São Paulo, quinta-feira, 07 de dezembro de 2006

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Estudo pede saída parcial do Iraque e diálogo com Irã

Grupo bipartidário apresenta relatório a Bush, que prometeu levar propostas "a sério"

Entre as 79 propostas está a de transferir segurança do país a iraquianos até 2008; relatório adverte para grave e contínua deterioração

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

O Exército norte-americano deve começar uma retirada gradual da linha de frente no Iraque "com responsabilidade", e a Casa Branca deve lançar uma ação diplomática e política, que envolva o Irã e a Síria, para pôr um fim a uma crise "grave e que se deteriora".
A conclusão é do Grupo de Estudos do Iraque (ISG, na sigla em inglês), comissão bipartidária liderada pelo republicano James Baker, ex-secretário de Estado, amigo da família Bush e negociador político do presidente, e pelo democrata Lee Hamilton. Trechos do documento, publicado em livro ontem após ser apresentado a George W. Bush, já haviam vazado na semana passada.
Apesar de não estabelecer um cronograma para a retirada total, o estudo propõe que até o fim de 2007 a segurança do Iraque seja transferida às autoridades locais, e que um contingente norte-americano permaneça para o treinamento das forças iraquianas.
"Não há fórmula mágica para resolver os problemas no Iraque. Para dar ao governo iraquiano uma chance de sucesso, a política dos Estados Unidos deve ter uma visão mais ampla e não se concentrar apenas numa estratégia militar para o Iraque", disse Baker, no mesmo dia em que mais dez militares norte-americanos foram mortos no Iraque.
"Nenhum curso de ação no Iraque vai garantir um fim à tendência rumo ao caos. Ainda assim, em nossa opinião, nem todas as opções foram exauridas", completou Hamilton. O custo da invasão, desde maio de 2003, já chega a US$ 1 trilhão.
A divulgação do estudo foi recebida com aparente boa vontade pelo presidente George W. Bush e enorme interesse público -a julgar pela grande procura em sites de vendas na internet como o Amazon.
"O relatório será levado a sério por esta administração. O estudo dá uma visão muito dura da situação no Iraque e traz algumas propostas realmente interessantes. Vamos levar todas as sugestões muito a sério, mas provavelmente não concordaremos com todas."
Líderes democratas do Congresso americano, que passam a ter maioria no Legislativo em janeiro, disseram que vão se apoiar no relatório para exigir mudanças no Iraque.
"Vigiaremos muito de perto a aplicação das recomendações do IGS", disse Harry Reid, próximo líder da maioria democrata no Senado. "Bush está disposto a reorientar sua política? Todas os olhares se voltam para ele", completou o senador democrata Charles Schumer.
Antes de viajar ontem a Washington, o premiê britânico, Tony Blair, que mantém soldados na força de coalizão e é o principal aliado de Bush no Iraque, disse ao Parlamento que concorda com a avaliação de Robert Gates, indicado para o cargo de secretário de Defesa americano, de que os EUA não estão vencendo a guerra.
Em Bagdá, dirigentes iraquianos receberam o estudo com desconfiança. "Os EUA são uma potência ocupante no Iraque, e a Convenção de Genebra estabelece que, como tal, são responsáveis pelo país", disse o líder curdo Mahmud Othman. "Não creio que os Estados Unidos retirem seu apoio militar enquanto sua missão não estiver terminada. Precisamos de ajuda para avançar. Se não nos apoiarem, não estarão cumprindo sua palavra", disse Bassam Ridha, assessor do premiê Nuri al Maliki.
Uma das principais recomendações é o treinamento das forças iraquianas. Para o grupo, os militares americanos deveriam passar de combatentes para o de assessores.
Um dos pontos mais polêmicos do relatório é a proposta de diálogo com Irã e Síria. Mas a Casa Branca voltou a rejeitar a idéia de conduzir negociações diretas com Teerã. Segundo o porta-voz do governo,
Snow, isso só será possível quando o Irã suspender suas atividades nucleares.


Com agências internacionais


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