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MISSÃO NO CARIBE
Custos para governo brasileiro somaram R$ 340 milhões entre junho de 2004 e dezembro de 2005
Turbulências marcaram missão de paz
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A morte, ontem, do general
Urano Bacellar é mais um capítulo da série de turbulências que
tem marcado os 18 meses de funcionamento da missão de paz no
Haiti e chama atenção para os sérios problemas enfrentados pela
ONU para cumprir seu mandato
no país.
A atuação das tropas lideradas
pelo Brasil já foi alvo de inúmeras
denúncias, algumas infundadas,
de violações de direitos humanos.
Mas a principal crítica é o suposto fracasso da Minustah (Missão de Estabilização da ONU no
Haiti) em assegurar condições para uma transição pacífica até as
eleições, e o fato de a intervenção
não ter impedido que a situação
política, econômica e social no
país se deteriorasse.
A falta de segurança e a infra-estrutura precária já provocaram o
adiamento por quatro vezes das
eleições presidenciais haitianas.
Em novembro último, a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos da OEA (Organização
dos Estados Americanos) acusou
as forças de paz de suposta omissão em chacinas ocorridas em
Porto Príncipe, capital haitiana.
"Aqueles mortos pelas forças da
Polícia Nacional Haitiana e pela
Minustah incluem uma longa lista de homens, mulheres e crianças
desarmados. Nenhum esforço foi
feito para reduzir as mortes de civis e transeuntes. Em muitos casos, essas vítimas não são "dano
colateral" das operações, acidentalmente surpreendidas em fogo
cruzado, mas intencionalmente
visadas e mortas pela polícia e/ou
forças da Minustah", disse o documento entregue à comissão.
Na denúncia, o Brasil foi responsabilizado pela ação de seus
soldados em mortes de civis e
também por omissão frente à
ação violenta da polícia do Haiti.
A Minustah defende-se afirmando que todas as suas operações militares são realizadas "de
acordo com as regras de engajamento da missão". Afirma, ainda,
que, sem sua presença, o Haiti teria emergido numa guerra civil.
Tanto Bacellar quanto seu antecessor, o general Augusto Heleno
Pereira Ribeiro, afirmaram ter sido alvo de pressões pelo incremento das ações ofensivas contra
grupos desestabilizadores. Ambos criticaram também o problema da falta de investimentos sociais a partir do dinheiro prometido por doadores internacionais.
A Minustah substituiu uma força multinacional temporária criada para restabelecer a segurança e
facilitar a distribuição de ajuda
humanitária logo após a queda do
ex-presidente Jean-Bertrand
Aristide, em fevereiro de 2004.
Tem hoje 7.500 capacetes azuis,
dos quais 1.200 são brasileiros, e
1.987 policiais internacionais.
Custos
O custo da missão brasileira no
Haiti foi de R$ 340 milhões entre
junho de 2004 e dezembro de
2005, segundo uma comunicação
enviada ao Congresso Nacional
pelo ministro da Defesa e vice-presidente, José Alencar.
O valor relatado por Alencar
-em resposta a um requerimento do deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR)- é mais do
que o dobro do inicialmente previsto para a missão no primeiro
pedido de liberação de verbas, encaminhado ao Congresso para
aprovação em maio de 2004.
Naquele pedido, o governo Lula
alegava que a toda a operação custaria R$ 150 milhões e que a ONU
devolveria ao Brasil, como praxe
em operações desse tipo, cerca de
um terço do dinheiro brasileiro,
ou R$ 60 milhões. Até maio de
2005, contudo, a devolução somava apenas R$ 26,7 milhões.
O primeiro pedido de recursos
para a missão do Haiti foi assinado pelo então ministro do Planejamento, Guido Mantega. Dizia
que a missão acabaria ainda no final de 2004. Em dezembro do
mesmo ano, contudo, o Brasil decidiu atender um pedido da ONU
para manter cerca de 1.200 soldados por mais seis meses no Haiti.
Por medida provisória, o governo destinou mais R$ 85 milhões
ao Haiti. Nova prorrogação da
operação brasileira foi decidida
em meados de 2005.
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