São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2008

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Polícia retira mais de 400 crianças de rancho de seita

Há suspeita de violência e abuso sexual em propriedade no Texas; líder está preso

Denúncia de uma jovem desencadeou ação policial, na qual foram retiradas 133 mulheres; testemunhas relutam em falar sobre fato

DA REDAÇÃO

A polícia do Texas disse ontem já ter retirado 401 crianças e 133 mulheres do rancho da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, uma seita polígama dissidente da Igreja Mórmon. Policiais tentam, desde ontem, interrogá-las sobre supostos abusos físicos e sexuais ocorridos na comunidade, que vivia reclusa na zona rural, a 6 km do distrito texano de Eldorado.
A seita promove casamentos arranjados entre meninas de até 13 anos e homens mais velhos, o que já lhe rendeu processos anteriores.
Na comunidade perto de Eldorado, as crianças eram educadas em casa e, assim como suas mães, tinham pouco contato com o mundo exterior. Abrigadas provisoriamente em um museu na cidade vizinha de San Angelo, as testemunhas e supostas vítimas relutam em falar com as autoridades.
"Quando crianças vivem em um ambiente recluso e são tão protegidas como essas, é muito difícil fazer com que se abram. Se você puder levá-las a um local neutro, elas ficam mais dispostas a responder com sinceridade", disse Debra Brown, membro de um grupo local de direitos da criança, que representa os pequenos membros da seita nos procedimentos legais.
As autoridades locais dizem que não há estrutura para acolher separadamente cada uma das crianças e que o número de pessoas removidas ultrapassa a capacidade do museu. Dezoito meninas estão sob custódia do Estado, temporariamente abrigadas com famílias substitutas.
A Justiça determinou que a polícia texana entrasse na propriedade após denúncia de uma adolescente, que relatou abusos do marido, 34 anos mais velho. O confronto com moradores, tradicionalmente avessos ao poder público, não se concretizou. Apenas um homem foi preso, acusado de tentar impedir a ação da polícia, que invadiu o rancho no último final de semana.
A polícia busca provas do casamento da garota de 16 anos com Dale Barlow, 50. Documentos judiciais revelam que ela teve um bebê há oito meses, quando tinha 15 anos -abaixo dos 16 exigidos para o casamento no Estado. O casal e o bebê não foram localizados.
Casamentos arranjados são comuns na seita, fundada na década de 30 por membros excomungados da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (mórmon), que rejeita a poligamia desde 1890. A propriedade no Texas foi adquirida em 2004 e atraiu famílias das comunidades fundamentalistas em Utah e no Arizona.
Em 2007, Warren Jeffs, autoproclamado descendente direto de Jesus Cristo e profeta, renunciou à liderança da seita, após ser condenado por cumplicidade em estupro. Responsável por escolher esposas para seus seguidores, ele admitiu ter usado sua influência para induzir uma menina de 14 anos a se casar com o primo de 19.
A defesa alegou que Jeffs foi vítima de perseguição religiosa. A prisão, porém, parece tê-lo mergulhado em um estado de depressão e autocrítica. Gravações mostram que, após um mês de orações e jejum na unidade correcional de Hurricane, Utah, ele questionava seu papel como guia espiritual.
"Não sou o profeta. Nunca fui o profeta e fui enganado pelos poderes do mal", disse ele em conversa com um irmão, gravada por policiais. Ele também revelou ter sido "imoral" com uma "irmã" e uma "filha" há 30 anos -termos que, na seita, tanto podem ter conotação familiar quanto religiosa. Três dias depois, tentou suicídio.


Com "New York Times" e agências internacionais


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