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Sul-americanos e árabes acenam aos EUA
Quatro anos após Cúpula de Brasília, líderes de 34 países adotarão no Qatar declaração conciliadora com nova Casa Branca
Primeiro encontro havia sido marcado por duas críticas a George W. Bush; Lula, Bachelet, Cristina e Chávez devem ir a Doha
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio a expectativas de
mudanças geopolíticas acarretadas pelo novo governo dos
EUA, a segunda Cúpula América do Sul-Países Árabes (CASPA) levará no fim deste mês líderes de 34 países a um encontro em Doha, Qatar, que sucede
a primeira edição, realizada em
Brasília há quatro anos sob iniciativa do governo brasileiro.
Segundo a Folha apurou, a
principal diferença entre as
duas cúpulas, caracterizadas
como eventos essencialmente
políticos, é a posição conjunta
em relação à Casa Branca.
Em 2005, o governo do então
presidente George W. Bush havia sido alvo de vigorosa condenação dos participantes da 1ª
CASPA. A Declaração de Brasília criticava nominalmente a
ingerência no Iraque, a política
externa unilateral e as sanções
econômicas à Síria.
A julgar pelos preparativos
da Declaração de Doha, que está quase pronta, a chegada ao
poder de Barack Obama apaziguou os ânimos de governos
sul-americanos e árabes. O democrata se elegeu no fim do
ano passado prometendo retirar as tropas americanas no
Iraque, acabar com o belicismo
de Bush e adotar uma política
externa multilateral.
Diplomatas envolvidos na
redação do documento da 2ª
CASPA afirmam que, salvo mudanças de última hora, os EUA
serão alvo não mais de críticas
diretas, mas de acenos e sinais
de disposição ao diálogo.
Países que ainda mantêm relações tensas com Washington,
como Venezuela e Síria, pressionam pela inclusão de cobranças ou advertências a Obama, mas especula-se que as
menções, se incluídas, acabarão diluídas no tom predominante entre participantes.
Segundo justificou um diplomata em tom de brincadeira,
"ainda nem há o que criticar
[por parte de Obama]".
Gaza
O ponto mais controverso do
texto é o parágrafo, ainda motivo de debate entre delegações,
envolvendo a menção a Israel.
Os 34 governos da CASPA
concordam em reiterar a cobrança, feita em 2005, pela retirada dos territórios ocupados
na Guerra dos Seis Dias, em
1967 -Cisjordânia, colinas de
Golã (Síria) e fazendas de Chebaa (Líbano). Mas divergem sobre a condenação às recentes
três semanas de ataque contra
o Hamas em Gaza.
Argentina, pela histórica ligação com a comunidade judaica, e Egito, aliado de Israel, exigem que o Hamas também seja
responsabilizado pela guerra
em Gaza por disparar foguetes.
O texto terá ainda alguns
apelos previsíveis, como pedidos pela reconciliação étnico-confessional dos iraquianos e
por uma "solução justa" na disputa entre Argentina e Reino
Unido pelas ilhas Malvinas.
Para tentar garantir uma
maior afluência de chefes de
Estado árabes -apenas 5 em 22
haviam ido a Brasília- o governo do Qatar decidiu iniciar a
CASPA na manhã do dia 31, no
mesmo momento em que será
finalizada a Cúpula da Liga
Árabe, também em Doha.
Com exceção do rei de Marrocos, avesso a reuniões internacionais, espera-se a participação de todos os líderes árabes. Do lado sul-americano,
além de Luiz Inácio Lula da Silva, a chilena Michele Bachelet,
a argentina Cristina Kirchner,
o venezuelano Hugo Chávez e o
peruano Alan García confirmaram presença.
Embora o evento tenha pouca vocação econômica, as delegações debaterão maneiras
conjuntas de enfrentar a crise e
participarão de um seminário
empresarial.
Colaborou THIAGO GUIMARÃES ,
de Buenos Aires
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