São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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Crise divide opiniões nas ruas de Caracas

ADRIANA KÜCHLER
DE CARACAS

Com o jornal apoiado num muro pichado com frases como "Uribe maldito", o aposentado José Tali, 73, explica as notícias a um amigo: "Viu? Prenderam o maior traficante de armas com as informações do computador de Raúl Reyes! É a prova de que o que diz a Colômbia é verdade."
"Chávez é um gorila sinistro e intrometido", diz Tali, para quem o presidente venezuelano não tinha que ter se metido no conflito alheio. "Não há por que mover tropas. Isso cria suspeitas de que haja guerrilheiros das Farc na Venezuela e que Chávez queira protegê-los."
O conflito também é de opiniões nas ruas de Caracas, onde é difícil encontrar quem não tenha a sua. Esse era o assunto da conversa de dois fabricantes de sapatos ontem na praça Bolívar, centro da cidade. José Rey, 35, critica o presidente colombiano, Álvaro Uribe. "Matar o Raúl Reyes tudo bem, mas ele fez mal em invadir um território que não era dele."
O amigo Arturo Barrios, 44, garante que a mobilização das tropas venezuelanas é uma forma de resguardo do território e da população. Desnecessária para José. "A Colômbia não teria capacidade de nos atacar. Porque a Venezuela é apoiada por muitos países. Se eles vêm, vão tomar também."
Ainda na praça Bolívar, a aposentada Beatriz Cisneros, 58, assistia à transmissão da reunião do Grupo do Rio na chamada "esquina caliente", ponto de encontro de partidários chavistas. "Temos que nos prevenir porque temos petróleo, somos privilegiados", diz Beatriz. "Tenho medo de que os EUA queiram tomar nossos recursos. Chávez faz bem em reforçar a defesa do país."
Não é o que pensa o analista de sistemas alemão Renato Pratt, 50, há 30 anos em Caracas. Para ele, o que Chávez fez foi "uma cagada". "Chávez comprou aviões russos de segunda mão. Em oposição, a Colômbia tem militares armados e muito bem preparados. Numa guerra entre os dois países, a Venezuela se sairia muito mal. Só serviria para aumentar a fome e a inflação."
Pratt acredita que o feitiço pode se voltar contra o feiticeiro Chávez. "Ele não pode nacionalizar as empresas colombianas porque outras irão embora com medo. Além disso, aqui há milhões de colombianos. Quando forem votar nas eleições, é claro que votarão contra o presidente", diz o alemão.
A opinião coincide com a de um desses colombianos que moram em Caracas. Alberto Barrera, 31, motorista de táxi, vive há 18 anos no país. "Raúl Reyes era um terrorista. Por que Chávez se incomoda se o mataram?"
Barrera diz que sua família se mudou para a Venezuela numa época de mais oportunidades por aqui. "Hoje, se Chávez começar a endurecer, volto para o meu país."


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