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ANÁLISE
Na era do comunismo, riscos ambientais eram desprezados
MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO
O derramamento de lama
vermelha (ou lodo vermelho)
na Hungria não chega a surpreender. Já ocorreu até no
Brasil, em escala menor.
O resíduo típico da purificação de alumina -matéria-
-prima para fabricar alumínio- a partir do minério bauxita costuma ser depositado
em lagoas para que a água
neutralize a soda cáustica do
chamado processo Bayer.
Além da soda cáustica,
que provoca queimaduras
químicas, a lama contém metais como titânio e ferro (o
óxido de ferro é responsável
pela cor típica do rejeito).
Mesmo cáustico, o efluente
não é classificado entre os
mais tóxicos.
A fábrica de alumina em
Ajka, na qual ocorreu o desastre, funciona desde 1943.
O setor de alumínio húngaro,
que inclui a mina de Bakonyi, foi objeto de cobiça dos
soviéticos, pois parte dele era
propriedade de alemães.
Como operou durante todo o período comunista, é
quase certo que funcionava
sem grande consideração
por riscos ambientais.
Essa era a regra entre burocratas do planejamento central da economia, que tinham olhos apenas para o
volume da produção -uma
cultura ainda muito encontrada entre desenvolvimentistas brasileiros.
Na antiga Alemanha
Oriental, ficou famosa pela
poluição a cidade de Bitterfeld, uma espécie de Cubatão
no coração da Europa. Só depois da queda do Muro de
Berlim, em 1989, teve início o
saneamento do local.
No caso da lama vermelha
da alumina, há soluções técnicas, como a deposição em
camadas impermeabilizadas
que a Alunorte realiza em
Barcarena (PA), mas não
imunes a riscos ambientais.
Um vazamento ocorreu
em 2003, outro em 2009.
Em 27 de abril do ano passado, após 183 mm de chuvas
em quatro dias, o depósito de
rejeitos sólidos transbordou
e a lama vermelha alcançou
nascentes do rio Murucupi,
matando peixes. O Ibama
multou a Alunorte, do grupo
Vale, em R$ 5 milhões.
Na Hungria, diferentemente do Pará, o derramamento atingiu áreas habitadas e causou uma tragédia.
Mas a direção da empresa
MAL usou o mesmo argumento para justificar-se, atribuindo o desastre a causas
naturais (excesso de chuva).
Em outras palavras, azar.
O Brasil também tem fábricas de alumina próximas de
áreas urbanas, como em São
Luís (MA) e Poços de Caldas
(MG). Espera-se que a ausência de desastres seja resultado de precaução e engenharia, não da sorte.
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