São Paulo, domingo, 08 de março de 2009

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Sul-americanos e árabes acenam aos EUA

Quatro anos após Cúpula de Brasília, líderes de 34 países adotarão no Qatar declaração conciliadora com nova Casa Branca

Primeiro encontro havia sido marcado por duas críticas a George W. Bush; Lula, Bachelet, Cristina e Chávez devem ir a Doha


SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio a expectativas de mudanças geopolíticas acarretadas pelo novo governo dos EUA, a segunda Cúpula América do Sul-Países Árabes (CASPA) levará no fim deste mês líderes de 34 países a um encontro em Doha, Qatar, que sucede a primeira edição, realizada em Brasília há quatro anos sob iniciativa do governo brasileiro.
Segundo a Folha apurou, a principal diferença entre as duas cúpulas, caracterizadas como eventos essencialmente políticos, é a posição conjunta em relação à Casa Branca.
Em 2005, o governo do então presidente George W. Bush havia sido alvo de vigorosa condenação dos participantes da 1ª CASPA. A Declaração de Brasília criticava nominalmente a ingerência no Iraque, a política externa unilateral e as sanções econômicas à Síria.
A julgar pelos preparativos da Declaração de Doha, que está quase pronta, a chegada ao poder de Barack Obama apaziguou os ânimos de governos sul-americanos e árabes. O democrata se elegeu no fim do ano passado prometendo retirar as tropas americanas no Iraque, acabar com o belicismo de Bush e adotar uma política externa multilateral.
Diplomatas envolvidos na redação do documento da 2ª CASPA afirmam que, salvo mudanças de última hora, os EUA serão alvo não mais de críticas diretas, mas de acenos e sinais de disposição ao diálogo.
Países que ainda mantêm relações tensas com Washington, como Venezuela e Síria, pressionam pela inclusão de cobranças ou advertências a Obama, mas especula-se que as menções, se incluídas, acabarão diluídas no tom predominante entre participantes. Segundo justificou um diplomata em tom de brincadeira, "ainda nem há o que criticar [por parte de Obama]".

Gaza
O ponto mais controverso do texto é o parágrafo, ainda motivo de debate entre delegações, envolvendo a menção a Israel.
Os 34 governos da CASPA concordam em reiterar a cobrança, feita em 2005, pela retirada dos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias, em 1967 -Cisjordânia, colinas de Golã (Síria) e fazendas de Chebaa (Líbano). Mas divergem sobre a condenação às recentes três semanas de ataque contra o Hamas em Gaza.
Argentina, pela histórica ligação com a comunidade judaica, e Egito, aliado de Israel, exigem que o Hamas também seja responsabilizado pela guerra em Gaza por disparar foguetes. O texto terá ainda alguns apelos previsíveis, como pedidos pela reconciliação étnico-confessional dos iraquianos e por uma "solução justa" na disputa entre Argentina e Reino Unido pelas ilhas Malvinas.
Para tentar garantir uma maior afluência de chefes de Estado árabes -apenas 5 em 22 haviam ido a Brasília- o governo do Qatar decidiu iniciar a CASPA na manhã do dia 31, no mesmo momento em que será finalizada a Cúpula da Liga Árabe, também em Doha.
Com exceção do rei de Marrocos, avesso a reuniões internacionais, espera-se a participação de todos os líderes árabes. Do lado sul-americano, além de Luiz Inácio Lula da Silva, a chilena Michele Bachelet, a argentina Cristina Kirchner, o venezuelano Hugo Chávez e o peruano Alan García confirmaram presença.
Embora o evento tenha pouca vocação econômica, as delegações debaterão maneiras conjuntas de enfrentar a crise e participarão de um seminário empresarial.


Colaborou THIAGO GUIMARÃES ,
de Buenos Aires


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