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Atentados matam 38, mas não detêm voto de iraquianos
Não foi divulgada estimativa oficial, mas alto comparecimento de eleitores em crucial eleição legislativa é louvado por Obama
Pelas zonas eleitorais de Bagdá, cidadãos orgulhosos foram às urnas carregando bandeiras do Iraque para pleito que tenta reunir país
Karim Kadim/Associated Press
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Iraquianos observam prédio destruído por explosão em Bagdá
SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ
O rugido de fortes explosões
sacudiu o amanhecer ontem
em Bagdá, minutos antes da
abertura das urnas para uma
eleição parlamentar que grupos insurgentes haviam jurado
manchar de sangue.
As bombas não foram suficientes para impedir um alto
comparecimento dos iraquianos, evidenciando o apego ao
voto de todas as facções do país.
Não foi divulgada uma estimativa oficial de presença.
Os ataques deixaram ao menos 38 mortos pelo país, quase
todos na capital, apesar de um
esquema de segurança que fechou as fronteiras e mobilizou
centenas de milhares de policiais e soldados.
A violência maculou uma
eleição tida como um avanço na
consolidação da democracia
iraquiana e cujos resultados só
serão conhecidos dentro de alguns dias. Com a participação
neste ano da influente minoria
sunita, que boicotara o pleito
de 2005, aumentam as chances
de um resultado apertado que
leve a um governo de coalizão.
Conversas para a formação
de um gabinete podem levar
meses, deixando um vácuo de
poder prejudicial aos atuais esforços anti-insurgência.
A primeira explosão foi ouvida em Bagdá às 6h50, quando
faltavam dez minutos para a
abertura dos centros de votação. Uma segunda explosão
veio em seguida.
Estava claro a partir dali que
o autodenominado braço iraquiano da sunita Al Qaeda
cumpriria a promessa de lançar
ataques contra o pleito, visto
como ilegítimo e favorável à
maioria xiita do país (60%).
Os estouros vinham de dois
atentados ocorridos em Ur, um
bairro popular ao norte de Bagdá. No mais letal, 25 pessoas
morreram quando um míssil
Katyusha destruiu o prédio onde moravam. A dois quilômetros dali, uma casa desabou na
explosão de uma bomba, matando seis pessoas. Os demais
ataques foram lançados com
granadas e morteiros.
Na medida em que as ações
mais severas do dia não visaram alvos diretamente relacionados ao pleito, suspeita-se que
tenham sido improvisadas
diante das dificuldades em carregar explosivos pela cidade devido a postos de controle em
praticamente todas as ruas.
O secretário da Defesa americano, Robert Gates, disse que
a melhora da segurança observada desde 2007 forçou os insurgentes a adotar novas táticas. Ele disse que "no geral, [ontem] foi um bom dia para os iraquianos e para todos nós".
Os EUA mantêm hoje no Iraque 96 mil militares, que desde
a metade do ano passado delegaram a responsabilidade pela
segurança do país às tropas iraquianas. Pacto firmado entre
Washington e Bagdá estipula a
retirada total do contingente
americano até o fim de 2011.
Unidade
A eleição de ontem reforçou
o sentimento de unidade nacional no Iraque, um país dilacerado por décadas de rivalidades
étnicas e religiosas.
Uma hora após as explosões,
os centros de votação já registravam movimentação significativa. Muitos eleitores compareceram acompanhados dos filhos. Também foram votar idosos amparados pelos netos e cadeirantes ajudados por policiais. Muitos carregavam bandeiras do Iraque.
Eleitores exibiam com orgulho o dedo sujo de tinta, técnica
antirrepetição de votos que virou símbolo do pleito.
"Ouvi o barulho das explosões de manhã, mas faço questão de exercer meu direito de
voto. É a única maneira de termos melhorias no país", disse
Suad Daulani, 38. Muitos eleitores alegaram não se impressionar mais com atentados.
Houve quem dissesse não ser
problema morrer pelo país.
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse ter "um profundo respeito pelos milhões
de iraquianos que não se deixaram intimidar pela violência e
exerceram seu direito de voto".
A eleição iraquiana renova os
325 assentos do Parlamento.
Os mais cotados para conduzir
o novo governo, que só deve ser
formado após longas semanas
de negociação para formação
de coalizão, são o atual premiê,
Nuri al Maliki e seu antecessor
Ayad Allawi, ambos xiitas.
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