São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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Estilo mina interesses dos EUA, diz analista

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O tom quase messiânico do discurso do presidente George W. Bush aumenta a distância já existente entre o mundo muçulmano e os EUA e prejudica os esforços americanos para obter apoio internacional a suas políticas.
A análise é de Kenneth Waltz, um dos maiores expoentes do planeta do estudo das relações internacionais e autor de, entre outros, "Theory of International Politics" (teoria da política internacional). Leia trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.

 

Folha - Como o sr. analisa o tom messiânico do discurso de Bush?
Kenneth Waltz -
Como boa parte de suas políticas, as afirmações de Bush foram absurdas. Afinal, elas deverão distanciar ainda mais o mundo muçulmano dos americanos. Na década passada, a idéia do choque das civilizações parecia absurda para a maioria dos acadêmicos sérios, porém ninguém esperava que os EUA fossem ter um presidente como Bush. E o pior é que ele tem carta-branca para aplicar suas políticas absurdas desde o 11 de Setembro.
Na cabeça dos atuais assessores do presidente dos EUA, o poder e os valores americanos estavam tão consolidados no mundo após o colapso do comunismo soviético que ninguém percebeu que isso tinha elo estreito com as políticas privilegiadas por Washington, sobretudo durante a transição capitaneada por Bill Clinton [presidente de 1993 a 2001]. Assim, em 2003, quando passamos a aplicar os ataques preventivos recomendados pela Doutrina Bush e invadimos o Iraque, não notamos que esse quadro estava mudando.
A diplomacia pública [que busca obter apoio popular no exterior a políticas nacionais] americana está perdida nos últimos anos, e o tom quase messiânico do presidente só faz minar os esforços dos responsáveis por sua concepção e por sua aplicação, pois é bem difícil apoiar políticas indefensáveis.

Folha - Quais são as maiores conseqüências dessa constatação?
Waltz -
Há várias, mas a principal é que se torna mais complexo para os EUA formar alianças internacionais em torno de seus objetivos, como vimos antes da Guerra do Iraque e observamos hoje em relação à guerra ao terror.
Nem nossos aliados tradicionais europeus, como a Alemanha e a França, conseguem manter um apoio incondicional aos americanos, visto que os EUA são malvistos por suas populações atualmente. E, num mundo cada vez mais globalizado, não poderemos nos manter como "cavaleiros solitários" por muito mais tempo.


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