São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

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Atentados matam 38, mas não detêm voto de iraquianos

Não foi divulgada estimativa oficial, mas alto comparecimento de eleitores em crucial eleição legislativa é louvado por Obama

Pelas zonas eleitorais de Bagdá, cidadãos orgulhosos foram às urnas carregando bandeiras do Iraque para pleito que tenta reunir país

Karim Kadim/Associated Press
Iraquianos observam prédio destruído por explosão em Bagdá

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

O rugido de fortes explosões sacudiu o amanhecer ontem em Bagdá, minutos antes da abertura das urnas para uma eleição parlamentar que grupos insurgentes haviam jurado manchar de sangue.
As bombas não foram suficientes para impedir um alto comparecimento dos iraquianos, evidenciando o apego ao voto de todas as facções do país. Não foi divulgada uma estimativa oficial de presença.
Os ataques deixaram ao menos 38 mortos pelo país, quase todos na capital, apesar de um esquema de segurança que fechou as fronteiras e mobilizou centenas de milhares de policiais e soldados.
A violência maculou uma eleição tida como um avanço na consolidação da democracia iraquiana e cujos resultados só serão conhecidos dentro de alguns dias. Com a participação neste ano da influente minoria sunita, que boicotara o pleito de 2005, aumentam as chances de um resultado apertado que leve a um governo de coalizão.
Conversas para a formação de um gabinete podem levar meses, deixando um vácuo de poder prejudicial aos atuais esforços anti-insurgência.
A primeira explosão foi ouvida em Bagdá às 6h50, quando faltavam dez minutos para a abertura dos centros de votação. Uma segunda explosão veio em seguida.
Estava claro a partir dali que o autodenominado braço iraquiano da sunita Al Qaeda cumpriria a promessa de lançar ataques contra o pleito, visto como ilegítimo e favorável à maioria xiita do país (60%).
Os estouros vinham de dois atentados ocorridos em Ur, um bairro popular ao norte de Bagdá. No mais letal, 25 pessoas morreram quando um míssil Katyusha destruiu o prédio onde moravam. A dois quilômetros dali, uma casa desabou na explosão de uma bomba, matando seis pessoas. Os demais ataques foram lançados com granadas e morteiros.
Na medida em que as ações mais severas do dia não visaram alvos diretamente relacionados ao pleito, suspeita-se que tenham sido improvisadas diante das dificuldades em carregar explosivos pela cidade devido a postos de controle em praticamente todas as ruas.
O secretário da Defesa americano, Robert Gates, disse que a melhora da segurança observada desde 2007 forçou os insurgentes a adotar novas táticas. Ele disse que "no geral, [ontem] foi um bom dia para os iraquianos e para todos nós".
Os EUA mantêm hoje no Iraque 96 mil militares, que desde a metade do ano passado delegaram a responsabilidade pela segurança do país às tropas iraquianas. Pacto firmado entre Washington e Bagdá estipula a retirada total do contingente americano até o fim de 2011.

Unidade
A eleição de ontem reforçou o sentimento de unidade nacional no Iraque, um país dilacerado por décadas de rivalidades étnicas e religiosas.
Uma hora após as explosões, os centros de votação já registravam movimentação significativa. Muitos eleitores compareceram acompanhados dos filhos. Também foram votar idosos amparados pelos netos e cadeirantes ajudados por policiais. Muitos carregavam bandeiras do Iraque.
Eleitores exibiam com orgulho o dedo sujo de tinta, técnica antirrepetição de votos que virou símbolo do pleito.
"Ouvi o barulho das explosões de manhã, mas faço questão de exercer meu direito de voto. É a única maneira de termos melhorias no país", disse Suad Daulani, 38. Muitos eleitores alegaram não se impressionar mais com atentados. Houve quem dissesse não ser problema morrer pelo país.
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse ter "um profundo respeito pelos milhões de iraquianos que não se deixaram intimidar pela violência e exerceram seu direito de voto".
A eleição iraquiana renova os 325 assentos do Parlamento. Os mais cotados para conduzir o novo governo, que só deve ser formado após longas semanas de negociação para formação de coalizão, são o atual premiê, Nuri al Maliki e seu antecessor Ayad Allawi, ambos xiitas.


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