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ACADEMIA
Kenneth Maxwell deixa Council on Foreign Relations e acusa ex-secretário de pressionar revista a não publicar carta sua
Rixa com Kissinger afasta brasilianista
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
O historiador e brasilianista
Kenneth Maxwell renunciou ao
seu cargo de diretor de estudos
sobre a América Latina no Council on Foreign Relations (Conselho de Relações Exteriores), um
dos mais importantes centros de
estudos dos EUA, em protesto, segundo ele, a uma interferência do
ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger, que teria impedido a publicação de uma carta
sua na revista "Foreign Affairs",
ligada ao CFR.
Maxwell anunciou sua renúncia
em maio, em cartas ao presidente
do CFR, Richard Haass, e ao editor da "Foreign Affairs", uma
mais respeitadas publicações sobre relações internacionais, James
Hoge.
A "Foreign Affairs" havia publicado uma resenha de Maxwell em
novembro sobre o livro "O Arquivo Pinochet", do historiador Peter
Kornbluh, que trata do golpe que
derrubou o presidente chileno
Salvador Allende, em 1973, e da
participação americana no episódio -à época, Kissinger era o secretário de Estado.
Na edição seguinte, a revista publicou uma carta de William Rogers, que trabalhou sob o comando de Kissinger como secretário
assistente para a América Latina
no período do golpe e que hoje é
vice-presidente de sua empresa
de consultoria -a Kissinger Associates-, em que afirmava que
não há provas concretas da participação americana no episódio.
Kissinger e Rogers são membros do CFR, embora não façam
parte da equipe de especialistas
empregados pela entidade.
Seguiu-se uma réplica de Maxwell, uma tréplica de Rogers, e o
brasilianista, por decisão do editor da revista, não pôde publicar
um texto final de resposta.
Na sua carta de renúncia a Hoge, Maxwell afirma: "Foi deixado
abundantemente claro para mim
[...] que houve intensa pressão sobre você, sobre a "Foreign Affairs"
e sobre [...] o CFR, por parte de
Henry Kissinger e outros, para
encerrar esse debate sobre responsabilidades e o papel do sr.
Kissinger no Chile dos anos 70".
Maxwell diz que a decisão da revista faz parte do "ambiente" dos
EUA pós-11 de Setembro:
"Tive um período feliz e produtivo aqui. Isso tem a ver com a atmosfera em geral do país, que
passou a ser um lugar bem menos
aberto para o debate público".
Ele diz ter sido cuidadoso em
sua resenha: "O que está provado
é que os EUA tiveram participação nas condições que levaram ao
golpe. Fui bastante cauteloso. Essa é a ironia. O golpe foi feito por
chilenos, e disse isso bem claramente no artigo".
Rogers respondeu, em carta à
publicação, afirmando que não há
"smoking gun" (prova definitiva)
para o envolvimento dos EUA na
queda de Allende. Maxwell retrucou dizendo que não era isso que
ele procurava, e reafirmou seu argumento.
Rogers acertou com o editor escrever a última carta, segundo
Hoge, por ter compreendido que
Maxwell insinuava, em sua resposta, que os americanos teriam
tido participação no atentado que
matou Orlando Letelier -que fora chanceler de Allende- em
1976, nos EUA. Maxwell nega e
diz que defendia que os americanos apenas falharam em impedir
assassinatos de opositores aos militares latino-americanos.
"O argumento é que essa foi
uma tragédia que poderia ter sido
evitada. Outros assassinatos de
membros da oposição planejados
pela [Operação] Condor na Europa foram evitados porque os EUA
avisaram os governos em questão", diz o trecho em disputa.
"Eles não poderiam trocar cartas para sempre", disse Hoge à
Folha, explicando que compreendeu que a última resposta de Rogers se referia a apenas um aspecto da carta de Maxwell, e não ao
debate como um todo.
Maxwell diz que em momento
algum foi informado de que havia
o acordo para que aquela resposta
de Rogers fosse a última.
Hoge nega as acusações de que
teria sofrido pressões de Kissinger. "Ele nem sabia da troca de
cartas", disse. Questionado sobre
como poderia saber disso, declarou que ligou para o ex-secretário
há uma semana para comentar o
caso. Hoge diz ainda que recebeu
uma ligação de Peter Peterson,
presidente do Conselho de Diretores do CFR, dizendo que Kissinger havia ficado insatisfeito com a
resenha de Maxwell, mas que isso
não teve nenhuma influência na
sua decisão de encerrar o debate.
A vice-presidente de comunicação do CFR, Lisa Shields, declarou
que ninguém na entidade "pressionou Jim Hoge sobre que artigos publicar".
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