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GUERRA SANTA
Convidada por Lula, Mãe Nitinha se atrasou
Mãe-de-santo perde vôo presidencial
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
O candomblé perdeu sua representante na comitiva multirreligiosa que seguiu com o
presidente Luís Inácio Lula da
Silva para Roma. Mãe Nitinha
de Oxum, 73, chegou atrasada
ao aeroporto Antonio Carlos
Jobim, no Rio, e não conseguiu
viajar para Brasília, onde embarcaria no Aerolula.
"Não fiquei triste não. Estou
contente, porque fui escolhida
para acompanhar o presidente
Lula, que é uma pessoa muito
especial para mim. E não botaram outra no meu lugar", afirmou a mãe-de-santo baiana
em sua casa, em Nova Iguaçu
(Baixada Fluminense).
Areonithe da Conceição Chagas chegou ao aeroporto às
21h35, cinco minutos após o
horário do vôo 2076. Ela e seu
filho tentaram convencer um
funcionário da Varig a retardar
a decolagem do avião, que já tinha recolhido as escadas, mas
não conseguiram.
"Ele não disse, mas ficou claro que não acreditou que eu
fosse viajar com o presidente
para Roma", disse ela. Segundo
a Varig, o funcionário seguiu as
normas da empresa.
O Palácio do Planalto ainda
tentou fazer com que Mãe Nitinha viajasse de madrugada para Recife, onde o Aerolula faria
escala e a pegaria. Dinheiro seria depositado na conta bancária da mãe-de-santo, que compraria a passagem. Mas surgiu
um problema: Mãe Nitinha
não tem conta bancária. Sugeriu a de seu filho, mas uma funcionária do governo disse que
isso não era permitido.
A mãe-de-santo reconhece
que sua demora em aceitar o
convite presidencial contribuiu
para o atraso. Consultada na
segunda-feira, disse não, por
temer o cansaço da viagem. Na
terça, disse sim, e o Planalto lhe
enviou uma carta autorizando-a a furar a fila do passaporte.
Foi à Polícia Federal anteontem
e tirou o documento.
Voltou, então, para Miguel
Couto, o bairro pobre e afastado de Nova Iguaçu onde mora.
Arrumou as malas com os trajes brancos que representam o
luto no candomblé e foi para o
aeroporto. Mas aí já era tarde.
"Vou rezar daqui pela alma
do papa. Ele era uma pessoa
muito boa, muito gente. Não
falava mal das outras religiões.
Era um santo", disse a mãe-de-santo, que no sábado suspendeu as "obrigações" [atividades] do terreiro em homenagem a João Paulo 2º.
Ao saber que o presidente da
Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, havia dito que
ela não viajara graças à força
dos católicos, Mãe Nitinha
lembrou que também é católica: foi batizada, fez primeira
comunhão e, em Salvador, participa de missas dedicadas a alguns santos, como São Jorge e
São Pedro.
Ela diz ter boa relação com os
pastores das várias igrejas
evangélicas próximas à sua casa. "Tem gente [evangélica]
que até me pede bênção."
Lula foi levado para almoçar
em sua casa em 2002, durante a
campanha presidencial, mas,
segundo ela, ficou só um pouco
e quase não comeu.
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