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Relator da ONU expulso de Israel vê crimes de guerra
DA REPORTAGEM LOCAL
Nomeado relator da ONU para a situação humanitária nos
territórios palestinos em março, o americano de origem judaica Richard Falk não conseguiu iniciar seu trabalho. Ao
tentar chegar à Cisjordânia por
Israel, em dezembro, ele foi
barrado pela polícia, que o
trancou em uma cela por 15 horas antes de expulsá-lo do país.
Israel alegou que seu trabalho era "enviesado".
Após passar o Ano Novo em
Paraty (RJ), Falk veio a São
Paulo, onde conversou ontem
com a Folha. Professor emérito da Universidade Princeton,
negou ser pró-palestino e acusou Israel de "crimes de guerra
e contra a humanidade".
(SA)
FOLHA - Por que o mundo é tão passivo na crise em Gaza?
RICHARD FALK - A realidade central é que os EUA ainda têm
enorme poder político, especialmente no Oriente Médio.
Os regimes árabes, receosos
com a própria estabilidade, se
cuidam para não ferir os interesses americanos na região.
Esses mesmos regimes estão
divididos entre, de um lado,
pressões populares [pró-palestinas], e, do outro, o medo da
expansão da área de influência
do Irã por meio do Hamas. Daí
a posição dúbia ante a crise.
Além disso, Israel e os EUA
foram muito hábeis em induzir
a União Europeia a rotular o
Hamas como organização terrorista. Isso minou qualquer
ímpeto imparcial europeu.
FOLHA - O Hamas infiltrou organizações humanitárias?
FALK - É uma acusação absurda. A ONU é muito rigorosa no
esforço constante de se manter
à distância de movimentos políticos. Mas como o Hamas é a
principal força em Gaza, é possível que indivíduos isolados
tenham algum tipo de simpatia
com o Hamas, nada mais.
FOLHA - O que responde aos que
acusam o senhor de ser enviesado?
FALK - Não se pode igualar o
desigual. Se a realidade tende
para um lado, então o relato
tem de ir para esse lado. Queria
ter sido avaliado em função de
meu relatório, mas não me deixaram entrar.
FOLHA - Há quem ache exagero falar em crise humanitária.
FALK - É uma das mais graves
crises humanitárias da história
recente. O pior é Israel impedir
os civis de abandonarem Gaza.
Os israelenses estão usando armas muito sofisticadas, algumas delas ilegais, como bombas
de fósforo e projéteis que entram decepando o corpo.
Israel também não provê suprimentos básicos e remédios,
numa violação clara do direito
humanitário internacional que
representa um crime de guerra
e contra a humanidade. Os responsáveis devem ser julgados.
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