São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Brasil busca apoio político financiando etanol na África

País quer votos para ocupar em 2011 a direção-geral da FAO, órgão da ONU para a agricultura e a alimentação

Senegal será o primeiro beneficiado, seguido de Guiné-Bissau; projeto ajuda a tornar o álcool uma commodity global

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Diplomatas e técnicos brasileiros entregam hoje ao governo do Senegal sugestões de projetos de produção de biocombustíveis no país da costa ocidental africana.
É o oitavo estudo do tipo produzido sob o memorando de cooperação no setor assinado entre Brasil e EUA em 2007. O primeiro para a África -os demais foram feitos para países da América Central e do Caribe.
A iniciativa visa aumentar a penetração econômica e política do Brasil.
O Itamaraty já formalizou interesse em assumir a direção-geral da FAO (órgão da ONU para agricultura e alimentação), cargo que desde 1994 é ocupado pelo senegalês Jacques Diouf e que ficará vago no ano que vem.
Ter boas relações com países africanos no setor agrícola ajudaria a angariar votos para esse projeto.
Em longo prazo, argumentam os governos de Brasil e EUA, o programa contribuirá para tornar o álcool combustível uma commodity -um produto com normas internacionais homogêneas e consumidores e acesso a mercados assegurados.
A produção de álcool pelos africanos teria garantia de acesso livre aos mercados norte-americano, brasileiro e europeu.
"A gente acha que deve compartilhar essa tecnologia para impulsionar o desenvolvimento deles. É bondade? Mais ou menos, porque quanto mais produtor de etanol tiver, melhor", disse o embaixador André Amado, subsecretário-geral de Energia e Alta Tecnologia do Itamaraty.
Amado embarcou para Dacar (capital do Senegal) de Washington, onde discutiu com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) o financiamento da segunda etapa do programa em El Salvador e na República Dominicana, na América Central.
Brasil e EUA já investiram cerca de US$ 5 milhões no programa. No caso do Senegal, o estudo de viabilidade foi pago integralmente pelo governo brasileiro -custou R$ 700 mil.

BATEÇÃO DE PORTA
O documento sugere quatro projetos de biodiesel e um de álcool de cana. Foi feito, como os demais, pela FGV, com assessoria da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e do Pnuma (programa da ONU para o ambiente).
O processo é demorado. Depois que o país anfitrião decide quais projetos levar adiante, é feito o estudo detalhado, a um custo médio de US$ 2 milhões.
Na fase de implementação, o Brasil acredita que estará bem colocado para competir pela exportação de equipamentos e serviços (a construção das usinas).
"Começa então a bateção de porta. Os projetos têm que ser levados às agências de financiamento, incluindo o BNDES", disse Amado.
O próximo estudo africano será na Guiné-Bissau. Em um programa separado, com a União Europeia, será analisada a possível produção de biocombustíveis em Moçambique. A Vale do Rio Doce, que atua na extração de carvão moçambicano, deve ser a financiadora.
Á África é tida como nova fronteira econômica global, disputada por EUA, Europa, China e Índia.
Tem sido prioridade do governo Lula, que abriu 13 novas embaixadas (há agora representações permanentes do país em 35 dos 53 países africanos).
No jargão diplomático, o programa de biocombustíveis é parte da "cooperação econômica".
O Brasil já está presente em mais de 20 países africanos por meio da "cooperação técnica", que não envolve interesses econômicos diretos e consiste em assessoria e treinamento de pessoal local para projetos agrícolas, de saúde etc.
A Embrapa, que atua nesses projetos com a ABC (Agência Brasileira de Cooperação), tem pessoal permanente em Gana, Moçambique, Senegal e Mali.
Com a projeção do seu "poder brando", o Brasil espera obter apoio para as posições internacionais do país, incluindo numa eventual votação da ampliação do Conselho de Segurança da ONU.


Texto Anterior: Estados Unidos: Hillary pode ser vice de Obama, diz jornalista do "Washington Post"
Próximo Texto: Frase
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.