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Crise divide opiniões nas ruas de Caracas
ADRIANA KÜCHLER
DE CARACAS
Com o jornal apoiado num
muro pichado com frases como "Uribe maldito", o aposentado José Tali, 73, explica
as notícias a um amigo: "Viu?
Prenderam o maior traficante de armas com as informações do computador de Raúl
Reyes! É a prova de que o que
diz a Colômbia é verdade."
"Chávez é um gorila sinistro e intrometido", diz Tali,
para quem o presidente venezuelano não tinha que ter
se metido no conflito alheio.
"Não há por que mover tropas. Isso cria suspeitas de
que haja guerrilheiros das
Farc na Venezuela e que
Chávez queira protegê-los."
O conflito também é de
opiniões nas ruas de Caracas,
onde é difícil encontrar
quem não tenha a sua. Esse
era o assunto da conversa de
dois fabricantes de sapatos
ontem na praça Bolívar, centro da cidade. José Rey, 35,
critica o presidente colombiano, Álvaro Uribe. "Matar
o Raúl Reyes tudo bem, mas
ele fez mal em invadir um
território que não era dele."
O amigo Arturo Barrios,
44, garante que a mobilização das tropas venezuelanas
é uma forma de resguardo do
território e da população.
Desnecessária para José. "A
Colômbia não teria capacidade de nos atacar. Porque a
Venezuela é apoiada por
muitos países. Se eles vêm,
vão tomar também."
Ainda na praça Bolívar, a
aposentada Beatriz Cisneros, 58, assistia à transmissão da reunião do Grupo do
Rio na chamada "esquina caliente", ponto de encontro de
partidários chavistas. "Temos que nos prevenir porque
temos petróleo, somos privilegiados", diz Beatriz. "Tenho medo de que os EUA queiram tomar nossos recursos.
Chávez faz bem em reforçar
a defesa do país."
Não é o que pensa o analista de sistemas alemão Renato Pratt, 50, há 30 anos em
Caracas. Para ele, o que Chávez fez foi "uma cagada".
"Chávez comprou aviões
russos de segunda mão. Em
oposição, a Colômbia tem
militares armados e muito
bem preparados. Numa
guerra entre os dois países, a
Venezuela se sairia muito
mal. Só serviria para aumentar a fome e a inflação."
Pratt acredita que o feitiço
pode se voltar contra o feiticeiro Chávez. "Ele não pode
nacionalizar as empresas colombianas porque outras
irão embora com medo.
Além disso, aqui há milhões
de colombianos. Quando forem votar nas eleições, é claro que votarão contra o presidente", diz o alemão.
A opinião coincide com a
de um desses colombianos
que moram em Caracas. Alberto Barrera, 31, motorista
de táxi, vive há 18 anos no
país. "Raúl Reyes era um terrorista. Por que Chávez se incomoda se o mataram?"
Barrera diz que sua família
se mudou para a Venezuela
numa época de mais oportunidades por aqui. "Hoje, se
Chávez começar a endurecer, volto para o meu país."
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