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Estudo pede saída parcial do Iraque e diálogo com Irã
Grupo bipartidário apresenta relatório a Bush, que prometeu levar propostas "a sério"
Entre as 79 propostas está a
de transferir segurança do
país a iraquianos até 2008; relatório adverte para grave e contínua deterioração
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK
O Exército norte-americano
deve começar uma retirada
gradual da linha de frente no
Iraque "com responsabilidade", e a Casa Branca deve lançar
uma ação diplomática e política, que envolva o Irã e a Síria,
para pôr um fim a uma crise
"grave e que se deteriora".
A conclusão é do Grupo de
Estudos do Iraque (ISG, na sigla em inglês), comissão bipartidária liderada pelo republicano James Baker, ex-secretário
de Estado, amigo da família
Bush e negociador político do
presidente, e pelo democrata
Lee Hamilton. Trechos do documento, publicado em livro
ontem após ser apresentado a
George W. Bush, já haviam vazado na semana passada.
Apesar de não estabelecer
um cronograma para a retirada
total, o estudo propõe que até o
fim de 2007 a segurança do Iraque seja transferida às autoridades locais, e que um contingente norte-americano permaneça para o treinamento das
forças iraquianas.
"Não há fórmula mágica para
resolver os problemas no Iraque. Para dar ao governo iraquiano uma chance de sucesso,
a política dos Estados Unidos
deve ter uma visão mais ampla
e não se concentrar apenas numa estratégia militar para o
Iraque", disse Baker, no mesmo
dia em que mais dez militares
norte-americanos foram mortos no Iraque.
"Nenhum curso de ação no
Iraque vai garantir um fim à
tendência rumo ao caos. Ainda
assim, em nossa opinião, nem
todas as opções foram exauridas", completou Hamilton. O
custo da invasão, desde maio de
2003, já chega a US$ 1 trilhão.
A divulgação do estudo foi recebida com aparente boa vontade pelo presidente George W.
Bush e enorme interesse público -a julgar pela grande procura em sites de vendas na internet como o Amazon.
"O relatório será levado a sério por esta administração. O
estudo dá uma visão muito dura da situação no Iraque e traz
algumas propostas realmente
interessantes. Vamos levar todas as sugestões muito a sério,
mas provavelmente não concordaremos com todas."
Líderes democratas do Congresso americano, que passam
a ter maioria no Legislativo em
janeiro, disseram que vão se
apoiar no relatório para exigir
mudanças no Iraque.
"Vigiaremos muito de perto a
aplicação das recomendações
do IGS", disse Harry Reid, próximo líder da maioria democrata no Senado. "Bush está disposto a reorientar sua política?
Todas os olhares se voltam para
ele", completou o senador democrata Charles Schumer.
Antes de viajar ontem a Washington, o premiê britânico,
Tony Blair, que mantém soldados na força de coalizão e é o
principal aliado de Bush no Iraque, disse ao Parlamento que
concorda com a avaliação de
Robert Gates, indicado para o
cargo de secretário de Defesa
americano, de que os EUA não
estão vencendo a guerra.
Em Bagdá, dirigentes iraquianos receberam o estudo
com desconfiança. "Os EUA
são uma potência ocupante no
Iraque, e a Convenção de Genebra estabelece que, como tal,
são responsáveis pelo país",
disse o líder curdo Mahmud
Othman. "Não creio que os Estados Unidos retirem seu apoio
militar enquanto sua missão
não estiver terminada. Precisamos de ajuda para avançar. Se
não nos apoiarem, não estarão
cumprindo sua palavra", disse
Bassam Ridha, assessor do premiê Nuri al Maliki.
Uma das principais recomendações é o treinamento das
forças iraquianas. Para o grupo,
os militares americanos deveriam passar de combatentes
para o de assessores.
Um dos pontos mais polêmicos do relatório é a proposta de
diálogo com Irã e Síria. Mas a
Casa Branca voltou a rejeitar a
idéia de conduzir negociações
diretas com Teerã. Segundo o
porta-voz do governo,
Snow, isso só será possível
quando o Irã suspender suas
atividades nucleares.
Com agências internacionais
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