|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
"Guerra fria com o Irã pode durar anos"
Para analista Mark Fitzpatrick, se sanções e sabotagem não impedirem Teerã de chegar à bomba, Israel atacará
Especialista de instituto diz que entendimento implicaria reconhecer
o direito dos iranianos de enriquecer urânio
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
Um acordo sobre o programa nuclear do Irã é pouco
provável, e o Ocidente deve
manter uma política de "contenção", incluindo sanções
comerciais e sabotagem industrial, destinada a impedir
que o país obtenha material e
capacidade técnica necessários para produzir a bomba.
"Vamos ter uma guerra
fria com o Irã que pode durar
anos, até que, como a União
Soviética, o sistema iraniano
vai desabar", disse Mark Fitzpatrick, diretor do programa
de não proliferação do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres.
Segundo o americano, que
trabalhou por 26 anos no Departamento de Estado dos
EUA, é preciso convencer Israel, única potência nuclear
do Oriente Médio, de que a
contenção funciona.
Caso contrário, pode haver
guerra em um ano e meio, no
máximo. "Se o Irã se mantiver no rumo atual, vai cruzar
a "linha vermelha" de Israel."
Ele esteve na última semana no Rio, para a conferência
de defesa da Fundação Konrad Adenauer, ligada à Democracia Cristã alemã.
O americano afirmou estar
convencido de que o Irã pretende ir ao limiar da bomba,
adquirindo a capacidade de
fabricá-la em pouco tempo
-o que legalmente pode fazer sob o TNP (Tratado de
Não Proliferação Nuclear).
Mas ele crê que o país persa ainda não decidiu se fará
como a Coreia do Norte, que
saiu do tratado para testar
seu artefato. Essa seria uma
"linha vermelha" óbvia, disse. Mas um passo menor já
pode levar à guerra.
"Hoje os iranianos têm o
equivalente [em urânio pouco enriquecido] a duas bombas, caso aumentem o enriquecimento. Se em um ano
tiverem o equivalente a quatro, pode ser que Israel já
considere demais."
A previsão é que após o dia
10 deste mês recomecem as
negociações entre Teerã e o
P5+1 (potências do Conselho
de Segurança da ONU mais a
Alemanha), mas não há data.
A base do diálogo seria a
troca de urânio enriquecido
iraniano por combustível para reatores -a mesma do
acordo mediado em maio por
Brasil e Turquia, quando a
quantidade envolvida não
satisfez o P5+1.
Para Fitzpatrick, um acordo possível implicaria no reconhecimento do direito do
Irã de manter "algum" enriquecimento -a suspensão é
exigida por resoluções do
Conselho de Segurança.
Em troca, Teerã não faria
estoques -trocaria o material por combustível de fora-
e implementaria o Protocolo
Adicional do TNP, autorizando inspeções mais intrusivas
em seu projeto atômico.
O problema, diz, é que de
um lado os EUA estão "divididos" sobre reconhecer o direito iraniano, o que implicaria na revogação de parte das
sanções unilaterais aprovadas pelo Congresso. Do outro, o Irã não parece disposto
a desistir da opção nuclear.
"O Irã já disse que não concordará em enviar mais do
que está no acordo de maio
[1,2 tonelada, contra estimadas 2,5 do estoque atuais]."
BRASIL E TURQUIA
No Rio, Fitzpatrick informou-se sobre o programa nuclear brasileiro. Reuniu-se
com o presidente da Abacc
(Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares),
Odilon do Canto, e disse ter
entendido a "relevância" da
agência para dar segurança
sobre o caráter pacífico das
instalações atômicas.
"Dito isso, há um sentimento de que o Brasil possa
querer manter suas opções
em aberto para o futuro, e
não posso deixar de pensar
que uma das razões para não
assinar o Protocolo Adicional
[do TNP] é essa."
Para o americano, a perspectiva de que mais países
construam usinas de energia
atômica "em si não aumenta
o risco de proliferação". Mas
ele defende ser preciso evitar
novos programas de enriquecimento de urânio e reprocessamento de plutônio.
Texto Anterior: Luiz Carlos Bresser-Pereira: Dois males afinal evitados Próximo Texto: Papa pede que Europa reforce as "raízes cristãs" Índice | Comunicar Erros
|