São Paulo, domingo, 08 de maio de 2011

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O FIM DA CAÇADA

Documento mostra Bin Laden na intimidade

Terrorista morto há uma semana era centralizador, peladeiro e madrugador

Informações foram obtidas pelo FBI junto a um ex-guarda-costas do líder, responsável pelos atentados de 11/9

SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO

No final dos anos 90, Osama bin Laden dirigia movimentados campos de treinamento terrorista no Afeganistão e orquestrava, a partir de sua base em Candahar, os primeiros grandes atentados que acabaram por provocar a morte de milhares de civis inocentes.
Foi o auge da Al Qaeda, uma época em que Bin Laden e seus companheiros viviam dias tranquilos sob a proteção do regime Taleban.
O terrorista era artilheiro nas peladas dos combatentes, acordava cedo, zombava dos assessores que gostavam de conforto e escolhia pessoalmente os trainees aptos a subir na hierarquia do grupo.
Estes detalhes da vida privada de Bin Laden antes de 11 de setembro de 2001 estão num relatório confidencial do FBI (polícia federal americana) que a Folha obteve no Iêmen.
O texto de 73 páginas foi redigido por investigadores americanos semanas após os atentados nos EUA a partir do depoimento de um dos homens que mais conviveram com Bin Laden: Nasser Ahmad Nasser Al Bahri, também conhecido pelo codinome Abu Jendal.
Na época do depoimento (2001), Al Bahri estava preso no Iêmen havia um ano por ter integrado a Al Qaeda como guarda costas e assessor militar de Bin Laden.
As revelações são parte de uma espécie de acordo de delação premiada e tiveram sua veracidade atestada pelo FBI. Al Bahri hoje vive em liberdade vigiada no Iêmen e não pode deixar o país.

ACAMPAMENTO
Al Bahri foi ao mesmo tempo protagonista e testemunha do dia a dia nas entranhas da organização.
Segundo seu relato, a vida em Candahar mesclava disciplina de base militar e agitação de acampamento de verão, com dezenas de mulheres e crianças dos membros da Al Qaeda dividindo espaço com homens armados.
Havia criação de gado e parcelas de terra cultivável.
Bin Laden era chamado de xeque (líder) ou amir (príncipe). Levava uma rotina frugal, feita de orações e gestão dos treinos físicos e das aulas de doutrina aos recrutas estrangeiros.
O terrorista de origem saudita tinha a palavra final sobre todos os assuntos do campo, principalmente os temas ligados a operações.
Explicava que as picapes Toyota eram as melhores para a luta contra os "infiéis" por ser mais fáceis de manobrar em terrenos difíceis.
E batia o martelo sobre os alvos a ser atacados.
Da base afegã surgiram os preparativos para os atentados contra as embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia, que deixaram mais de 200 mortos em 1998.
Bin Laden passava boa parte do tempo livre descansando com os filhos e as quatros esposas numa casa espaçosa, mas sem conforto.
O xeque, de acordo com Al Bahri, mandava degolar carneiros para receber convidados em fartos jantares e presenteava com dinheiro vivo colaboradores que saíam da base para se casar.

TRAJETÓRIA
Ambos cidadãos sauditas de origem iemenita, Bin Laden e Al Bahri se conheceram e ficaram amigos no Afeganistão em 1996. Veterano da guerra na Bósnia e fisicamente forte, Al Bahri logo ganhou a confiança do xeque.
O funcionário diz ter rompido com o chefe em 2000, pouco antes do ataque ao navio de guerra USS Cole, que matou 18 marinheiros americanos no porto de Áden, no Iêmen.
Ele lembra que abandonou Candahar temendo que sua mulher fosse hostilizada pelas três esposas de Bin Laden, que viam no guarda costas o culpado por ter trazido ao Afeganistão mais uma noiva para ele.
Em uma de suas últimas missões pela Al Qaeda, Al Bahri foi ao Iêmen levar o dote e buscar uma jovem de 17 anos. Ao voltar a Candahar, o assessor avisou o chefe que achava a noiva jovem demais para se casar.
Bin Laden teria respondido, segundo o relato, que não sabia da idade da moça, e que pegaria mal devolvê-la à família.


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