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Brasil busca apoio político financiando etanol na África
País quer votos para ocupar em 2011 a direção-geral da FAO, órgão da ONU para a agricultura e a alimentação
Senegal será o primeiro beneficiado, seguido de Guiné-Bissau; projeto ajuda a tornar o álcool uma commodity global
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
Diplomatas e técnicos brasileiros entregam hoje ao governo do Senegal sugestões
de projetos de produção de
biocombustíveis no país da
costa ocidental africana.
É o oitavo estudo do tipo
produzido sob o memorando
de cooperação no setor assinado entre Brasil e EUA em
2007. O primeiro para a África -os demais foram feitos
para países da América Central e do Caribe.
A iniciativa visa aumentar
a penetração econômica e
política do Brasil.
O Itamaraty já formalizou
interesse em assumir a direção-geral da FAO (órgão da
ONU para agricultura e alimentação), cargo que desde
1994 é ocupado pelo senegalês Jacques Diouf e que ficará
vago no ano que vem.
Ter boas relações com países africanos no setor agrícola ajudaria a angariar votos
para esse projeto.
Em longo prazo, argumentam os governos de Brasil e
EUA, o programa contribuirá
para tornar o álcool combustível uma commodity -um
produto com normas internacionais homogêneas e
consumidores e acesso a
mercados assegurados.
A produção de álcool pelos
africanos teria garantia de
acesso livre aos mercados
norte-americano, brasileiro e
europeu.
"A gente acha que deve
compartilhar essa tecnologia
para impulsionar o desenvolvimento deles. É bondade?
Mais ou menos, porque
quanto mais produtor de etanol tiver, melhor", disse o
embaixador André Amado,
subsecretário-geral de Energia e Alta Tecnologia do Itamaraty.
Amado embarcou para
Dacar (capital do Senegal) de
Washington, onde discutiu
com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)
o financiamento da segunda
etapa do programa em El Salvador e na República Dominicana, na América Central.
Brasil e EUA já investiram
cerca de US$ 5 milhões no
programa. No caso do Senegal, o estudo de viabilidade
foi pago integralmente pelo
governo brasileiro -custou
R$ 700 mil.
BATEÇÃO DE PORTA
O documento sugere quatro projetos de biodiesel e um
de álcool de cana. Foi feito,
como os demais, pela FGV,
com assessoria da Embrapa
(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e do
Pnuma (programa da ONU
para o ambiente).
O processo é demorado.
Depois que o país anfitrião
decide quais projetos levar
adiante, é feito o estudo detalhado, a um custo médio de
US$ 2 milhões.
Na fase de implementação, o Brasil acredita que estará bem colocado para competir pela exportação de
equipamentos e serviços (a
construção das usinas).
"Começa então a bateção
de porta. Os projetos têm que
ser levados às agências de financiamento, incluindo o
BNDES", disse Amado.
O próximo estudo africano
será na Guiné-Bissau. Em um
programa separado, com a
União Europeia, será analisada a possível produção de
biocombustíveis em Moçambique. A Vale do Rio Doce,
que atua na extração de carvão moçambicano, deve ser a
financiadora.
Á África é tida como nova
fronteira econômica global,
disputada por EUA, Europa,
China e Índia.
Tem sido prioridade do governo Lula, que abriu 13 novas embaixadas (há agora representações permanentes
do país em 35 dos 53 países
africanos).
No jargão diplomático, o
programa de biocombustíveis é parte da "cooperação
econômica".
O Brasil já está presente
em mais de 20 países africanos por meio da "cooperação
técnica", que não envolve interesses econômicos diretos
e consiste em assessoria e
treinamento de pessoal local
para projetos agrícolas, de
saúde etc.
A Embrapa, que atua nesses projetos com a ABC
(Agência Brasileira de Cooperação), tem pessoal permanente em Gana, Moçambique, Senegal e Mali.
Com a projeção do seu
"poder brando", o Brasil espera obter apoio para as posições internacionais do país,
incluindo numa eventual votação da ampliação do Conselho de Segurança da ONU.
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