São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2010

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Cidade onde distúrbios tiveram início era local hostil aos de fora

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Durante uma semana em 2005, ao cobrir para a Folha os conflitos sociais na França, percorri os subúrbios de Paris entrevistando alguns protagonistas da crise.
Eram garotos de 14 a 20 anos, que descreviam como produzir os coquetéis molotov que destruíram ao todo quase 10 mil carros. "Você pega uma garrafa de cerveja vazia, enche de gasolina, acende e atira."
Hospedei-me num hotel barato de Clichy-sous-Bois, onde tudo começou. Era a única forma de conhecer o lugar: quando escurecia na periferia, quem vinha de fora não entrava e era mais difícil sair -ônibus e táxis pararam de circular à noite.
Clichy era hostil a jornalistas. Fui xingado e questionado em tom de ameaça, no mesmo dia em que um colega polonês foi agredido com barra de ferro.
Mas o inimigo número um daqueles adolescentes era outro: "Sarkô".
Saltava aos olhos o ódio que os incendiários, em sua maioria filhos de imigrantes magrebinos, nutriam pelo então ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, o homem que à época os chamou de "ralé" e que mais tarde se tornaria presidente.
É sintomático, pois, que, por motivos outros, o mandatário francês vá caindo em desgraça na opinião pública da França.
E que as imagens da nova crise sejam, mais uma vez, de carros pegando fogo.


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