São Paulo, segunda-feira, 07 de dezembro de 2009

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Morales leva Presidência e Senado na Bolívia

Pesquisas de boca de urna davam ao menos 61% ao atual presidente, contra 23% do candidato opositor Manfred Reyes Villa

Levantamento aponta para vitória na Assembleia, onde maioria qualificada será essencial para implementar nova Constituição do país

David Mercado/Reuters
Eleitora boliviana vota em Huatajata, nas margens do lago Titicaca (cerca de 80km ao norte de La Paz), ontem

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ

Evo Morales foi reeleito ontem presidente da Bolívia, de acordo com pesquisas de boca de urna. Segundo os levantamentos, o esquerdista obteve ao menos 61% dos votos e também alcançou a principal meta do governo nas eleições: ter ao menos 24 das 36 cadeiras do Senado -a vitória na Câmara já era esperada.
Diante de multidão reunida em frente ao Palácio Quemado, em La Paz, Morales comemorou a vitória e convocou a oposição a participar de seu projeto. "Dois terços na Câmara e no Senado me obrigam a acelerar esse processo de mudança."
A maioria qualificada na Assembleia Plurinacional (Senado e Câmara) era o objetivo porque será essencial para a implementação da nova Constituição boliviana, aprovada em 2008 -embora, tecnicamente, o governo só precisasse da maioria simples para passar as leis subconstitucionais.
As pesquisas têm margem de erro de até quatro pontos percentuais para mais ou para menos e indicam que o opositor Manfred Reyes Villa conquistou ao menos 23% dos votos.
De acordo com levantamentos de boca de urna e também "contagens rápidas", com margem de erro menor, Morales ganhou no departamento de Tarija, onde estão os campos de gás explorados pela Petrobras, mas perdeu em Beni.
As pesquisas também projetavam que a oposição ganharia no departamento de Santa Cruz, o mais simbólico bastião opositor, e em Pando, embora por pequena margem.
Debilitada, a oposição comemorou a resistência ao governo que se apresentava em três dos quatro departamentos que formam a chamada meia-lua, o bloco que faz ferrenha oposição a Morales desde 2006.
Mas foi justamente nessas regiões que o governo elegeu 2 senadores dos 4 designados por cada departamento e ampliou sua maioria.
Na votação de ontem, os bolivianos também escolheram 130 deputados. Ao todo, 12 cidades decidiram se queriam ou não se transformar em municípios com regime administrativo de autonomia indígena.

Mais uma eleição
Grupos minoritários indígenas (sem os aimará e quéchuas, majoritários no país em que 62% se dizem indígenas) escolheram sete deputados, o que é considerado uma conquista histórica pelos movimentos indígenas das Américas.
Morales pareceu deixar aberta ontem a possibilidade de concorrer a um novo mandato em 2015. "É minha primeira eleição com base na nova Constituição", disse o presidente, após votar em Villa Tunari, seu berço político na região cocaleira do Chapare.
A nova Carta boliviana permite uma única reeleição. Como se trata de um novo regime legal instaurado pelo texto, Morales poderia concorrer de novo em 2015. Em 2008, porém, o governo se comprometeu com a oposição a desistir de tentar novo mandato.
Segundo observadores da União Europeia e da OEA (Organização dos Estados Americanos) o dia de votação foi tranquilo ontem, e só houve incidentes menores.
Estavam habilitados a votar ontem 5,1 milhões de bolivianos, inscritos no novo registro eleitoral biométrico, considerado mais seguro -um aumento de 45% em relação aos 3,5 milhões que foram às urnas em 2005, quando Morales teve 54% dos votos.
De acordo com os números, e apesar da vitória contundente, Morales não ultrapassou ontem seu recorde de votação, contabilizado quando ele alcançou 67,4% dos votos válidos em agosto de 2008.
Agora, as energias da oposição e do governo se voltarão para as eleições para governador e prefeitos, em abril de 2010.
É a votação nos nove departamentos que definirá se o governo terá um mapa político-regional mais favorável do que o do primeiro mandato de Morales, eleito em 2005 ao lado de seis governadores de oposição.


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