São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2006

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ELEIÇÕES NOS EUA / LEGISLATIVO EM BAIXA

Congresso atual é considerado o pior

Legislatura que termina agora é reprovada por 66%, mas, por causa do sistema eleitoral, renovação deve ser pequena

Desde os anos 70, nove em dez deputados se reelegem; submissão ao presidente e corrupção são algumas das razões da impopularidade

DE WASHINGTON

Hoje, os norte-americanos encerram nas urnas o mandato do que pode vir a ser conhecido como o pior Congresso da história dos EUA. Pelo menos é o que dizem analistas, atividades registradas pelo próprio Legislativo e a opinião dos eleitores.
"O 109º Congresso é tão ruim que faz pensar se a democracia não é uma experiência que deu errado", afirmou Jonathan Turley, da Faculdade de Direito da Universidade George Washington. Para o especialista em direito constitucional, o problema principal é a corrupção, um toma-lá-dá-cá sem sutilezas como poucas vezes se viu antes no cenário local.
O descalabro seria tal que levou a ONG apartidária Cidadãos pela Responsabilidade e Ética em Washington (Crew, na sigla em inglês) a criar um ranking anual com o que considera "os 20 congressistas mais corruptos". "Os indicados na nossa lista escolheram enriquecer ajudados pelo poder que detêm em vez de trabalhar pelo bem comum", disse Melanie Sloan, diretora-executiva da ONG.
O marco zero do mar de lama atual, por assim dizer, foi o escândalo envolvendo o nome mais graduado entre os republicanos no Congresso, o ex-presidente da Câmara Tom DeLay, que renunciou ao posto ao ser acusado de lavagem de dinheiro e de receber presentes do lobista Jack Abramoff, hoje na cadeia (DeLay nega tudo).
Abramoff é a ponta do iceberg de uma legislatura na qual pelo menos sete políticos renunciaram ou passam por investigação sob acusação de corrupção ou escândalo sexual.
Instados por uma pesquisa da ABC News a classificar o nível de honestidade do atual Congresso entre "excelente", "bom", "não tão bom" e "ruim", 1% dos eleitores escolheu a primeira opção, ante 66% que cravaram as duas últimas.
Outros problemas são a inação e a extrema aquiescência diante do presidente (veja quadro nesta página).
O problema é que, democrata ou republicano, o 110º Congresso, que toma posse em 3 de janeiro, não deve ser tão diferente do atual. Desde os anos 70, o índice de reeleição da Câmara dos Representantes gira em torno dos 90% -ou seja, nove em cada dez congressistas são mantidos em seus cargos a cada dois anos. O Senado não ajudará, já que apenas 33 de suas cem cadeiras estão em jogo, e, nessas, o índice de renovação deve ser o mesmo, com de três a cinco novos nomes na próxima legislatura.
É o fenômeno da "estagnação congressional" e seria um dos motivos da perpetuação da corrupção, segundo David Mayhew, professor de sociologia de Yale. A estagnação sofre ajuda fundamental do sistema de voto distrital vigente nos EUA. Uma vez eleitos, os próprios congressistas se juntam para redefinir os seus distritos, e o fazem procurando agrupar num novo e mesmo distrito o maior número de eleitores que votaram neles ou em seu partido nas últimas eleições. Com isso, salvo caso de renúncia por escândalo ou vacância por morte, ser eleito para a Câmara é quase um emprego vitalício.
Ainda assim, a última década viu uma renovação pelo menos em relação aos conservadores de 1994, que iniciaram a chamada Revolução Republicana, liderada pelo então presidente da Câmara Newt Gingrich. Dos 73 deputados eleitos então, só 29 seguem na ativa; dos que deixaram o Congresso, quatro renunciaram em meio a escândalos e 36 não se reelegeram. (SÉRGIO DÁVILA)


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