São Paulo, Terça-feira, 07 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMÉRICA LATINA
Departamento de Estado colocará na Internet informações sobre repressão de regimes militares
EUA divulgam dados sobre ditaduras

LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre

O Departamento de Estado norte-americano vai tornar públicos no ano que vem, via Internet, documentos que possui a respeito dos regimes militares existentes na América Latina durante os anos 70 e 80, inclusive os do Brasil e da Argentina.
As informações sobre a Operação Condor -intercâmbio entre os aparatos de repressão dos regimes militares que se instalaram nos anos 60 e 70 na América Latina- serão divulgadas no site http://foia.state.gov.
Nesse mesmo endereço já constam documentos do governo norte-americano sobre o regime militar chileno, tornados públicos por causa de um pedido formal elaborado pelo juiz espanhol Baltasar Garzón, responsável pelo processo que é movido contra o ex-ditador chileno Augusto Pinochet por crimes contra a humanidade cometidos durante seu regime (1973-1990).
Garzón também pediu a captura de 96 militares e autoridades da Argentina por relação com crimes cometidos no regime militar no país (1976-1983).
Em carta enviada a Claudia Allegrini, mulher do desaparecido Lorenzo Viñas (visto pela última vez em 1980, no município gaúcho de Uruguaiana, que faz fronteira com a Argentina), a subsecretária-assistente do Escritório de Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, Linda Eddleman, anunciou a divulgação.
"O importante, para nós, é que haja publicidade de todos esses fatos. É preciso que tudo isso fique registrado para a história. Quanto a uma punição para as autoridades responsáveis pelas mortes e desaparecimentos, não sou tão otimista", disse Allegrini à Agência Folha.
Allegrini e Edgardo Binstock, marido da desaparecida Mónica Susana de Pinus, tiveram na semana passada uma reunião com o presidente da Argentina, Carlos Menem, para tratar da criação de um setor, dentro do governo, que se ocupe exclusivamente da área de direitos humanos dentro do Mercosul.
O objetivo é que Menem crie o setor antes de deixar o cargo, no próximo dia 10. Allegrini, que, assim como seu marido, integrava a Juventude Peronista, trabalha na subsecretaria de Direitos Humanos do Ministério do Interior argentino. Menem é filiado ao Partido Justicialista (peronista).
A Justiça argentina, por intermédio do juiz federal Claudio Bonadío, já enviou pedido de esclarecimentos ao Ministério das Relações Exteriores do seu país para enviá-lo ao Ministério da Justiça brasileiro. São solicitadas duas informações: que se esclareçam como funcionou a Operação Condor no Brasil e quais eram as autoridades brasileiras em pontos estratégicos, como a fronteira com a Argentina em Uruguaiana (RS) e o aeroporto Galeão, no Rio de Janeiro.
A atitude do Departamento de Estado norte-americano, ao tornar públicos documentos sobre a Operação Condor, deve favorecer essa investigação.


Texto Anterior: Vítimas da Guerra: Livro sobre Kosovo será lançado hoje
Próximo Texto: Vítimas do Holocausto: Comissão acha 54 mil contas na Suíça
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.