São Paulo, terça-feira, 08 de março de 2011

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Rebeldes do oeste pedem ação aérea imediata

Em Nalut, insurgentes creem que só

Veículos com placa líbia abarrotados de comida, água e remédios passam pela fronteira com a Tunísia com frequência

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A NALUT (LÍBIA)

Uma das raras cidades a oeste da Líbia a permanecer sob total domínio rebelde, Nalut se prepara para uma longa resistência, mas pede ajuda internacional urgente.
"Impor uma zona de exclusão aérea à Líbia é indispensável. Sem poder usar seus aviões, Gaddafi cairia rápido", afirma Khairi Taleb, 42, um dos civis locais que pegaram nas armas para expulsar policiais e agentes do regime, há dez dias.
O raciocínio de Taleb, amplamente aceito pelos rebeldes de leste a oeste, é que só bombardeios permitiriam ao regime recuperar as áreas perdidas para a insurgência.
No combate terrestre, as tropas líbias serão derrotadas, garante o guerrilheiro.
Mas, se Nalut voltar às mãos do governo, Gaddafi ficará perto de decretar controle sobre quase todo o extremo oeste da Líbia.
A seu favor, os rebeldes de Nalut têm a posição estratégica da cidade, construída no topo de uma montanha íngreme, dominando uma ampla planície a mais de 600 metros de altitude.
Qualquer aproximação inimiga por terra seria percebida a dezenas de quilômetros de distância pelos jovens moradores equipados com binóculos e que passam o dia observando o horizonte.
Nalut também tira proveito de sua proximidade com a Tunísia -a cidade tunisiana de Dehiba fica a 70 km.
Obrigados a evitar a fronteira com medo de serem capturados pelo Exército, rebeldes a bordo de picapes recorrem à malha de pistas clandestinas que normalmente eram utilizadas apenas por contrabandistas.
Em Dehiba, caminhonetes com placa líbia abarrotadas de comida, água e remédios circulam com frequência.
Mas, antes das pistas de areia e pedra, a viagem Nalut-Dehiba passa por uma estrada líbia sujeita a controles militares e que atravessa aldeias favoráveis ao regime.
A orientação para aqueles que se arriscam é pisar fundo e não parar em hipótese alguma -o trunfo do qual a população de Nalut mais se orgulha é a coragem.
"A vida nas montanhas do deserto construiu nosso caráter. Somos homens de verdade e cada um faz a sua parte para ajudar a resistência", diz Bachir, 35, um dos líderes rebeldes. Ele promete lançar uma ofensiva a leste se o regime perder Sirte.
Bachir diz que a bravura e a solidariedade são traços marcantes de sua etnia berbere, minoria espalhada por todo o norte da África que tem língua e cultura diferentes da árabe.
Ele levou a Folha a uma casa onde dois homens cortavam a carne de um dromedário recém-degolado para distribui-la aos mais pobres.

CERCO
Mas os moradores de Nalut sabem que sua cidade pode facilmente ter todos os acessos cercados por militares, tornando-se vulnerável à penúria e alvo fácil de um ataque aéreo.
Rebeldes ficarão mais expostos se Zawiyah for retomada pelo governo.
Nalut também conta com poucas armas -alguns Kalashnikovs tirados dos estoques militares, esparsos revólveres e facões.
Fontes tunisianas admitiram à Folha que fecham os olhos para a circulação de mantimentos, mas dizem que não tolerariam que seu país se tornasse rota de abastecimento de armas.
Apesar da precariedade das condições, todos os moradores de Nalut com quem a reportagem conversou rejeitam uma invasão externa.
O guerrilheiro Taleb afirma que apenas os Estados Unidos cogitam esse cenário. "A Europa pensa diferente e nos ajudará a lutar com nossos próprios meios."


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