São Paulo, segunda-feira, 08 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Abstenção recorde marca descrença na UE

Comparecimento na eleição para o Parlamento Europeu foi menor do que em 2004; nos dois casos, nem metade dos eleitores votou

Comissária da UE reconhece falta de "conexão" entre instituições do bloco e cidadãos comuns, que questionam sua eficácia

DA REDAÇÃO

A abstenção recorde registrada ontem ao final do gigantesco processo de voto continental para o Parlamento Europeu demonstrou falta de confiança dos eleitores na instituição e na própria União Europeia, especialmente no modo como ela vem lidando com a crise econômica.
Cerca de 43% dos 375 milhões de eleitores compareceram às urnas entre a última quinta-feira e ontem, proporção ainda menor do que o recorde anterior de baixa participação -as eleições legislativas europeias de 2004, com 45,5% de comparecimento.
A análise na imprensa europeia ontem era a de que os eleitores não veem a UE como capaz de resolver seus problemas imediatos, sobretudo a crise econômica mundial, que atinge o rico continente com força.
Embora venha ganhando importância crescente desde sua primeira versão, de 1952, o Parlamento Europeu ainda é um Legislativo com limitações.
Na atual hierarquia da UE, ele perde em número de iniciativas legislativas para a Comissão Europeia, formada por 27 comissários nomeados; eles são mais ou menos como ministros. E perde para o Conselho Europeu, formado pelos presidentes e primeiros-ministros dos Estados-membros.
A comissária responsável pelas "relações públicas" do bloco com os cidadãos, Margot Wallstrom, reconheceu ontem "o mau resultado" da participação nas eleições. Segundo ela, é preciso trabalhar mais para mudar a percepção de que a UE está alienada de seus cidadãos.
Um dos problemas, para Wallstrom, é a falta de ênfase dos partidos e governos locais em temas europeus, mesmo em eleições gerais para o bloco. "Não ajuda conduzir esses pleitos europeus tendo como base agendas nacionais", ela disse.
"Temos algumas lições para tirar [do baixo comparecimento]; as instituições europeias e os Estados membros têm que se conectar melhor com seus cidadãos." Entre muitos eleitores, há também a percepção de que a UE é bem mais um obstáculo do que uma solução aos problemas cotidianos dos cidadãos do continente.
Na Itália, por exemplo, o primeiro-ministro direitista Silvio Berlusconi culpa o euro pela inflação e associa as normas comunitárias sobre a imigração -a seu ver muito frouxas- à presença crescente de cidadãos ilegais, que seu governo associa ao aumento da criminalidade.
O baixo comparecimento também contribuiu para o crescimento do voto em pequenos partidos, tanto os da extrema esquerda quanto os da extrema direita.
"Esperamos que as pessoas mantenham o bom senso e o equilíbrio e não vejamos os partidos extremistas tendo ganhos muito grandes", disse o ex-presidente da Letônia, Vaira Vike-Freiberga, em um debate sobre a UE em Bruxelas.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Centro-direita vence eleição europeia
Próximo Texto: Votação: Local é fechado para "afilhada" de Berlusconi
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.