São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / RETA FINAL

Campanha vive "Segunda-Feira de Lama"

Na véspera do segundo debate e a 29 dias do pleito, presidenciáveis americanos trocam acusações sobre caráter e baixam o nível

Em resposta a ataques, Obama põe na rede "filme" sobre escândalo dos anos 80 que envolveu McCain, que o chama de "perigoso"

Brian Snyder/Reuters
McCain faz comício em Albuquerque, no Novo México; candidatura republicana sofre com crise

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NASHVILLE (TENNESSEE)

A 29 dias das eleições presidenciais norte-americanas e na véspera do segundo debate entre os dois candidatos majoritários, em Nashville, no Tennessee, as campanhas do republicano John McCain e do democrata Barack Obama descalçaram as luvas e partiram para a luta-livre verbal, no que analistas batizaram de "Segunda-Feira de Lama".
Ao meio-dia, David Plouffe, coordenador de campanha de Obama, anunciava a entrada na internet do documentário "Os Cinco de Keating", sobre escândalo financeiro em que McCain se meteu em 1989, em seu primeiro mandato como senador (leia quadro nesta página). Era a resposta à escalada nos ataques negativos anunciada por um assessor do republicano no sábado e levada a cabo a partir do dia seguinte.
Naquele dia, Sarah Palin, a candidata a vice de McCain, acusou Obama de "andar por aí com terroristas", alusão ao fato de o democrata ter participado da diretoria de um grupo beneficente com Bill Ayers, ex-ativista do grupo esquerdista Weather Underground.
No filme-ataque, não só é relembrada a participação de McCain no escândalo em que cinco senadores tentaram influenciar órgãos federais a beneficiar o milionário Charles Keating, no auge da crise de poupança e crédito de então, como traçam-se paralelos entre aquele e o atual momento.

Medo do desconhecido
A tréplica veio na forma de um anúncio batizado "Dangerous" (perigoso), que mira o dito "fator X", o desconhecimento de muitos eleitores sobre a vida do democrata. "Quem é Barack Obama?", começa a locutora. "Ele diz que nossas tropas no Afeganistão estão [entra voz do candidato] "bombardeando vilarejos e matando civis". Que desonroso."
O filme cita ainda a possibilidade de o Partido Democrata vir a controlar dois Poderes no país e influenciar o terceiro. É que, além da Presidência, estão em jogo nas eleições de 4 de novembro a totalidade da Câmara e um terço do Senado, onde os democratas devem manter a maioria. Além disso, o próximo presidente pode vir a indicar pelo menos 1 -e até 3- dos 9 juizes da Suprema Corte.
A pergunta do anúncio seria repetida por McCain em comício do final do dia, em Albuquerque, no Novo México, um dos Estados indecisos em que o democrata lidera as pesquisas. "Tudo que as pessoas querem saber é: o que esse homem realmente realizou no governo? O que ele planeja para os EUA? Em resumo: quem é o verdadeiro Barack Obama?"
O tom dos ataques incendiou a blogosfera e contagiou colunistas. Para ficar num mesmo jornal, o "New York Times": no domingo, o progressista Frank Rich sugeriu que o republicano está perdendo as faculdades mentais, ao citar lapsos recentes do senador, depoimentos médicos e escrever que "agora, McCain está parecendo progressivamente instável".
Ontem, o colunista conservador William Kristol contra-atacaria, com uma entrevista com Palin em que ela sugere que, se McCain deixar, voltará a trazer à tona a ligação de Obama com o polêmico pastor de Chicago Jeremiah Wright. O texto termina com Palin dizendo que seu conselho a McCain no debate de hoje seria "tire as luvas" e com o colunista concluindo: ela sabe o que diz.
O pano de fundo da guerra de lama é a tentativa de McCain de mudar a narrativa final da campanha da crise econômica para uma disputa de personalidades. Pesquisas recentes mostram que, grosso modo, o eleitor culpa George W. Bush pela situação econômica, conecta o candidato republicano a seu companheiro de partido e vê Obama como mais bem preparado para lidar com o assunto.
A ação vem embalada pela queda do republicano nas pesquisas nacionais e, principalmente, em Estados-chave que devem definir as eleições.
Os ataques não são inéditos. Em 2004, John Kerry, o então candidato democrata, ex-soldado condecorado, foi alvo de campanha que questionava seu patriotismo no Vietnã. Aos ataques foi atribuída parte da derrota do senador para Bush. Muitos democratas criticaram seu partido por não rebater.
Desta vez, Obama indicou que o caminho será outro. Em entrevista a uma emissora de rádio ligada à CNN na tarde de ontem, disse: "O povo americano merece coisa melhor, mas, se John quer discutir nossas personalidades, estou disposto a levar essa discussão adiante".


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