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Relatório detalha seqüestro de suspeitos pelos EUA
Conselho da Europa cita a CIA e implica 14 países europeus; acusados negam
Investigação aponta para abusos de direitos humanos e afirma que acusados de terrorismo eram levados a países que os torturavam
DA REDAÇÃO
Relatório divulgado ontem
pela comissão de direitos humanos do Conselho da Europa
acusa 14 países europeus e uma
dezena de norte-africanos ou
do Oriente Médio de terem integrado, com a CIA- agência
de inteligência americana-
uma rede de seqüestros de supostos terroristas.
Os seqüestrados eram entregues a países onde há prática de
tortura, para interrogatório, ou
levados a prisões americanas
no Iraque, Afeganistão e em
Guantánamo (Cuba).
A investigação foi chefiada
pelo senador suíço Dick Marty.
Ele se queixa das dificuldades
que enfrentou para levantar informações de fontes oficiais e
insinua que os países suspeitos
deliberadamente o boicotaram.
Baseou-se em entrevistas,
planos de vôo de aviões utilizados nas operações e em depoimentos de algumas das vítimas.
O Conselho da Europa não é
um tribunal. O documento será
utilizado para que entidades de
direitos humanos pressionem
os países envolvidos a admitirem a participação nessa rede
clandestina e na violação dos
procedimentos penais que deveriam normalmente orientar
a repressão ao terrorismo.
"Está agora claro que, apesar
de não termos ainda desvendado toda a verdade, autoridades
de muitos países europeus participaram ativamente com a
CIA nessas atividades ilegais",
diz o senador Marty.
"Sem indícios"
Em Washington, o porta-voz
do Departamento de Estado,
Sean McCormack, chamou o
relatório de "prato requentado" e disse não ver "nenhum indício" sólido que dê embasamento às informações.
Em Berlim, um porta-voz da
chanceler Angela Merkel disse
que o governo "examinaria cuidadosamente" as acusações de
envolvimento alemão, que remontam à gestão anterior.
Espanha, Polônia e Romênia
negaram envolvimento, enquanto, em Londres, o premiê
Tony Blair afirmou que o relatório "nada acrescenta".
Resumidamente, o documento acusa a Polônia e a Romênia de manter prisões clandestinas operadas em conjunto
com a CIA. Outros países -como Alemanha, Turquia, Espanha, Chipre e Azerbaijão foram
utilizados como escalas em
vôos no transporte de seqüestrados. A Suécia, a Bósnia, o
Reino Unido, a Macedônia, a
Alemanha e a Turquia entregaram suspeitos aos americanos.
Há, por fim, países que recebiam, interrogavam e torturavam os presos. Entre outros,
são apontados o Egito, a Argélia, a Jordânia, o Paquistão, o
Afeganistão e o Iraque. Irlanda
e Portugal também são citados.
O Conselho da Europa, que
determinou a investigação, é
visto no continente como o colegiado mais atento e sensível a
questões der direitos humanos.
Foi criado em 1949 e é hoje integrado por 46 países.
As 67 páginas do relatório de
Dick Marty não entram no mérito, nos 17 casos citados, dos
vínculos dos suspeitos com o
terrorismo islâmico. Cita caso
de inocentes, como o alemão de
origem libanesa Khaled Masri,
seqüestrado na Macedônia,
transportado ao Afeganistão e
libertado no ano seguinte.
Mas há também o caso de
Mohammed Zammar, alemão
de origem síria, mais que certamente ligado à Al Qaeda.
Esses seqüestros também
têm sido investigados pelo Parlamento Europeu. As vítimas,
segundo estimativas, seriam
em número três vezes maior
que o agora anunciado.
As alegações contra a CIA
também levaram a Comissão
de Inteligência do Senado americano a aprovar recentemente
um dispositivo que obriga o
chefe da Inteligência do país,
John Negroponte, a prestar informações sobre prisões clandestinas ao Congresso.
O senador suíço dedica dois
parágrafos de seu relatório a
negar que esteja empenhado
num exercício de antiamericanismo. Afirma que "os Estados
Unidos são uma grande democracia", por mais que escalões
de seu governo tenham "perdido a dimensão daquilo que é juridicamente aceitável na guerra ao terrorismo".
Com agências internacionais
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