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São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2003

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PÓS-GUERRA

Em Belfast, líderes discutem forma do governo de transição; ONU deve "participar", diz Powell

Bush e Blair traçam futuro do Iraque

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, George W. Bush, e o premiê britânico, Tony Blair, iniciaram ontem em Belfast, Irlanda do Norte, discussões mais conclusivas sobre o Iraque pós-guerra e a participação da ONU na reconstrução do país.
O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, que acompanhou Bush na viagem, afirmou que EUA e Reino Unido devem "liderar" o processo de transição. "Os países da coalizão assumiram o risco político da invasão. E o estamos pagando com vidas", justificou Powell.
Ele disse que os EUA vão enviar nesta semana ao Iraque um grupo de exilados para começar a formar um "governo de transição".
"Estamos nos preparando para uma fase de pós-hostilidades, onde uma resolução da ONU poderia ser útil e apropriada. Discutimos agora o tipo de governo de transição que devemos ter, e não há dúvidas de que as Nações Unidas devem participar", disse.
Powell afirmou que passou boa parte do fim de semana em conversas com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, sobre o futuro do Iraque. Ontem, Annan disse que a ONU deverá ter um papel "fundamental" na ajuda humanitária e que o governo provisório no país deve ser apenas "uma ponte" para a constituição de uma autoridade definitiva.
A questão que Bush e Blair devem tentar responder em entrevista hoje, depois de passarem a noite no castelo de Hillsborough, é qual a composição do governo de transição que querem formar.
Powell adiantou que os dois líderes, que se encontraram ontem pela terceira vez em três semanas, devem dizer hoje que a campanha no Iraque está indo "excepcionalmente bem".

Interesses
Dentro da ONU, são consideradas limitadas as chances de o Conselho de Segurança aprovar uma resolução para participar do Iraque pós-guerra se o Pentágono estiver na liderança de um processo de transição muito longo.
Os EUA estimam esse prazo em pelo menos seis meses.
Desde o início, Bush vem tentando fazer prevalecer a constituição de um governo provisório no Iraque comandado pelo general reformado Jay Garner.
Já baseado no Kuait e fazendo planos para o Iraque, Garner comanda o Escritório para Reconstrução e Ajuda Humanitária, órgão criado por uma diretiva de Bush há meses e sob o comando estrito do Pentágono.
A intenção dos militares é constituir um governo provisório formado, principalmente, por iraquianos exilados nos Estados Unidos -particularmente os pertencentes ao grupo de Ahmed Chalabi, presidente do chamado Congresso Nacional Iraquiano.
Chalabi, que já sofreu condenação na Jordânia por fraudes, está há 45 anos fora do Iraque e tem ligações estreitas com o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, e com o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld.
Alguns congressistas em Washington suspeitam de que um Iraque comandado por militares e pelo grupo de Chalabi venha a favorecer empresas ligadas a figuras do núcleo do Partido Republicano de Bush.
Chalabi tem, por exemplo, relações de anos com o ex-diretor da CIA (o serviço secreto americano) James Woolsey e com o ex-assessor especial do Pentágono Richard Perle, ambos acusados de prestar consultoria a empresas que têm negócios bilionários com o Departamento de Defesa.
Woolsey também é cotado para assumir uma posição de comando na transição iraquiana.
Membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, França e Rússia também têm interesse no Iraque pós-guerra. Os dois países afirmam ter dívidas a receber do Iraque da ordem de US$ 11 bilhões.


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