São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Na era do comunismo, riscos ambientais eram desprezados

MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO

O derramamento de lama vermelha (ou lodo vermelho) na Hungria não chega a surpreender. Já ocorreu até no Brasil, em escala menor.
O resíduo típico da purificação de alumina -matéria- -prima para fabricar alumínio- a partir do minério bauxita costuma ser depositado em lagoas para que a água neutralize a soda cáustica do chamado processo Bayer.
Além da soda cáustica, que provoca queimaduras químicas, a lama contém metais como titânio e ferro (o óxido de ferro é responsável pela cor típica do rejeito). Mesmo cáustico, o efluente não é classificado entre os mais tóxicos.
A fábrica de alumina em Ajka, na qual ocorreu o desastre, funciona desde 1943. O setor de alumínio húngaro, que inclui a mina de Bakonyi, foi objeto de cobiça dos soviéticos, pois parte dele era propriedade de alemães.
Como operou durante todo o período comunista, é quase certo que funcionava sem grande consideração por riscos ambientais.
Essa era a regra entre burocratas do planejamento central da economia, que tinham olhos apenas para o volume da produção -uma cultura ainda muito encontrada entre desenvolvimentistas brasileiros.
Na antiga Alemanha Oriental, ficou famosa pela poluição a cidade de Bitterfeld, uma espécie de Cubatão no coração da Europa. Só depois da queda do Muro de Berlim, em 1989, teve início o saneamento do local.
No caso da lama vermelha da alumina, há soluções técnicas, como a deposição em camadas impermeabilizadas que a Alunorte realiza em Barcarena (PA), mas não imunes a riscos ambientais.
Um vazamento ocorreu em 2003, outro em 2009.
Em 27 de abril do ano passado, após 183 mm de chuvas em quatro dias, o depósito de rejeitos sólidos transbordou e a lama vermelha alcançou nascentes do rio Murucupi, matando peixes. O Ibama multou a Alunorte, do grupo Vale, em R$ 5 milhões.
Na Hungria, diferentemente do Pará, o derramamento atingiu áreas habitadas e causou uma tragédia. Mas a direção da empresa MAL usou o mesmo argumento para justificar-se, atribuindo o desastre a causas naturais (excesso de chuva). Em outras palavras, azar.
O Brasil também tem fábricas de alumina próximas de áreas urbanas, como em São Luís (MA) e Poços de Caldas (MG). Espera-se que a ausência de desastres seja resultado de precaução e engenharia, não da sorte.


Texto Anterior: Lama ameaça se espalhar pela Europa
Próximo Texto: Perfuradora chega a 100 m dos mineiros soterrados no Chile
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.