São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2004

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MISSÃO NO HAITI

Capital vive mais um dia de protestos

Brasil faz ofensiva contra onda de violência em Porto Príncipe

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Sobrecarregada pelo excesso de problemas e pelo atraso na chegada do restante do contingente da ONU, a missão militar brasileira realizou ontem de madrugada sua primeira operação ofensiva no Haiti. O objetivo foi tentar deter a onda de violência iniciada há uma semana por partidários do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide na capital, Porto Príncipe, que deixou ao menos 19 mortos -alguns decapitados.
Após a operação, que transcorreu sem violência, manifestantes voltaram a queimar carros, lojas e pneus pelas ruas da capital.
A ação ocorreu na favela Bel Air, um reduto pró-Aristide, e envolveu cerca de 200 militares brasileiros, comandados pessoalmente pelo general Américo Salvador de Oliveira, 150 policiais haitianos e unidades da polícia da Minustah (Missão da ONU de Estabilização no Haiti), compostas por cingaleses, nepaleses e chineses. Dois helicópteros também foram usados.
A polícia haitiana prendeu 75 pessoas, mas nenhuma arma foi apreendida. Em entrevista à Folha, o general Salvador disse que o "fator-supresa da missão não foi bem-sucedido", já que um dos objetivos era desarmar a região. Ele suspeita de um possível vazamento da operação, mas também disse que a extensa área da favela dificultou a busca.
Logo após a operação, iniciada às 5h da manhã e que durou cerca de três horas e meia, os manifestantes promoveram atos de violência na região de Bel Air. Segundo a agência Associated Press, eles carregavam machados, garrafas e pedras e gritavam ameaças de decapitar estrangeiros da missão de paz da ONU e policiais haitianos.
Durante a tarde, a polícia haitiana acusou os partidários de Aristide de terem um plano para atacar o palácio presidencial.
Questionado por que os soldados brasileiros não ficaram mais tempo em Bel Air, o general Salvador disse que não podia deixar o efetivo ali porque prejudicaria outras ações. "Temos várias ações, como a proteção do Palácio Nacional e a proteção dos comboios para Gonaives."
O militar brasileiro voltou a reclamar do atraso da chegada do restante da missão da ONU: até agora, apenas 3.000 dos 6.000 militares previstos estão no Haiti (dos quais 1.200 brasileiros). Já a força policial tem apenas 450 dos cerca de 1.600 planejados.
Para o general Salvador, a violência está sendo promovida por "um pequeno grupo de mercenários" pagos por partidários de Aristide, que deixou o país em fevereiro.
O recrudescimento da violência dificulta o envio de ajuda humanitária a Gonaives, onde mais de 3.000 pessoas morreram após a passagem do furacão Jeanne.


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