse tipo de evento desde que o Nielsen começou a fazer a aferição, em 1960. Logo atrás dos dois vem o discurso de quarta-feira, quando a governadora do Alasca, Sarah Palin, aceitou sua indicação a vice. A maioria viu os três numa emissora paga.
Hoje, segundo levantamento de agosto do The Pew Research Center for The People and The Press, 39% dos norte-americanos que assistem TV dizem se informar pelas emissoras noticiosas fechadas, ante 29% que o fazem pelas abertas. Essa diferença é a maior desde que a entidade passou a publicar a medição, em 2002.
"Não só a audiência do noticiário da TV paga é maior do que a da TV aberta como também mais nova, mais instruída e com mais conhecimento sobre os eventos atuais", afirma o relatório bienal, divulgado no último dia 17 -o público alvo preferencial dos anunciantes nessa categoria são pessoas entre 24 anos e 55 anos.
O motivo é simples, disse à Folha Jack Shafer, analista de mídia da revista eletrônica "Slate": "É que essas emissoras põem no ar muito mais horas de cobertura". Fica cada vez mais claro que o telespectador médio não quer mais esperar o horário tradicional do telejornal aberto e prefere o fluxo constante de informações que a TV paga provê.

Viés mais claro
Diferentemente das emissoras abertas, também, o viés político é mais explícito nas noticiosas fechadas. Criada em 1980 pelo empresário Ted Turner e hoje propriedade da Time Warner, a CNN se viu obrigada a guinar à esquerda com a consolidação da era Bush, principalmente a partir do segundo mandato, em 2004.
Foi a época da ascensão da Fox News, alimentada pela prioridade das informações exclusivas dada pela administração Bush, aliada ao clima reinante no país logo após o 11 de Setembro. Em 2007, pela primeira vez, bateu a CNN em publicidade -US$ 460 milhões a US$ 434 milhões.
Fundada em 1996 por Roger Ailes, ex-assessor de Richard Nixon, Ronald Reagan e George Bush pai, e de propriedade do empresário de mídia australiano Rupert Murdoch, a Fox News começou por atrair os descontentes com os desvios éticos do presidente democrata Bill Clinton (1993-2001) e com o que os conservadores chamavam de "viés liberal da mídia".
Os sucessivos reveses de Bush, no entanto, marcadamente a Guerra do Iraque e a perda do controle do Congresso para os democratas em 2006, fizeram com que a CNN voltasse a liderar em audiência, posição que ocupa hoje em dia entre as noticiosas pagas, com 24% dos espectadores, ante 23% da Fox e 15% da MSNBC.
Fizeram também com que, nos últimos meses, a emissora iniciasse sua caminhada de volta ao centro. Até um novo slogan foi adotado: "No bull, no bias" (sem besteira nem parcialidade, em tradução livre), que se contrapõe ao "fair and balanced" (justo e equilibrado), da Fox News.
A MSNBC é o caso mais interessante e bem-sucedido, com um crescimento de 88% de audiência entre as duas eleições presidenciais. De propriedade da NBC (por sua vez da General Electric), no ar há 12 anos, a eterna terceira colocada resolveu investir no filão deixado aberto pela CNN e tenta virar a Fox News da esquerda.
O momento de "conversão" pode ser considerado o dia 3 de julho de 2007, quando um de seus âncoras, Keith Olbermann, fez um editorial de oito minutos em que criticava o governo Bush. Desde então, o jornalista virou o maior opositor da administração atualmente no ar, e a cada programa dedica um segmento para criticar um aspecto desse governo.
Ele termina as apresentações de seu "Countdown" dizendo quantos dias se passaram desde que Bush declarou o fim dos combates principais no Iraque, em 1º de maio de 2003, a bordo de um porta-aviões, diante de uma faixa com os dizeres "Missão Cumprida". Sua audiência dobrou em um ano.
Amanhã, a emissora estréia um novo programa, comandado por Rachel Maddow, que fez carreira como comentarista política na rede de emissoras de rádio de esquerda Air America. A jornalista de 34 anos, especialista em assuntos militares e lésbica assumida, vai concorrer com Larry King, na CNN, e "Hannity & Colmes", um dos sucessos da Fox, co-apresentado pelo ultraconservador Sean Hannity.


Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.