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ELEIÇÕES NA ARGENTINA
Candidato favorito a presidente da Argentina quer Mercosul forte nas áreas social e política, não só econômica
Kirchner defende ação social conjunta
Pablo Cuarterolo - 30.abr.2003/France Presse
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O candidato presidencial Néstor Kirchner em sua sala na Casa de Santa Cruz, em Buenos Aires |
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O candidato presidencial argentino Néstor Kirchner almoça hoje
com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, em Brasília, com o objetivo de propor uma maior integração entre os dois países. Além de
questões econômicas, o peronista
Kirchner quer também criar um
intercâmbio de políticas sociais, o
que diz ser fundamental para recuperar o Mercosul.
Kirchner, 53, governador da
Província de Santa Cruz, é apontado pelas pesquisas de intenção
de voto como grande favorito para vencer o segundo turno das
eleições de 18 de maio contra o
também peronista Carlos Menem. Em sua primeira visita ao
Brasil, Kirchner busca associar
sua imagem à de Lula, uma referência de nova liderança política
na América Latina para os argentinos. Pouco antes de embarcar
para o Brasil, Kirchner conversou
com a Folha.
Folha - O que o sr. busca nesse encontro com o presidente Lula a dez
dias das eleições?
Néstor Kirchner - Não há uma
agenda prévia, mas vamos defender uma posição favorável ao fortalecimento do Mercosul. Também temos uma esperança muito
importante de construir um espaço latino-americano do ponto de
vista não somente econômico,
mas também político. E, novamente, começar a conversar sobre
a adoção de políticas monetárias e
cambiais comuns. É algo em que
estamos avançando. Consideramos que, se Argentina e Brasil
avançarem rapidamente nesses
temas, os outros países do Mercosul irão incorporá-los e, definitivamente, vamos sair dessa debilidade estrutural em que estamos
hoje em relação ao mundo.
Folha - Que propostas para o Mercosul o sr. vai apresentar a Lula?
Kirchner - Queremos um Mercosul equilibrado e negociado não
somente nos planos econômico e
comercial mas também no cultural, no político e no social. É preciso que haja um processo de integração que nos fortaleça, baseado
na identidade cultural e nos laços
sociais que já existem.
Folha - Como isso se daria?
Kirchner - São necessárias uma
coordenação e, quando possível,
uma unificação dos sistemas e
normas. Por exemplo, no que se
refere a assuntos sociais, movimentos de capitais, educação,
transporte e sistemas de comunicação e energia. Um próximo passo seria a criação de um parlamento do Mercosul e de um instituto monetário para a instituição
de uma moeda única. Mas isso leva algum tempo. Proponho ainda
a criação de um instituto social,
que coordenaria planos de saúde
e educação e ação social.
Folha - As pesquisas de intenção
de voto o mostram como favorito.
O sr. já se considera o futuro presidente da Argentina? Isso justifica
sua ida ao Brasil?
Kirchner - Não, de forma nenhuma. Eu respeito muito a vontade
do povo argentino. Espero pelo
dia 18 para que as pessoas votem.
Jamais cometeria o erro de subestimar a decisão dos argentinos.
Mas tenho dito permanentemente que as pessoas terão que escolher entre dois modelos diferentes. Um modelo é a estabilidade
por exclusão social, corrupção,
desocupação, indigência, venda
do patrimônio nacional. O outro
trata de consolidar a estabilidade
com competitividade, inclusão
social, trabalho, produção e um
forte investimento público.
Folha - O sr. tem recebido apoio
de diversos partidos, incluindo setores que sempre combateram o
peronismo. Como vê isso?
Kirchner - Eu aceito com alegria
e generosidade todos os apoios,
desde os radicais [integrantes da
União Cívica Radical] até os esquerdistas e setores independentes e nacionalistas. Quero fazer todos os esforços para ser um bom
presidente e representar um conjunto da sociedade e não ter uma
visão sectária ou partidária.
Folha - Menem fez denúncias de
que houve fraude no primeiro turno das eleições e pediu mais fiscalização. Por isso surgiram rumores
de que poderia renunciar à disputa
no segundo turno...
Kirchner - Eu realmente acredito
que o primeiro turno foi totalmente limpo e creio que não será
diferente no dia 18. Quanto a Menem, é ele quem tem de decidir se
vai ou não disputar o segundo
turno. Não posso decidir por ele.
Folha - Sua visita ao Brasil é de alguma forma um pedido de apoio
do presidente Lula à sua candidatura?
Kirchner - Não. Vou me reunir
com Lula por conta do convite que recebi, do qual me sinto muito orgulhoso. Mas não vou pedir nada.
Folha - Se for eleito, o sr. acha que
isso representará alguma mudança
na forma de fazer política na Argentina?
Kirchner - Sem dúvida. Precisamos acabar com essa coisa de que
quando se cruza a porta da Casa
Rosada [sede do governo argentino] também mudam as convicções. Eu quero manter as minhas.
Não me interessa ser presidente
de qualquer maneira, não vou
abandonar as idéias pelas quais
briguei durante toda a minha vida.
Folha - Como o sr. vai conduzir as
negociações com o FMI?
Kirchner - Queremos pagar a dívida e iniciar o quanto antes o
processo de renegociação.
Folha - O sr. vai se reunir com o
ministro Antonio Palocci?
Kirchner - Não. Eu poderia participar do encontro, mas não quis.
A reunião será entre Palocci e Lavagna [ministro da Economia da
Argentina]. Eu vou ao Brasil como candidato, apenas.
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