São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2011

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REVOLTA ÁRABE

Ditador dá aumento para evitar perder servidores

Ameaçado por protestos, egípcio Hosni Mubarak promete 15% de reajuste

Manifestações ontem entraram no 14º dia, enquanto oposição e governo negociam uma mudança constitucional

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Pressionado por uma revolta popular que já dura duas semanas e deixou 300 mortos, o governo do ditador do Egito, Hosni Mubarak, anunciou ontem um aumento de 15% no salário de todos os funcionários públicos.
Segundo Samir Radwan, ministro das Finanças, a medida entra em vigor em abril, contemplando os 6 milhões de servidores do país de população de 84 milhões.
Presume-se que forças policiais e militares também se beneficiem da medida, anunciada ontem após a primeira reunião do novo gabinete de Mubarak.
Radwan disse que o governo alocará o equivalente a R$ 1,6 bilhão para pôr em prática o aumento.
Servidores tradicionalmente formam uma das mais sólidas bases de apoio ao regime, mas a inflação persistente, gerada em grande parte pela alta no preço dos alimentos, forçou o governo a conceder vários aumentos de salário nos últimos anos.
A medida é vista como mais uma tentativa do regime de acalmar os ânimos e acelerar a normalização da economia, que tenta se reerguer após ser seriamente abalada pela atual crise.
As principais cidades do Egito voltaram a ter ares de normalidade, com comércio e bancos abertos, mas analistas avaliam que levará tempo até comércio e indústria ressuscitarem.
O aumento dos salários sucede a promessa, reiterada anteontem pelo vice-presidente Omar Suleiman em inéditas conversas entre governo e oposição, de permitir mais liberdades políticas.
Autoridades também anunciaram a criação de um comitê para refletir sobre mudanças constitucionais. Uma primeira proposta será feita em março, segundo a TV estatal Al Masria.
Todos os acenos giram em torno da ideia de que Mubarak, no poder desde 1981, ficará no cargo até setembro, quando haverá eleições presidenciais. O ditador anunciou na semana passada que não concorrerá de novo.

MUDANÇAS
Reunidos em torno de seis grupos, os cerca de 50 líderes antigoverno que participaram das conversas com Suleiman anteontem foram unânimes em qualificar as propostas de insuficientes.
A oposição, representada nas conversas por religiosos, seculares e lideranças juvenis, exige a saída imediata de Mubarak e quer incluir três mudanças centrais na Constituição: limite de dois mandatos presidenciais, diminuição das prerrogativas e poderes do presidente e mais facilidade para a pluralidade de candidaturas em eleições.
Os anti-Mubarak também querem a punição das autoridades responsáveis pelas mortes de manifestantes.
A cobrança mais forte ao governo veio da Irmandade Muçulmana, grupo político e social oficialmente banido, mas tolerado na prática, e que participa pela primeira vez na história de conversas com o regime de Mubarak.
A Irmandade, única verdadeira força antigoverno, disse ontem cogitar abandonar as conversas se Mubarak não fizer mais concessões.
Parece não haver consenso na oposição sobre se o ditador deve sair do cargo agora ou ficar até setembro. Os líderes que conversam com o governo também estão fragilizados por não serem reconhecidos como interlocutores legítimos dos manifestantes que exigem a saída imediata de Mubarak.
O sentimento dominante na praça Tahrir, epicentro da revolta, que completou ontem 14 dias, é de que oportunistas tentam se fortalecer graças à revolta nas ruas.

FOLHA.com
Leia coluna de Clóvis Rossi
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