São Paulo, domingo, 08 de março de 2009

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Obama estuda negociar com Taleban

Presidente diz que revisão da estratégia afegã considera êxito no Iraque da aliança entre EUA e radicais sunitas contra Al Qaeda

Democrata não descarta sequestro de suspeitos de terrorismo, prática de Bush; ele ataca conservadores que o rotulam "socialista"


HELENE COOPER
SHERYL GAY STOLBERG
DO "NEW YORK TIMES"

O presidente Barack Obama afirmou que os EUA não estão vencendo a Guerra do Afeganistão e abriu caminho para conversas com integrantes "moderados" do Taleban como parte da estratégia para o país.
A declaração foi feita em entrevista ao "New York Times" na sexta, na qual Obama também tratou da crise econômica e negou que seja "socialista".
Ao falar sobre Afeganistão, sua principal frente no combate ao terrorismo, o presidente citou a tática aplicada no Iraque desde 2007, quando o Pentágono reforçou o contingente ao mesmo tempo que se aliou a milícias sunitas para isolar a Al Qaeda -cujos terroristas são sunitas e, no Iraque, visam a maioria xiita. A dupla iniciativa reduziu a violência no país.
"Há algumas oportunidades comparáveis no Afeganistão e na região paquistanesa", disse Obama. Questionado se os EUA estavam vencendo a guerra no Afeganistão, para onde enviará mais 17 mil soldados até agosto, respondeu secamente: "Não".
Obama já havia dito durante a campanha que a possibilidade de conversar com alguns integrantes do Taleban "deveria ser explorada". Agora, ele repete a ideia em meio à revisão da estratégia americana para o país.
"Ele [o general David Petraeus, hoje chefe do Comando Central dos EUA para Oriente Médio] argumentaria que parte do sucesso no Iraque incluiu conversar com pessoas que nós poderíamos considerar fundamentalistas islâmicos, mas que estavam dispostas a trabalhar conosco porque haviam sido completamente alienadas pelas táticas da Al Qaeda."
Obama ressalvou que a situação no Afeganistão é "mais complexa". "É uma região com menos governo, com um histórico de forte independência entre as tribos. Essas tribos são muitas e muitas vezes operam com objetivos cruzados. Então, decifrar tudo isso vai ser muito mais que um desafio."
Segundo estrategistas militares americanos, é uma tarefa complexa identificar quais elementos do Taleban seriam sensíveis a uma aproximação. Além disso, funcionários do governo criticaram o Paquistão por fazer um pacto com líderes do Taleban na porosa fronteira.
Obama não descartou a possibilidade de seu governo seguir aplicando, no combate ao terrorismo, as controversas capturas de suspeitos em outros países, mesmo que sem a colaboração do governo local onde foram encontrados.
"Nós não usamos tortura", disse o presidente, que também afirmou que os detidos pelos EUA teriam direito a habeas corpus. Mais tarde, seus assessores frisaram que o presidente aludia à decisão da Corte Suprema americana que deu acesso a recursos de defesa a prisioneiros de Guantánamo (Cuba), antes em um total limbo legal.
A ressalva se fez necessária porque, no mês passado, o governo Obama seguiu o de George W. Bush e argumentou que os detidos na base de Bagram, no Afeganistão, não têm direito a contestar a prisão na Justiça.

Socialismo e crise
Obama rejeitou a crítica de conservadores de que seu governo esteja levando o país ao "socialismo". Após a entrevista, ligou para os repórteres do "Times" para reafirmar que está governando de acordo com "os princípios do livre mercado".
"É difícil acreditar que você estava sendo inteiramente séria na pergunta sobre socialismo." Após seis semanas no poder, Obama afirmou que os americanos não devem temer o futuro. "Gostaria de ter o luxo de lidar apenas com uma modesta recessão ou com a reforma da saúde ou com a [questão da ] energia ou apenas com o Iraque ou apenas com o Afeganistão", disse. "Não tenho, e acho que o povo americano também não."


Leia a entrevista
www.folha.com.br/090661



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