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ANÁLISE
Economia ameaça ofuscar triunfo de Bush
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Embora não fosse candidato, o
grande vencedor das eleições gerais americanas foi o presidente
George W. Bush, porém o resultado não lhe assegura um governo
tranquilo nos próximos anos nem
sua reeleição -em 2004.
Especialistas ouvidos pela Folha
afirmaram que a estratégia dos republicanos (basear sua campanha
na política externa, não na interna) foi um sucesso. "Desde o fim
da Guerra do Vietnã, nos anos 70,
não havia tanta influência da política externa num pleito americano", disse Diana Owen, da Universidade de Georgetown (EUA).
Para Matthew Crenson, da Universidade Johns Hopkins (EUA),
é justamente em suas iniciativas
internacionais que Bush terá agora mais liberdade de ação. "Os democratas terão mais dificuldade
em opor-se à política externa de
Bush, pois, de certo modo, ela recebeu a aprovação popular. Vale
lembrar que Bush se empenhou
muito na campanha, apoiando
candidatos a cadeiras na Câmara,
o que outros presidentes raramente fizeram", avaliou Crenson.
De fato, os atentados de 11 de setembro de 2001 continuam a render dividendos políticos a Bush.
Assim, na campanha, os democratas, que, normalmente, se concentram mais em temas domésticos, não puderam correr o risco
de serem vistos como aqueles que
buscavam desviar a atenção dos
eleitores da "verdadeira ameaça"
que paira sobre os EUA: o perigo
representado pelo terrorismo.
Com isso, a atitude democrata
foi bastante confusa. Por um lado,
os oposicionistas se diziam contrários a uma eventual ofensiva
militar no Iraque, preconizada
por Bush. Por outro lado, eles não
se opuseram à resolução do Congresso que dava plenos poderes
ao presidente para atacar Bagdá.
"Os democratas não apresentaram propostas que atraíssem nem
sua base tradicional. E, apostando
na "cultura do medo" de novos
ataques terroristas, os republicanos puderam manter questões
domésticas afastadas do debate
político", avaliou Owen.
Todavia a vitória não dará liberdade total ao governo no que se
refere a assuntos internos. "Bush
conseguirá que seu corte de impostos não seja suspenso e que
sua política educacional seja
aprovada", analisou Crenson.
"Contudo não há indícios de
que temas mais delicados, como a
proibição do aborto, venham a fazer parte das prioridades da administração, visto que poderiam
gerar uma polarização prejudicial
aos republicanos. Além disso, esse é um tema que diz respeito ao
Judiciário, não ao Executivo."
Portanto, embora saia fortalecido do pleito, Bush não tem assegurada a reeleição. Afinal, um ano
depois, os atentados ainda estão
bem vivos na memória do eleitorado, o que não deverá ocorrer
daqui a dois anos se não houver
outro ataque terrorista aos EUA.
"O principal trunfo de Bush é a
falta de um adversário de peso.
Porém, em breve, questões domésticas voltarão à pauta, tornando previsões muito complexas. Se
a conjuntura econômica do país
piorar, será difícil para os republicanos evitar o tema na próxima
eleição", afirmou Crenson.
Há dez anos, George Bush, pai
do presidente, não foi reeleito por
conta dos problemas econômicos
do país -apesar da popularidade
obtida na Guerra do Golfo (1991).
À época, o slogan de campanha
do então candidato democrata à
Presidência, Bill Clinton, foi crucial: "É a economia, estúpido!".
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