São Paulo, segunda-feira, 08 de junho de 2009

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ARTIGO

Contra crise, Europa prefere capitalistas

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um tanto cabisbaixo, Manuel Valls, dirigente socialista, espanhol naturalizado francês, diagnosticou o que era mais ou menos óbvio, ao fim da noite de ontem, com o nítido fortalecimento dos partidos conservadores nas eleições para a renovação do Parlamento Europeu.
"A direita conseguiu transmitir a imagem de eficiência para tirar a Europa da crise global, enquanto a esquerda emperrou e não conseguiu renovar sua linguagem e propostas."
Em tese, as eleições europeias são 27 processos eleitorais simultâneos em cada país do bloco regional. Cada um seria um caso de importância singular se a maré conservadora não tivesse sido tão eloquente.
É como se os europeus acreditassem que os defensores do livre mercado estão mais qualificados que a esquerda para enfrentar uma recessão que o mercado desregulamentado criou. Vejamos alguns casos.
Os socialistas perderam na França 13 eurodeputados. Receberam apenas 16,8% dos votos, praticamente empatando com os 16,2% dos ambientalistas. Ruiu a tese de que o declínio do PS francês era uma questão de liderança. A substituição da despreparada Ségolène Royal por Martine Aubry, nova dirigente do partido, não reverteu a tendência ao declínio.
Enquanto isso, a UMP, do presidente Nicolas Sarkozy, ficou com 28% dos votos e deverá enviar a maior bancada francesa ao plenário europeu.
Na Itália, a esquerda acreditava que os escândalos pessoais acabassem por prejudicar o primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Mas nem seu suposto "affaire" com uma napolitana de 18 anos e a divulgação de fotos de mulheres nuas em sua casa de campo o tiraram da dianteira na apuração. Seu grupo terá de 39% a 43% dos votos -as urnas fecharam no país às 22h-, contra 25% a 31% para o Partido Democrático, de esquerda.
O caso da Espanha é também sintomático. Os socialistas do primeiro-ministro José Luiz Zapatero ficaram com 38,1% dos votos e fizeram 21 deputados, dois a menos que o Partido Popular, de direita, que recebeu 42,3% dos votos. Os partidos espanhóis fizeram campanha como se travassem a disputa pelo Parlamento interno. O que colocou na berlinda o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), responsabilizado pela recessão e pelo altíssimo desemprego.
No Reino Unido, antes da divulgação dos resultados, o "Times" e o "Guardian" diziam haver o risco de os trabalhistas do premiê Gordon Brown sofrerem a mais fustigante derrota eleitoral do pós-Guerra, com a possibilidade de amargarem a quarta colocação.
Na Alemanha, a coligação conservadora da chanceler Angela Merkel, recua em relação ao pleito de 2004. Mas faz 38 eurodeputados, contra 21 para o Partido Social Democrata, de centro-esquerda.
A abstenção em ligeiro crescimento não exprime maior desinteresse pela política. Exprime bem mais a ideia de que a UE, além de afetar pouco a vida de cada um, é incapaz de conter a crise na região.

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