São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2009

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Israel examina trégua, mas mantém ataques

País concentra bombardeios no sul de Gaza, próximo ao Egito, e afirma ver em proposta de cessar-fogo ponto de partida

Mortos já superam 700 do lado palestino; com governo dividido sobre objetivo final, emissário vai ao Cairo para negociar um acordo

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A SDEROT (ISRAEL)

Israel entrou hoje no 13º dia da ofensiva contra o Hamas concentrando os bombardeios no sul da faixa de Gaza, perto da fronteira com o Egito, área dos túneis usados pelo grupo islâmico palestino para se abastecer de armas. Ao mesmo tempo, começou a considerar um plano de cessar-fogo articulado por Egito e França.
Apesar do avanço diplomático, ainda não há uma fórmula para a trégua, e o saldo de mortos chega a mais de 700 do lado palestino e a dez do israelense.
Ontem, durante o dia, surgiram sinais de que a operação pode estar se encaminhando para o fim. O primeiro deles foi a decisão do gabinete de segurança israelense de adiar a discussão sobre a ampliação da ofensiva terrestre para dentro dos centros urbanos da região de 1,5 milhão de habitantes.
Esse estágio por ora foi adiado, enquanto as tropas israelenses mantêm-se em torno das principais cidades.
Os ataques aéreos no sul do território, por sua vez, foram intensificados. A agência France Presse informou que tanques se dirigiam nesta madrugada à cidade de Khan Younis, mas não houve confirmação da operação por outras fontes.
Segundo analistas, os ataques no sul seriam um segundo sinal de que a operação pode estar perto do fim: antevendo um cessar-fogo em breve, Israel estaria acelerando os ataques para garantir a destruição dos túneis usados pelo Hamas para o contrabando de armas.
O terceiro sinal foi a reação positiva à proposta franco-egípcia, embora ela ainda esteja muito aquém do que Israel espera. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, chegou a criar um mal-entendido, ao afirmar que o plano havia sido aceito pelos dois lados.

Obstáculos
Israel esclareceu que considera o plano um bom ponto de partida, mas observou que ele ainda é vago. "Há um entendimento amplo sobre os princípios gerais para uma solução", disse Mark Regev, porta-voz do premiê Ehud Olmert. "Mas ainda precisamos traduzir esses princípios em ação."
O primeiro obstáculo é a sequência na qual as medidas seriam aplicadas. O plano franco-egípcio pede um cessar-fogo imediato. Em seguida, seriam negociados os termos de uma trégua perene, com o envio de monitores internacionais. Israel exige a sequência oposta: só aceita um cessar-fogo depois de estabelecidas novas condições de segurança. A prioridade é garantir um mecanismo multinacional de controle na fronteira entre o Egito e Gaza.
O governo israelense está dividido. Alguns de seus integrantes, entre eles o principal arquiteto da operação em Gaza, o ministro da Defesa, Ehud Barak, acham que já foram alcançados objetivos militares suficientes em Gaza para que seja estabelecida uma trégua em condições favoráveis.
Outros, como o vice-premiê Haim Ramon, defendem a ampliação da incursão terrestre para garantir o fim do regime do Hamas: "Já obtivemos enormes avanços com esta ofensiva, mas acho que será um erro estratégico continuar convivendo com o Hamastão, um encrave do Irã no sul do país".
Vivendo seus últimos dias no poder antes da eleição que escolherá seu sucessor, em fevereiro, o premiê Ehud Olmert tem dado sinais contraditórios. Ontem, pareceu disposto a dar uma chance à iniciativa franco-egípcia, autorizando a ida de um assessor de Barak ao Egito para discuti-la. Disse que o debate busca "criar as condições para o fim da operação".
Ainda não está claro, contudo, quem negociará em nome dos palestinos. A proposta divulgada por Sarkozy menciona como interlocutor a Autoridade Nacional Palestina, controlada pelo Fatah, grupo rival do Hamas, que nem sequer foi mencionado.
Enquanto a diplomacia busca uma solução, a violência segue em Gaza. Ao menos 29 palestinos foram mortos ontem, e Israel diz ter prendido pelo menos 150 militantes do Hamas.


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