São Paulo, terça-feira, 08 de janeiro de 2008

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Obama tornou cor irrelevante na campanha

DO ENVIADO ESPECIAL A MANCHESTER

Democrata vitorioso no "caucus" em Iowa e favorito de hoje na primária do partido em New Hampshire, o presidenciável negro Barack Obama, 49, tem conseguido fazer de sua cor "uma questão irrelevante na campanha". A análise é de Melissa Harris Lacewell, doutora em ciências políticas e pesquisadora de estudos afro-americanos na Universidade Princeton.
Lacewell falou à Folha em Manchester, onde coordena um grupo de 14 pesquisadores que viajaram para observar a campanha. Leia os principais trechos da entrevista.

 

FOLHA - Barack Obama faz história sendo vitorioso em Iowa e favorito em New Hampshire?
MELISSA HARRIS LACEWELL -
Em alguns aspectos sim, mas o racismo nos Estados Unidos não poderá ser considerado menor se Barack Obama for escolhido nosso próximo presidente. Existe até um ponto positivo nessa falta de importância: Obama conseguiu fazer de sua raça uma questão irrelevante nesta campanha. Me parece que pesa muito mais na discussão, como vantagem e desvantagem, o fato de ele ser jovem [49 anos]. Mesmo assim, é muito positivo que em Iowa, onde há "caucus", com a votação aberta, os eleitores tenham apoiado Obama publicamente, ao lado de seus vizinhos. Não imagino isso acontecendo 20 anos atrás.

FOLHA - Uma mulher presidente também é novidade.
LACEWELL -
É uma novidade de gênero, mas não é uma ruptura. Ela não é uma "self-made woman". É a mulher de um homem poderoso, que está na campanha com ela. Hillary representa o establishment.

FOLHA - Por que hoje o voto negro ainda se concentra mais em Hillary que em Obama?
LACEWELL -
Existem muitos afro-americanos votando em Hillary em vez de Obama, mas isso vai mudar logo. Eles a escolhiam porque queriam um democrata e achavam que ela seria a única com chances de ganhar. Agora está ficando claro que ele tem chances. A verdade é que esse apoio dos brancos a ele em Iowa e New Hampshire surpreendeu todo mundo. Calculo que se ele ganhar aqui [em New Hampshire, com 95% de população branca] e na Carolina do Sul, onde menos da metade dos negros apóia Obama, o percentual total de negros que o apóiam pode chegar a cerca de 85%.

FOLHA - O fato de Obama ser negro é importante para os eleitores negros?
LACEWELL -
É importante, mas percebo dois medos. O primeiro é de que Obama seja assassinado, como Martin Luther King. O outro medo é de que, com um presidente negro, silenciem-se as discussões sobre racismo nos EUA, fazendo parecer que não há mais pelo que lutar, já que um negro chegou até a Presidência. Há anos temos muitos casos individuais de sucesso de negros nos Estados Unidos, como [o ex-secretário de Estado] Colin Powell, [a secretária de Estado] Condoleezza Rice e [a apresentadora] Oprah Winfrey, mas o país continua difícil para os afro-americanos. (DB)


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