São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bagdá aceita membros de ex-partido de Saddam

Medida é anunciada um dia depois da condenação do ex-ditador à forca

Decisão beneficia 8.800 membros do extinto Baath, expurgado do governo e do funcionalismo público após invasão americana em 2003

DA REDAÇÃO

Na tentativa de desarmar os ânimos da comunidade sunita, com segmentos inconformados pela condenação à morte de Saddam Hussein, a comissão encarregada de expurgar a administração pública de partidários da ditadura deposta anunciou ontem que flexibilizaria seus critérios para a recontratação de cerca de 8.800 sunitas.
A decisão partiu do primeiro-ministro, o xiita Nuri Maliki, e foi anunciada à Associated Press por Ali Lami, diretor da comissão de "desbaathificação" (Baath era o partido do ex-ditador) do Estado.
Maliki havia anunciado em junho um plano em 24 pontos para neutralizar a insurgência sunita. Na prática, dos 10.302 dirigentes do Baath demitidos, só cerca de 1.500 não poderão ser recontratados, por terem exercido funções militares ou de inteligência. A "desbaathificação" já havia sido em parte flexibilizada pelos americanos, que reintegraram ex-militares a suas patentes.

Toque de recolher
Os habitantes de Bagdá foram ontem autorizados a deixar suas casas e amanhã poderão circular com seus veículos, pondo fim ao toque de recolher decretado no sábado, na previsão de protestos sunitas ou manifestações de regozijo entre xiitas e curdos com o veredicto anunciado domingo.
Fora da capital, ocorreram manifestações de apoio ao ex-ditador em bastiões sunitas como Falluja e Samarra. Dois manifestantes pró-Saddam foram mortos pela polícia em Bazuba, enquanto três militares americanos morreram na Província de Anbar e dois outros na queda de um helicóptero ao norte de Bagdá, sem que esteja claro se as vítimas americanas têm ligação com a condenação de Saddam à forca.
Itália, França e Alemanha, mesmo reconhecendo os crimes hediondos da ditadura, disseram se opor à pena de morte e pediram que Saddam não seja enforcado. Por Roma falou o primeiro-ministro, Romano Prodi; por Paris, o chefe da diplomacia local, Philippe Douste-Blazy; e, por Berlim, a chanceler, Angela Merkel.
O governo britânico, que no domingo distribuiu nota de apoio à sentença de morte, recuou ontem por meio do primeiro-ministro Tony Blair. Ele afirmou que seu governo se opõe à pena capital, mesmo reconhecendo a "brutalidade" dos atos do ex-ditador.

Recursos
Continuavam contraditórias as informações sobre o cronograma de tramitação dos recursos que os advogados da defesa encaminharão, ou mesmo se a pena de morte poderá ser comutada em prisão perpétua.
A Associated Press cita o procurador Jaafar Moussawi, para quem todos os procedimentos estarão concluídos no final de janeiro. A agência também informa que existe um acordo fechado há seis meses pelo presidente Jalal Talabani e pelos dois vice-presidentes, Tariz Hashimi e Adil Abdul-Mahdi, para que a execução de Saddam seja promulgada.
O curdo Talabani é contra a pena de morte. Mas Hashimi, um sunita, comprometeu-se a assiná-la, em reunião da qual participou, segundo a agência, o embaixador americano em Bagdá, Zalmay Khalilzad.
Outra agência, a Reuters, afirma haver indefinição quanto aos procedimentos processuais. Diz que os nove juízes da Corte de Apelação podem demorar meses para confirmarem a sentença ou para transformá-la em prisão perpétua.
Nesse caso, Saddam -condenado pela morte de 148 xiitas, em 1982, em Dujail (onde fora alvo de um atentado)- poderá receber nova pena capital em um julgamento paralelo pela morte de dezenas de milhares de curdos no fim dos anos 80.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Bush usa condenação de Saddam na reta final
Próximo Texto: Artigo: Outro "grande dia" para o Iraque
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.