São Paulo, sexta-feira, 08 de abril de 2005

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GUERRA SANTA

Convidada por Lula, Mãe Nitinha se atrasou

Mãe-de-santo perde vôo presidencial

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

O candomblé perdeu sua representante na comitiva multirreligiosa que seguiu com o presidente Luís Inácio Lula da Silva para Roma. Mãe Nitinha de Oxum, 73, chegou atrasada ao aeroporto Antonio Carlos Jobim, no Rio, e não conseguiu viajar para Brasília, onde embarcaria no Aerolula.
"Não fiquei triste não. Estou contente, porque fui escolhida para acompanhar o presidente Lula, que é uma pessoa muito especial para mim. E não botaram outra no meu lugar", afirmou a mãe-de-santo baiana em sua casa, em Nova Iguaçu (Baixada Fluminense).
Areonithe da Conceição Chagas chegou ao aeroporto às 21h35, cinco minutos após o horário do vôo 2076. Ela e seu filho tentaram convencer um funcionário da Varig a retardar a decolagem do avião, que já tinha recolhido as escadas, mas não conseguiram.
"Ele não disse, mas ficou claro que não acreditou que eu fosse viajar com o presidente para Roma", disse ela. Segundo a Varig, o funcionário seguiu as normas da empresa.
O Palácio do Planalto ainda tentou fazer com que Mãe Nitinha viajasse de madrugada para Recife, onde o Aerolula faria escala e a pegaria. Dinheiro seria depositado na conta bancária da mãe-de-santo, que compraria a passagem. Mas surgiu um problema: Mãe Nitinha não tem conta bancária. Sugeriu a de seu filho, mas uma funcionária do governo disse que isso não era permitido.
A mãe-de-santo reconhece que sua demora em aceitar o convite presidencial contribuiu para o atraso. Consultada na segunda-feira, disse não, por temer o cansaço da viagem. Na terça, disse sim, e o Planalto lhe enviou uma carta autorizando-a a furar a fila do passaporte. Foi à Polícia Federal anteontem e tirou o documento.
Voltou, então, para Miguel Couto, o bairro pobre e afastado de Nova Iguaçu onde mora. Arrumou as malas com os trajes brancos que representam o luto no candomblé e foi para o aeroporto. Mas aí já era tarde.
"Vou rezar daqui pela alma do papa. Ele era uma pessoa muito boa, muito gente. Não falava mal das outras religiões. Era um santo", disse a mãe-de-santo, que no sábado suspendeu as "obrigações" [atividades] do terreiro em homenagem a João Paulo 2º.
Ao saber que o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, havia dito que ela não viajara graças à força dos católicos, Mãe Nitinha lembrou que também é católica: foi batizada, fez primeira comunhão e, em Salvador, participa de missas dedicadas a alguns santos, como São Jorge e São Pedro.
Ela diz ter boa relação com os pastores das várias igrejas evangélicas próximas à sua casa. "Tem gente [evangélica] que até me pede bênção."
Lula foi levado para almoçar em sua casa em 2002, durante a campanha presidencial, mas, segundo ela, ficou só um pouco e quase não comeu.


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