São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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IRÃ

Khatami mantém data do pleito

Presidente afirma que eleições serão injustas

DA REDAÇÃO

O presidente do Irã, Mohammad Khatami, decidiu manter as eleições parlamentares do próximo dia 20 após ter seu pedido de adiamento recusado pelo líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, mas afirmou que o pleito não será justo devido à proibição de quase um terço das candidaturas reformistas.
É uma rara manifestação de dissenso por parte do reformista moderado em relação ao conservador Conselho de Guardiães, responsável pelo veto. O grupo linha-dura havia proibido quase metade das cerca de 8.200 candidaturas reformistas, incluindo a de vários integrantes atuais do Parlamento.
A decisão resultou na maior crise política do país desde a Revolução Islâmica (1979), o que obrigou Khamenei a intervir. Diante do aiatolá, o conselho aceitou reverter quase 2.000 vetos, mas não calou os protestos reformistas.
Em carta enviada na noite de sexta-feira a Khamenei e lida ontem por um membro do gabinete para a agência de notícias Associated Press, Khatami e o líder do Parlamento, Mahdi Karroubi, afirmam que "as eleições serão promovidas na data acertada como requer sua ordem", mas que haverá pouco estímulo para os eleitores. É um recuo retórico por parte do presidente, que antes afirmara que seu governo só levaria o pleito adiante se ele fosse "competitivo, justo e livre".
Com a proibição de quase 2.400 candidaturas, ficam bastante limitadas as chances dos reformistas de manter a supremacia na Casa, que obtiveram em 2000 pela primeira vez desde a revolução.
Khatami acusou o Conselho de Guardiães de prejudicar a integridade das eleições. "O Conselho de Guardiães vetou a maioria dos nomes proeminentes nas eleições de 20 de janeiro, solapando a competição necessária e reduzindo a motivação da população."
A situação se agrava porque o maior partido reformista do país, a Frente Islâmica de Participação do Irã, prometeu que vai boicotar as eleições. A frente é presidida por Mohammad Reza Khatami, irmão do presidente, cuja candidatura também foi proibida.
No início da semana, Khamenei ordenara a revisão da lista de candidatos vetados. Mas, dos 600 nomes que o Ministério da Inteligência enviou ao conselho para consideração, apenas 51 tiveram o veto suspenso. Anteontem, a pedido do aiatolá, mais 149 proibições foram retiradas.
Os governadores provinciais haviam ameaçado não colaborar na realização do pleito, mas foram censurados por Khamenei. "Ninguém tem permissão para se recusar a cumprir suas obrigações por causa de sua oposição", disse o aiatolá.
Os membros do conselho, não eleito, são nomeados por Khamenei, o que levou alguns reformistas a acusar o aiatolá de compactuar com o veto.


Com agências internacionais


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