|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Cidade onde distúrbios tiveram início era local hostil aos de fora
FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO
Durante uma semana em
2005, ao cobrir para a Folha
os conflitos sociais na França, percorri os subúrbios de
Paris entrevistando alguns
protagonistas da crise.
Eram garotos de 14 a 20
anos, que descreviam como
produzir os coquetéis molotov que destruíram ao todo
quase 10 mil carros. "Você
pega uma garrafa de cerveja
vazia, enche de gasolina,
acende e atira."
Hospedei-me num hotel
barato de Clichy-sous-Bois,
onde tudo começou. Era a
única forma de conhecer o
lugar: quando escurecia na
periferia, quem vinha de fora
não entrava e era mais difícil
sair -ônibus e táxis pararam
de circular à noite.
Clichy era hostil a jornalistas. Fui xingado e questionado em tom de ameaça, no
mesmo dia em que um colega polonês foi agredido com
barra de ferro.
Mas o inimigo número um
daqueles adolescentes era
outro: "Sarkô".
Saltava aos olhos o ódio
que os incendiários, em sua
maioria filhos de imigrantes
magrebinos, nutriam pelo
então ministro do Interior,
Nicolas Sarkozy, o homem
que à época os chamou de
"ralé" e que mais tarde se tornaria presidente.
É sintomático, pois, que,
por motivos outros, o mandatário francês vá caindo em
desgraça na opinião pública
da França.
E que as imagens da nova
crise sejam, mais uma vez, de
carros pegando fogo.
Texto Anterior: Desigualdade só aumenta, diz rapper Próximo Texto: Luiz Carlos Bresser-Pereira: Dois males afinal evitados Índice | Comunicar Erros
|