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Lula diz que Brasil deve ajudar "pobres"
Presidente afirmou que o boliviano Morales estava certo ao nacionalizar gás e elogiou caráter "progressista" de Chávez
Prestes a viajar pela região, brasileiro disse no Pará que América do Sul trocou neoliberalismo por o que havia "de mais avançado"
LETÍCIA SANDER
ENVIADA A BELÉM
A poucos dias de um giro que
o levará a três países da América do Sul, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil precisa ceder e
favorecer os mais pobres em
prol da integração regional, defendeu a postura do boliviano
Evo Morales no episódio da nacionalização do gás e fez elogios
ao venezuelano Hugo Chávez.
Em discurso no encerramento do encontro de governadores da Frente Norte do Mercosul, em Belém (PA), o presidente afirmou que aconteceu um
"fenômeno político" na América do Sul, que se espraia pelo
continente. Disse que o povo
deu uma guinada e trocou o
"neoliberalismo" pelo que tinha de "mais avançado em políticas sociais".
O presidente afirmou que,
por conta dessa visão, "nunca
vacilou" em relação à Bolívia,
ainda que a decisão de Evo Morales de nacionalizar o gás tenha ocorrido em meio às eleições do ano passado, em que
Lula era candidato. "Eu disse, "o
gás é do Evo, ele está correto
em nacionalizar, o gás é um instrumento, uma matéria- prima,
é a única coisa que a Bolívia
tem"." Devido à decisão, a Petrobras abriu mão da exploração de refinarias naquele país.
Na viagem que fará à Bolívia,
no dia 17, Lula disse que irá propor a Morales que a Petrobras
aumente os investimentos no
país. "Não basta ter gás, é preciso extrair esse gás." "Eu vou lá
com a proposta de que a Petrobras vai fazer investimento,
porque, se a Petrobras não fizer, vai faltar gás para o Brasil, a
Argentina, o Chile e a Bolívia.
Não adianta você ter uma mina
de petróleo embaixo de você se
não tem como tirar."
Lula também afirmou que a
razão está com o Paraguai,
quando o presidente Nicanor
Duarte reclama do acordo com
o Brasil em relação a Itaipu. Segundo Lula, não dá para ter
uma relação igualitária com o
Paraguai, porque "o que vale
para eles, para nós muitas vezes
não vale nada". "O que são para
nós R$ 100 milhões? Nada. Para o Paraguai é de importância
extraordinária."
Melancia
Nessa linha de "bondades"
aos vizinhos, ainda disse que o
Brasil e a Argentina deveriam
ajudar a Nicarágua a ter uma
hidrelétrica e que construirá ligação fluvial de Manaus ao Porto de Manta, no Equador.
O presidente evocou o "respeito às nações soberanas" ao
falar de Chávez e reclamou da
imprensa: "De vez em quando,
querem que eu brigue com o
Chávez . Cada coisa que eu falo
é uma manchete negativa". Lula disse que de vez em quando
as pessoas pensam que os países devem ser todos iguais e reclamou: "Não somos um caminhão de melancia".
Mais cedo, numa digressão
histórica sobre a chegada ao
poder de líderes de esquerda,
Lula afirmou que "Chávez era,
até então, o único presidente na
América do sul com cara progressista e compromissos efetivos com o povo mais pobre".
Para Lula, o Brasil, a Argentina, a Venezuela e a Colômbia
precisam ajudar os países mais
pobres a ter relação com vantagem para estes. "Nas negociações, temos de ser generosos."
Segundo ele, não havia experiência de integração na América Latina -"era quase que a lei
do cão, ou seja, toda a vantagem
para o país mais rico". "Não pode. Definitivamente, não faremos integração assim." Lula
viaja domingo para a Argentina. Na próxima semana, está
prevista uma ida à Venezuela.
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