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MISSÃO NO HAITI
Capital vive mais um dia de protestos
Brasil faz ofensiva contra onda de violência em Porto Príncipe
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Sobrecarregada pelo excesso de
problemas e pelo atraso na chegada do restante do contingente da
ONU, a missão militar brasileira
realizou ontem de madrugada sua
primeira operação ofensiva no
Haiti. O objetivo foi tentar deter a
onda de violência iniciada há uma
semana por partidários do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide
na capital, Porto Príncipe, que
deixou ao menos 19 mortos -alguns decapitados.
Após a operação, que transcorreu sem violência, manifestantes
voltaram a queimar carros, lojas e
pneus pelas ruas da capital.
A ação ocorreu na favela Bel Air,
um reduto pró-Aristide, e envolveu cerca de 200 militares brasileiros, comandados pessoalmente
pelo general Américo Salvador de
Oliveira, 150 policiais haitianos e
unidades da polícia da Minustah
(Missão da ONU de Estabilização
no Haiti), compostas por cingaleses, nepaleses e chineses. Dois helicópteros também foram usados.
A polícia haitiana prendeu 75
pessoas, mas nenhuma arma foi
apreendida. Em entrevista à Folha, o general Salvador disse que o
"fator-supresa da missão não foi
bem-sucedido", já que um dos
objetivos era desarmar a região.
Ele suspeita de um possível vazamento da operação, mas também
disse que a extensa área da favela
dificultou a busca.
Logo após a operação, iniciada
às 5h da manhã e que durou cerca
de três horas e meia, os manifestantes promoveram atos de violência na região de Bel Air. Segundo a agência Associated Press, eles
carregavam machados, garrafas e
pedras e gritavam ameaças de decapitar estrangeiros da missão de
paz da ONU e policiais haitianos.
Durante a tarde, a polícia haitiana acusou os partidários de Aristide de terem um plano para atacar o palácio presidencial.
Questionado por que os soldados brasileiros não ficaram mais
tempo em Bel Air, o general Salvador disse que não podia deixar
o efetivo ali porque prejudicaria
outras ações. "Temos várias
ações, como a proteção do Palácio
Nacional e a proteção dos comboios para Gonaives."
O militar brasileiro voltou a reclamar do atraso da chegada do
restante da missão da ONU: até
agora, apenas 3.000 dos 6.000 militares previstos estão no Haiti
(dos quais 1.200 brasileiros). Já a
força policial tem apenas 450 dos
cerca de 1.600 planejados.
Para o general Salvador, a violência está sendo promovida por
"um pequeno grupo de mercenários" pagos por partidários de
Aristide, que deixou o país em fevereiro.
O recrudescimento da violência
dificulta o envio de ajuda humanitária a Gonaives, onde mais de
3.000 pessoas morreram após a
passagem do furacão Jeanne.
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