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ARTIGO
O Irã como Estado máximo do confronto
THOMAS L. FRIEDMAN
DO "NEW YORK TIMES"
É doloroso assistir aos combates, mortes e destruição na
faixa de Gaza. Mas já é tudo familiar demais. É a versão mais
recente da peça há mais tempo
em cartaz no Oriente Médio
moderno. Se eu tivesse que dar
um título a ela, seria: "Quem é o
dono deste hotel? Os judeus
podem ter um quarto aqui?
Não deveríamos explodir o bar
e pôr uma mesquita no lugar?".
Ou seja, a faixa de Gaza é uma
miniversão dos três grandes
conflitos que se desenrolam
desde 1948: 1) Quem será a superpotência regional? 2) Deve
haver um Estado judaico no
Oriente Médio, e, se sim, em
que termos palestinos? 3)
Quem vai dominar a sociedade
árabe -islâmicos intolerantes
que querem sufocar a modernidade ou modernistas que querem abraçar o futuro com rosto
árabe-muçulmano?
O dono do hotel
A luta pela hegemonia no
mundo árabe moderno é tão
velha quanto o Egito de Nasser.
O que é novo é o fato de o Irã,
não-árabe, buscar a primazia,
desafiando Egito e Arábia Saudita. Teerã usa sua ajuda militar ao Hamas e ao Hizbollah para criar uma força com foguetes
nas fronteiras norte e oeste de
Israel, o que lhe possibilita suspender e reiniciar o conflito israelo-palestino quando quiser
e retratar-se como o protetor
dos palestinos, em oposição aos
regimes árabes fracos.
"A faixa de Gaza que Israel
deixou em 2005 fazia fronteira
com o Egito. A faixa de Gaza à
qual Israel acaba de retornar
faz fronteira com o Irã", disse
Mamoun Fandy, diretor de
programas de Oriente Médio
no Instituto Internacional de
Estudos Estratégicos. "O Irã virou o Estado máximo do confronto. Não sei se ainda podemos falar em "paz árabe-israelense" ou "iniciativa árabe de
paz". É possível que tenhamos
uma "iniciativa iraniana"." Toda
a noção de processo de paz árabe-israelense terá que mudar.
Um quarto para os judeus
O Hamas rejeita reconhecer
Israel. Já a Autoridade Nacional Palestina, liderada pelo Fatah, reconheceu Israel -e vice-versa. Se, para você, a única solução estável é uma que envolva dois Estados, com os palestinos ficando com toda a Cisjordânia, a faixa de Gaza e os setores árabes de Jerusalém Oriental, você só pode torcer pelo enfraquecimento do Hamas.
Por quê? Porque nada tem
prejudicado mais os palestinos
que a estratégia de culto à morte do Hamas de converter jovens em homens-bomba. Pois
nada seria um revés maior a um
acordo de paz do que se o chamado do Hamas pela substituição de Israel por um Estado islâmico se tornasse a posição
palestina nas negociações. E
porque os ataques do Hamas ao
sul de Israel estão destruindo a
solução de dois Estados, mais
que os insensatos assentamentos de Israel na Cisjordânia.
Israel já comprovou que se
dispõe a retirar assentamentos,
como fez em Gaza. Os ataques
de foguete do Hamas representam uma ameaça irreversível.
Eles dizem a Israel: "A partir da
faixa de Gaza, podemos atingir
o sul de Israel. Se ficarmos com
a Cisjordânia, poderemos atingir com foguetes -logo, fechar- o aeroporto de Israel a
qualquer momento." Quantos
israelenses vão querer correr o
risco de abrir mão da Cisjordânia, diante dessa nova ameaça?
Bar ou mesquita
A derrubada pelo Hamas da
organização Fatah, mais secular, na faixa de Gaza em 2007
faz parte de uma guerra civil
em âmbito regional que opõe
islâmicos a modernistas.
Na semana em que Israel
vem dividindo a faixa de Gaza
em fatias, homens-bomba islâmicos já mataram quase cem
iraquianos. Essas chacinas cometidas sem provocação não
geraram nenhum protesto na
Europa ou no Oriente Médio.
A faixa de Gaza é hoje, basicamente, o marco zero de todos
esses três conflitos, disse Martin Indyk, ex-assessor de Bill
Clinton para o Oriente Médio e
que acaba de publicar o incisivo, "Innocent Abroad: An Intimate Account of American Diplomacy in the Middle East"
[Inocente lá fora: um relato íntimo da diplomacia americana
para o Oriente Médio]. "Este
pedacinho de terra, a faixa de
Gaza, tem o potencial de colocar essas três questões a nu e
criar um problema enorme para Barack Obama."
O grande potencial de Obama para os EUA, observou
Indyk, é também uma grande
ameaça aos radicais islâmicos
-pois sua história exerce atração enorme sobre os árabes. Há
oito anos o Hamas, o Hizbollah
e a Al Qaeda vêm surfando a
crista da onda do ressentimento contra os EUA gerada por
George W. Bush. E essa onda
ampliou em muito a base deles.
Hamas, Hizbollah e Al Qaeda
devem sem dúvida estar torcendo para poderem usar o
conflito na faixa de Gaza para
converter Obama em Bush.
Eles sabem que Barack Hussein Obama precisa ser "embushcado" para manter a América e seus aliados árabes na defensiva. Obama precisa manter
os olhos fixos sobre o prêmio.
Sua meta -a meta da América- tem que ser um acordo na
faixa de Gaza que elimine a
ameaça dos foguetes do Hamas
e abra o território economicamente ao mundo, sob supervisão internacional digna de crédito. É isso que vai atender aos
interesses americanos, moderar os três grandes conflitos e
fazer Obama ganhar respeito.
Tradução de CLARA ALLAIN
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