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PÓS-GUERRA
Em Belfast, líderes discutem forma do governo de transição; ONU deve "participar", diz Powell
Bush e Blair traçam futuro do Iraque
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O presidente dos EUA, George
W. Bush, e o premiê britânico,
Tony Blair, iniciaram ontem em
Belfast, Irlanda do Norte, discussões mais conclusivas sobre o Iraque pós-guerra e a participação
da ONU na reconstrução do país.
O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, que
acompanhou Bush na viagem,
afirmou que EUA e Reino Unido
devem "liderar" o processo de
transição. "Os países da coalizão
assumiram o risco político da invasão. E o estamos pagando com
vidas", justificou Powell.
Ele disse que os EUA vão enviar
nesta semana ao Iraque um grupo
de exilados para começar a formar um "governo de transição".
"Estamos nos preparando para
uma fase de pós-hostilidades, onde uma resolução da ONU poderia ser útil e apropriada. Discutimos agora o tipo de governo de
transição que devemos ter, e não
há dúvidas de que as Nações Unidas devem participar", disse.
Powell afirmou que passou boa
parte do fim de semana em conversas com o secretário-geral da
ONU, Kofi Annan, sobre o futuro
do Iraque. Ontem, Annan disse
que a ONU deverá ter um papel
"fundamental" na ajuda humanitária e que o governo provisório
no país deve ser apenas "uma
ponte" para a constituição de
uma autoridade definitiva.
A questão que Bush e Blair devem tentar responder em entrevista hoje, depois de passarem a
noite no castelo de Hillsborough,
é qual a composição do governo
de transição que querem formar.
Powell adiantou que os dois líderes, que se encontraram ontem
pela terceira vez em três semanas,
devem dizer hoje que a campanha
no Iraque está indo "excepcionalmente bem".
Interesses
Dentro da ONU, são consideradas limitadas as chances de o
Conselho de Segurança aprovar
uma resolução para participar do
Iraque pós-guerra se o Pentágono
estiver na liderança de um processo de transição muito longo.
Os EUA estimam esse prazo em
pelo menos seis meses.
Desde o início, Bush vem tentando fazer prevalecer a constituição de um governo provisório no
Iraque comandado pelo general
reformado Jay Garner.
Já baseado no Kuait e fazendo
planos para o Iraque, Garner comanda o Escritório para Reconstrução e Ajuda Humanitária, órgão criado por uma diretiva de
Bush há meses e sob o comando
estrito do Pentágono.
A intenção dos militares é constituir um governo provisório formado, principalmente, por iraquianos exilados nos Estados
Unidos -particularmente os
pertencentes ao grupo de Ahmed
Chalabi, presidente do chamado
Congresso Nacional Iraquiano.
Chalabi, que já sofreu condenação na Jordânia por fraudes, está
há 45 anos fora do Iraque e tem ligações estreitas com o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, e
com o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld.
Alguns congressistas em Washington suspeitam de que um Iraque comandado por militares e
pelo grupo de Chalabi venha a favorecer empresas ligadas a figuras
do núcleo do Partido Republicano de Bush.
Chalabi tem, por exemplo, relações de anos com o ex-diretor da
CIA (o serviço secreto americano)
James Woolsey e com o ex-assessor especial do Pentágono Richard Perle, ambos acusados de
prestar consultoria a empresas
que têm negócios bilionários com
o Departamento de Defesa.
Woolsey também é cotado para
assumir uma posição de comando na transição iraquiana.
Membros permanentes do
Conselho de Segurança da ONU,
França e Rússia também têm interesse no Iraque pós-guerra. Os
dois países afirmam ter dívidas a
receber do Iraque da ordem de
US$ 11 bilhões.
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