São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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Lula diz que Brasil deve ajudar "pobres"

Presidente afirmou que o boliviano Morales estava certo ao nacionalizar gás e elogiou caráter "progressista" de Chávez

Prestes a viajar pela região, brasileiro disse no Pará que América do Sul trocou neoliberalismo por o que havia "de mais avançado"

LETÍCIA SANDER
ENVIADA A BELÉM

A poucos dias de um giro que o levará a três países da América do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil precisa ceder e favorecer os mais pobres em prol da integração regional, defendeu a postura do boliviano Evo Morales no episódio da nacionalização do gás e fez elogios ao venezuelano Hugo Chávez.
Em discurso no encerramento do encontro de governadores da Frente Norte do Mercosul, em Belém (PA), o presidente afirmou que aconteceu um "fenômeno político" na América do Sul, que se espraia pelo continente. Disse que o povo deu uma guinada e trocou o "neoliberalismo" pelo que tinha de "mais avançado em políticas sociais".
O presidente afirmou que, por conta dessa visão, "nunca vacilou" em relação à Bolívia, ainda que a decisão de Evo Morales de nacionalizar o gás tenha ocorrido em meio às eleições do ano passado, em que Lula era candidato. "Eu disse, "o gás é do Evo, ele está correto em nacionalizar, o gás é um instrumento, uma matéria- prima, é a única coisa que a Bolívia tem"." Devido à decisão, a Petrobras abriu mão da exploração de refinarias naquele país.
Na viagem que fará à Bolívia, no dia 17, Lula disse que irá propor a Morales que a Petrobras aumente os investimentos no país. "Não basta ter gás, é preciso extrair esse gás." "Eu vou lá com a proposta de que a Petrobras vai fazer investimento, porque, se a Petrobras não fizer, vai faltar gás para o Brasil, a Argentina, o Chile e a Bolívia. Não adianta você ter uma mina de petróleo embaixo de você se não tem como tirar."
Lula também afirmou que a razão está com o Paraguai, quando o presidente Nicanor Duarte reclama do acordo com o Brasil em relação a Itaipu. Segundo Lula, não dá para ter uma relação igualitária com o Paraguai, porque "o que vale para eles, para nós muitas vezes não vale nada". "O que são para nós R$ 100 milhões? Nada. Para o Paraguai é de importância extraordinária."

Melancia
Nessa linha de "bondades" aos vizinhos, ainda disse que o Brasil e a Argentina deveriam ajudar a Nicarágua a ter uma hidrelétrica e que construirá ligação fluvial de Manaus ao Porto de Manta, no Equador.
O presidente evocou o "respeito às nações soberanas" ao falar de Chávez e reclamou da imprensa: "De vez em quando, querem que eu brigue com o Chávez . Cada coisa que eu falo é uma manchete negativa". Lula disse que de vez em quando as pessoas pensam que os países devem ser todos iguais e reclamou: "Não somos um caminhão de melancia".
Mais cedo, numa digressão histórica sobre a chegada ao poder de líderes de esquerda, Lula afirmou que "Chávez era, até então, o único presidente na América do sul com cara progressista e compromissos efetivos com o povo mais pobre".
Para Lula, o Brasil, a Argentina, a Venezuela e a Colômbia precisam ajudar os países mais pobres a ter relação com vantagem para estes. "Nas negociações, temos de ser generosos." Segundo ele, não havia experiência de integração na América Latina -"era quase que a lei do cão, ou seja, toda a vantagem para o país mais rico". "Não pode. Definitivamente, não faremos integração assim." Lula viaja domingo para a Argentina. Na próxima semana, está prevista uma ida à Venezuela.


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