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Irã determina aumento do enriquecimento de urânio
Diante de impasse com Ocidente, Teerã ordena que produto seja tratado a 20%
Medida começa amanhã, em resposta a bloqueio nas conversas com potências sobre troca de combustível; bomba requer urânio a 90%
Hamid Foroutan/Isna/Associated Press
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Ahmadinejad usa microscópio durante exposição em Teerã
DA REDAÇÃO
Diante do impasse nas conversas para tratar o urânio do
Irã em outro país, o presidente
Mahmoud Ahmadinejad ordenou ontem a assessores nucleares que passem a enriquecer o
elemento a um grau de 20% a
partir desta semana, aproximando Teerã dos 90% necessários à fabricação da bomba.
Embora Ahmadinejad tenha
insistido em que um acordo
ainda é possível, o anúncio irritou as potências ocidentais, que
ontem engrossaram o coro pedindo novas sanções internacionais contra Teerã.
Em discurso na TV estatal,
Ahmadinejad culpou o Ocidente pelas dificuldades nas negociações acerca da proposta da
agência nuclear da ONU
(AIEA) que pretendia conciliar
o direito de o Irã ter um programa nuclear civil e o temor ocidental de que Teerã busque em
sigilo um arsenal atômico.
Pelo plano da AIEA, Teerã
repassaria ao Ocidente estoques de urânio com baixo nível
de enriquecimento (3,5%) e os
recuperaria sob a forma de urânio enriquecido a 20% para supostamente abastecer um reator médico de Teerã usado para
pesquisa contra o câncer. O objetivo da permuta é impedir
que o Irã tenha estoque de urânio suficiente para a bomba,
que o Irã nega querer.
Ahmadinejad disse na terça
passada que aceitara a proposta
e despachou seu chanceler,
Manouchehr Mottaki, a uma
conferência sobre segurança
global na Alemanha para conversar com representantes de
governos ocidentais.
Houve discrepâncias a respeito do prazo para a troca
-Ahmadinejad afirmou estar
disposto a esperar até cinco
meses para recuperar o material enriquecido a 20%, enquanto Mottaki exigiu dispor
de um estoque pronto imediatamente após a entrega do material pouco enriquecido.
As especulações da semana
incluíram inclusive o Brasil, citado por autoridades iranianas
como possível eixo da troca.
Para além dos acertos sobre
detalhes, o Irã sinalizou inédita
propensão a aceitar um acordo,
mas não foi o suficiente para
convencer o Ocidente, que se
manteve cético.
Ahmadinejad ontem acusou
as potências ocidentais de má
fé. "Estão brincando com a gente", disse o presidente ao fazer
o discurso de inauguração de
uma exposição dedicada à tecnologia laser iraniana.
"Demos ao Ocidente dois a
três meses para fechar um
acordo [troca de urânio], e dissemos que, se não estivessem
de acordo, então começaríamos nós mesmos a produzir
urânio altamente enriquecido", disse, antes de se dirigir ao
chefe da agência atômica iraniana, que estava ao lado dele:
"Agora, dr. [Ali Akbar] Salehi,
comece a produzir urânio
[enriquecido] a 20% com nossas centrífugas".
Horas depois do discurso, Salehi anunciou que o aumento
do enriquecimento de urânio
de 3,5% para 20% na usina de
Natanz começará a partir de
amanhã. Ele afirmou que comunicará formalmente a decisão à AIEA, organismo com sede em Viena, Áustria.
Não está claro se o Irã tem capacidade de enriquecer urânio
a esse nível -há suspeitas de
que o país esteja blefando.
Além do anúncio de Ahmadinejad, ecoaram ontem no Ocidente duas outras medidas vistas como provocação pelos detratores do regime iraniano.
Um alto comandante anunciou a suposta realização bem-sucedida de um teste com um
novo avião que foge do alcance
de radares inimigos.
Teerã também afirmou ter
prendido sete pessoas acusadas
de ter incitado os protestos
oposicionistas que sucederam
a reeleição de Ahmadinejad,
em junho. Os detidos serão julgados por suposta colaboração
com a Inteligência americana.
Com agências internacionais
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