São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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Grupo jovem pró-Putin cria força policial própria

À Folha líder do Nashi nega intolerância nacionalista

Alexander Zemlianichenko - 03.mar.08/ Associated Press
Integrantes do movimento Nashi, de jovens pró-Putin, participam de marcha em Moscou contra a política externa norte-americana


IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Acostumado a ser comparada com os movimentos de jovens do nazismo, o Nashi parece não estar preocupado. Em meio a boatos de que estaria sendo desmantelado pelo Kremlin, começou um programa que na prática lhe dará força policial nos subúrbios das grandes cidades russas.
Alguém falou SA? Como as famosas Tropas de Assalto nazistas, que cresceram tanto que acabaram sendo dizimadas para não engolir o poder de Adolf Hitler, o Nashi parece decidido a deixar de ser um grupo marginal e virar uma parte do Estado.
"Começamos agora a treinar pequenas unidades, de dez membros cada, para manter a paz nos subúrbios. A polícia está nos dando treinamento e apoio psicológico. Queremos ser a sustentação do Rússia Unida", disse à Folha o líder do Nashi, Nikita Borovikov.
Esse advogado de 27 anos, aparência de 20, é o mais velho dos cinco membros do Comissariado Federal do Nashi ("Os Nossos", em russo), a cúpula do movimento. Em uma entrevista tensa, na qual ele levantou a voz várias vezes e falou ao seu celular cujo "ringtone" é o tema de 007, o rapaz admite que gostaria de ver o Nashi como força policial. O Rússia Unida, partido citado por Borovikov, foi criado para dar sustentação ao presidente Vladimir Putin.
Dmitri Medvedev, o aliado de Putin eleito como seu sucessor domingo passado, é visto como alguém que suspeita das intenções do Nashi e de grupos da chamada Putinjugend, a versão russa da Hitlerjugend (Juventude Hitlerista). Se é verdade, esqueceram de contar a Borovikov e seu exército de 120 mil apoiadores. "Nossa intenção é que Medvedev continue o que Putin fez. Como Putin estará lá [como premiê], não temos medo de mudança."
Nem Borovikov tem certeza se são 120 mil seus seguidores e fala apenas em "convênios com órgãos estatais" quando perguntado sobre financiamento. Fundado em 2004 como uma organização "democrática e antifascista" por Vassili Iakemenko, o grupo é visto como criação de Vladislav Surkov, eminência parda do Kremlin.
Segundo observadores russos, Surkov queria organizar movimentos jovens para ir à rua em caso de uma "revolução colorida", referência à "Revolução Laranja" que tentou tirar a Ucrânia da esfera direta de influência do Kremlin. Até aqui, com a ajuda de grupos como o Nashi e de uma economia movida a gás e petróleo caros, não se viu revolução na Rússia.
"Isso é exagero da imprensa. Nosso objetivo é sustentar as políticas de Putin e dar um rumo à juventude", sustenta Borovikov em sua minúscula sala.

Xenofobia
O Nashi ganhou notoriedade quando começou a perseguir o embaixador britânico em Moscou devido à rixa com Londres sobre a morte do ex-espião russo Alexander Litvinenko. "Esses grupos atacam nossos apoiadores e usam métodos fascistas", disse Garry Kasparov, o ex-campeão mundial de xadrez e líder oposicionista.
Perguntado se o nacionalismo do grupo não levaria à xenofobia, Borovikov perdeu a paciência. Levantou-se e chamou o repórter e seu intérprete para um corredor, mostrando cartazes com crianças centro-asiáticas e negras, vestidas com roupas típicas de seus países.
"Isso é nacionalismo? Isso é xenofobia? Nós estimulamos nossos jovens a conhecer outras culturas", disse. O cartaz era, para dizer o mínimo, etnocêntrico -na linha "veja como são os outros". O líder concedeu: "Todo mundo tem um pouco de xenofobia. Mas não é nada que vamos incitar".
"Não diria que é uma política deliberada, mas com certeza grupos como o Nashi incentivam atitudes intolerantes", rebate o diretor do Birô Moscovita de Direitos Humanos, Alexander Brod. Mas há defensores. "Prefiro ver esses adolescentes irem ouvir discursos de Putin ou fazerem atividades "antilaranja" do que ficarem se drogando em escadarias escuras", escreveu o analista Grigori Bovt. A idade média dos membros é 19 anos.
Não longe da sede do grupo, na estação Belorruskaia de metrô, dois jovens com casacos pesados vermelhos com o símbolo do Nashi distribuem panfletos. Um deles, Vladimir, fala um pouco de inglês. "Não gostamos de estrangeiros, eles não querem a Rússia forte", diz ele, indicando que apesar do discurso, o trabalho de Borovikov pode não ser apenas uma aula de educação cívica.


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