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Escritor advoga boicote cultural em assentamentos israelenses
Para A.B. Yehoshua, é errado "entreter" colonos na Cisjordânia
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Na semana passada, um
grupo de artistas israelenses
causou polêmica ao se recusar a participar de espetáculos num novo teatro no assentamento judaico de Ariel,
na Cisjordânia.
Ocorrido a poucos dias da
reabertura do processo de
paz com os palestinos, o gesto serviu para lembrar que,
apesar da aparente acomodação com o status quo em
Israel, a repulsa à ocupação
não vem só do exterior.
Em entrevista à Folha, A.
B. Yehoshua, um dos mais
importantes escritores de Israel, explicou que aderiu ao
boicote para não dar legitimidade aos assentamentos.
Folha - Por que o boicote?
A. B. Yehoshua - Apresentar-se em Ariel é dar legitimidade ao assentamento. Os artistas fizeram algo muito corajoso. Por que temos que ir a
uma comunidade que nem
sequer deveria ter sido construída e que atrapalha o processo de paz? Ariel não faz
parte do Estado de Israel.
O premiê Netanyahu afirma
que isso reforça o boicote que
Israel sofre...
O mundo considera que os
assentamentos não são legítimos e contrariam o direito
internacional, além de serem
um obstáculo à paz. Eu jamais participaria de um
evento literário lá. Para falar
de política iria, mas não para
entreter os colonos.
O manifesto dos intelectuais
deixou clara a divisão no país
sobre o tema?
A divisão já foi bem mais
séria. Há 20 anos, falar com a
OLP [Organização para a Libertação da Palestina] era
considerado uma traição,
além de ser contra a lei. Hoje,
se o governo assinar um
acordo para a criação do Estado palestino, a grande
maioria apoiará.
Pelo menos 70% da população israelense entende que
se não houver um Estado palestino a demografia imporá
o estabelecimento de um
país binacional.
Algumas pessoas se irritam com essa verdade e se
tornam mais direitistas.
Ainda mais que os palestinos [na Cisjordânia] se tornaram um parceiro equilibrado, que desenvolve sua economia e investe na segurança. Para muita gente, o fato
de que existe um parceiro no
lado palestino é uma realidade incômoda.
Pode-se dizer que há parceiro
no lado palestino quando o
Hamas continua a controlar a
faixa de Gaza e se nega a reconhecer Israel?
O que o Hamas pode fazer?
Ele já recebeu alguns duros
golpes militares de Israel e
está isolado, tanto pelo lado
israelense como pelo egípcio. Fala-se do Hamas como
se fosse o Irã, mas na verdade
seu poder é muito limitado.
Depois que houver um acordo, ou o Hamas se juntará ao
Estado palestino ou continuará isolado.
O Hamas tenta sabotar o
processo de paz o tempo todo, mas há cooperação em
termos de segurança entre israelenses e palestinos, e isso
continuará por muito tempo,
com altos e baixos. A paz é
um longo processo, que não
terminará amanhã. Mas é
preciso dar o primeiro passo.
O sr. acredita na seriedade do
premiê no processo de paz?
Não é possível ignorar a
realidade de que há um parceiro no lado palestino e uma
expectativa mundial de que
este conflito termine de uma
vez, além do apoio do mundo
árabe a uma solução negociada. Quem pode ser louco
de dispensar uma oportunidade como essa? Acho que
Netanyahu começa a negociação disposto a fazer concessões reais.
A questão é se elas incluirão Jerusalém e os assentamentos e se conseguirão superar o medo de provocar
uma guerra civil caso retire
os colonos da Cisjordânia.
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