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Obama estuda negociar com Taleban
Presidente diz que revisão da estratégia afegã considera êxito no Iraque da aliança entre EUA e radicais sunitas contra Al Qaeda
Democrata não descarta sequestro de suspeitos de terrorismo, prática de Bush; ele ataca conservadores
que o rotulam "socialista"
HELENE COOPER
SHERYL GAY STOLBERG
DO "NEW YORK TIMES"
O presidente Barack Obama
afirmou que os EUA não estão
vencendo a Guerra do Afeganistão e abriu caminho para
conversas com integrantes
"moderados" do Taleban como
parte da estratégia para o país.
A declaração foi feita em entrevista ao "New York Times" na
sexta, na qual Obama também
tratou da crise econômica e negou que seja "socialista".
Ao falar sobre Afeganistão,
sua principal frente no combate ao terrorismo, o presidente
citou a tática aplicada no Iraque desde 2007, quando o Pentágono reforçou o contingente
ao mesmo tempo que se aliou a
milícias sunitas para isolar a Al
Qaeda -cujos terroristas são
sunitas e, no Iraque, visam a
maioria xiita. A dupla iniciativa
reduziu a violência no país.
"Há algumas oportunidades
comparáveis no Afeganistão e
na região paquistanesa", disse
Obama. Questionado se os EUA
estavam vencendo a guerra no
Afeganistão, para onde enviará
mais 17 mil soldados até agosto,
respondeu secamente: "Não".
Obama já havia dito durante
a campanha que a possibilidade
de conversar com alguns integrantes do Taleban "deveria ser
explorada". Agora, ele repete a
ideia em meio à revisão da estratégia americana para o país.
"Ele [o general David Petraeus, hoje chefe do Comando
Central dos EUA para Oriente
Médio] argumentaria que parte
do sucesso no Iraque incluiu
conversar com pessoas que nós
poderíamos considerar fundamentalistas islâmicos, mas que
estavam dispostas a trabalhar
conosco porque haviam sido
completamente alienadas pelas táticas da Al Qaeda."
Obama ressalvou que a situação no Afeganistão é "mais
complexa". "É uma região com
menos governo, com um histórico de forte independência entre as tribos. Essas tribos são
muitas e muitas vezes operam
com objetivos cruzados. Então,
decifrar tudo isso vai ser muito
mais que um desafio."
Segundo estrategistas militares americanos, é uma tarefa
complexa identificar quais elementos do Taleban seriam sensíveis a uma aproximação.
Além disso, funcionários do governo criticaram o Paquistão
por fazer um pacto com líderes
do Taleban na porosa fronteira.
Obama não descartou a possibilidade de seu governo seguir aplicando, no combate ao
terrorismo, as controversas
capturas de suspeitos em outros países, mesmo que sem a
colaboração do governo local
onde foram encontrados.
"Nós não usamos tortura",
disse o presidente, que também
afirmou que os detidos pelos
EUA teriam direito a habeas
corpus. Mais tarde, seus assessores frisaram que o presidente
aludia à decisão da Corte Suprema americana que deu acesso a recursos de defesa a prisioneiros de Guantánamo (Cuba),
antes em um total limbo legal.
A ressalva se fez necessária
porque, no mês passado, o governo Obama seguiu o de George W. Bush e argumentou que
os detidos na base de Bagram,
no Afeganistão, não têm direito
a contestar a prisão na Justiça.
Socialismo e crise
Obama rejeitou a crítica de
conservadores de que seu governo esteja levando o país ao
"socialismo". Após a entrevista,
ligou para os repórteres do "Times" para reafirmar que está
governando de acordo com "os
princípios do livre mercado".
"É difícil acreditar que você estava sendo inteiramente séria
na pergunta sobre socialismo."
Após seis semanas no poder,
Obama afirmou que os americanos não devem temer o futuro. "Gostaria de ter o luxo de lidar apenas com uma modesta
recessão ou com a reforma da
saúde ou com a [questão da ]
energia ou apenas com o Iraque
ou apenas com o Afeganistão",
disse. "Não tenho, e acho que o
povo americano também não."
Leia a entrevista
www.folha.com.br/090661
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