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São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2003

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ELEIÇÕES NA ARGENTINA

Candidato favorito a presidente da Argentina quer Mercosul forte nas áreas social e política, não só econômica

Kirchner defende ação social conjunta

Pablo Cuarterolo - 30.abr.2003/France Presse
O candidato presidencial Néstor Kirchner em sua sala na Casa de Santa Cruz, em Buenos Aires


ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

O candidato presidencial argentino Néstor Kirchner almoça hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, com o objetivo de propor uma maior integração entre os dois países. Além de questões econômicas, o peronista Kirchner quer também criar um intercâmbio de políticas sociais, o que diz ser fundamental para recuperar o Mercosul.
Kirchner, 53, governador da Província de Santa Cruz, é apontado pelas pesquisas de intenção de voto como grande favorito para vencer o segundo turno das eleições de 18 de maio contra o também peronista Carlos Menem. Em sua primeira visita ao Brasil, Kirchner busca associar sua imagem à de Lula, uma referência de nova liderança política na América Latina para os argentinos. Pouco antes de embarcar para o Brasil, Kirchner conversou com a Folha.
 

Folha - O que o sr. busca nesse encontro com o presidente Lula a dez dias das eleições?
Néstor Kirchner -
Não há uma agenda prévia, mas vamos defender uma posição favorável ao fortalecimento do Mercosul. Também temos uma esperança muito importante de construir um espaço latino-americano do ponto de vista não somente econômico, mas também político. E, novamente, começar a conversar sobre a adoção de políticas monetárias e cambiais comuns. É algo em que estamos avançando. Consideramos que, se Argentina e Brasil avançarem rapidamente nesses temas, os outros países do Mercosul irão incorporá-los e, definitivamente, vamos sair dessa debilidade estrutural em que estamos hoje em relação ao mundo.

Folha - Que propostas para o Mercosul o sr. vai apresentar a Lula?
Kirchner -
Queremos um Mercosul equilibrado e negociado não somente nos planos econômico e comercial mas também no cultural, no político e no social. É preciso que haja um processo de integração que nos fortaleça, baseado na identidade cultural e nos laços sociais que já existem.

Folha - Como isso se daria?
Kirchner -
São necessárias uma coordenação e, quando possível, uma unificação dos sistemas e normas. Por exemplo, no que se refere a assuntos sociais, movimentos de capitais, educação, transporte e sistemas de comunicação e energia. Um próximo passo seria a criação de um parlamento do Mercosul e de um instituto monetário para a instituição de uma moeda única. Mas isso leva algum tempo. Proponho ainda a criação de um instituto social, que coordenaria planos de saúde e educação e ação social.

Folha - As pesquisas de intenção de voto o mostram como favorito. O sr. já se considera o futuro presidente da Argentina? Isso justifica sua ida ao Brasil?
Kirchner -
Não, de forma nenhuma. Eu respeito muito a vontade do povo argentino. Espero pelo dia 18 para que as pessoas votem. Jamais cometeria o erro de subestimar a decisão dos argentinos. Mas tenho dito permanentemente que as pessoas terão que escolher entre dois modelos diferentes. Um modelo é a estabilidade por exclusão social, corrupção, desocupação, indigência, venda do patrimônio nacional. O outro trata de consolidar a estabilidade com competitividade, inclusão social, trabalho, produção e um forte investimento público.

Folha - O sr. tem recebido apoio de diversos partidos, incluindo setores que sempre combateram o peronismo. Como vê isso?
Kirchner -
Eu aceito com alegria e generosidade todos os apoios, desde os radicais [integrantes da União Cívica Radical] até os esquerdistas e setores independentes e nacionalistas. Quero fazer todos os esforços para ser um bom presidente e representar um conjunto da sociedade e não ter uma visão sectária ou partidária.

Folha - Menem fez denúncias de que houve fraude no primeiro turno das eleições e pediu mais fiscalização. Por isso surgiram rumores de que poderia renunciar à disputa no segundo turno...
Kirchner -
Eu realmente acredito que o primeiro turno foi totalmente limpo e creio que não será diferente no dia 18. Quanto a Menem, é ele quem tem de decidir se vai ou não disputar o segundo turno. Não posso decidir por ele.

Folha - Sua visita ao Brasil é de alguma forma um pedido de apoio do presidente Lula à sua candidatura?
Kirchner -
Não. Vou me reunir com Lula por conta do convite que recebi, do qual me sinto muito orgulhoso. Mas não vou pedir nada.

Folha - Se for eleito, o sr. acha que isso representará alguma mudança na forma de fazer política na Argentina?
Kirchner -
Sem dúvida. Precisamos acabar com essa coisa de que quando se cruza a porta da Casa Rosada [sede do governo argentino] também mudam as convicções. Eu quero manter as minhas. Não me interessa ser presidente de qualquer maneira, não vou abandonar as idéias pelas quais briguei durante toda a minha vida.

Folha - Como o sr. vai conduzir as negociações com o FMI?
Kirchner -
Queremos pagar a dívida e iniciar o quanto antes o processo de renegociação.

Folha - O sr. vai se reunir com o ministro Antonio Palocci?
Kirchner -
Não. Eu poderia participar do encontro, mas não quis. A reunião será entre Palocci e Lavagna [ministro da Economia da Argentina]. Eu vou ao Brasil como candidato, apenas.


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